Capítulo 4 – Versos Entre Espadas

Aria usava um manto escuro por cima do vestido exageradamente elegante, andando pelos corredores como uma ladra de novela ruim.

— “Discrição”, Lyna disse… mas como é que eu vou ser discreta com esse tanto de babado escondido debaixo do manto?! — resmungava, tropeçando pela terceira vez.

Graças a uma distração da criada, ela havia escapado dos aposentos. O destino? A biblioteca real.

Segundo Lyna, a tal bibliotecária misteriosa ficava nos andares subterrâneos, longe dos olhos da corte. Lugar perfeito para encontrar respostas... ou morrer tentando.

Ela se esgueirou por um corredor lateral, evitando dois guardas, até finalmente chegar à porta de madeira escura com inscrições estranhas. Tentou abrir devagar, mas...

— CREEEEC — a porta gemeu como se gritasse: “INTRUSA AQUI!”

Aria congelou.

— …Nada suspeito, tudo certo… só uma moça perdida no castelo gigante, normal — sussurrou, entrando rápido.

A biblioteca era imensa. Estantes que tocavam o teto, escadas de ferro, velas flutuando em suportes mágicos. Tudo parecia pulsar com conhecimento antigo.

Mas antes que pudesse dar um passo, ouviu um sussurro:

— "A dama de prata, perdida entre sombras, com olhos de relâmpago e alma de fogo…"

Aria virou-se com um pulo.

Um jovem de armadura leve estava encostado numa coluna, com um livro nas mãos. Cabelos castanhos desalinhados, um olhar sonhador e... um sorriso gentil.

— Quem é você?! — perguntou Aria, já preparando uma desculpa qualquer.

— Guarda Kaidos, ao seu serviço. Mas nas horas vagas, apreciador de poesia esquecida e visitas misteriosas. — Ele fechou o livro com uma reverência exagerada.

Aria arregalou os olhos.

— Kaidos?! — ela reconheceu o nome. Um guarda secundário que ajudava a protagonista original nos capítulos seguintes. Mas... agora ele estava ali. Com ela.

— Não costumo ver nobres vagando sozinhas por aqui. Está fugindo de alguma cerimônia de chá?

Ela cruzou os braços.

— E você costuma espiar todo mundo que entra aqui?

— Apenas as figuras interessantes. E a senhorita, convenhamos… se destaca um pouco.

Aria suspirou, tentando parecer mais confiante do que se sentia.

— Estou procurando alguém. A bibliotecária.

Kaidos arqueou uma sobrancelha.

— A Senhora Marentha? Ela só aparece quando quer. Dizem que os livros a obedecem mais do que os guardas do Imperador.

— Então... ela realmente existe?

— Sim. E, se tiver sorte, ela vai achar você antes que os guardas o façam. Porque, se me permite dizer… você está com cara de quem fugiu de algum lugar importante.

Ela revirou os olhos.

— Pode guardar o julgamento. Só quero respostas.

— E talvez eu possa ajudar — ele disse, inclinando a cabeça. — Conheço alguns caminhos ocultos por aqui. Em troca, só peço uma coisa.

Aria estreitou os olhos.

— Qual?

Kaidos sorriu.

— Diga o seu nome. O verdadeiro.

Aria hesitou. Pela primeira vez, sentiu que alguém via através da personagem.

— É… Aria. Só Aria.

Kaidos assentiu.

— Então, Lady Aria, me siga. Tenho o pressentimento de que sua história... está só começando.

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