Yuri

Eu amo meu trabalho, sei que para muitos uma vida no submundo é mais como sobreviver do que viver, mas eu amo o perigo, a adrenalina e a sensação de estar vivo depois de cada missão.

Ser o líder, o Don de uma máfia de assassinos de aluguel é algo realmente perigoso. Nós sempre estamos na cola de alguém e por consequência sempre tem alguém na nossa cola.

Aos quarenta e cinco anos eu comando uma equipe de duzentos e cinquenta assassinos cruéis e bem treinados no submundo. Vem pessoas de longe contratar nossos serviços aqui em Moscou. Somos bem recomendados no mundo todo.

Minha máfia se denomina Lótus Negra, meu vulgo “Death” não é atoa, tenho pouco mais de vinte diários com nomes, a hora, a data, o mês e ano que matei cada um dos escolhidos que foram direcionados a mim.

— Yuri, onde está Maksim? — Meu pai pergunta pelo meu irmão e subchefe da minha máfia.

— Em uma missão no Kênia, pai. Sabe que quando estamos nessas missões não podemos atender ao telefone. Tentou ligar para ele mesmo sabendo que não pode?

— Que missão? Como assim? Seu irmão tem apenas quinze anos e você também. Pare de se esconder, Maksim, eu estou te chamando. — Ele olha para os lados à procura do meu irmão, às vezes eu esqueço que meu pai está com Alzheimer.

Ele foi diagnosticado com Alzheimer há vinte anos, meu irmão e eu tivemos que assumir de vez a máfia quando descobrimos. Maksim e eu amávamos sair em missões com o nosso pai, isso acabou quando a mente dele resolveu não funcionar direito.

Piores são os dias que ele procura pela minha mãe, ela foi assassinada um mês depois que descobrimos a doença do meu pai. Ele sempre esquece que a perdemos.

Consegui minha vingança, mas isso não a trouxe de volta e também não aliviou nossa dor. Temos que viver um dia de cada vez cuidando do nosso pai para que o mesmo não aconteça com ele, por isso sempre que um sai numa missão o outro fica em casa para cuidar do nosso pai.

Maksim é oito minutos mais novo que eu, nascemos fortes e saudáveis de parto normal. Minha mãe sempre foi amorosa e dedicada, mesmo que meu pai tenha comprado ela após descobrir que uma jovem virgem iria ser leiloada no submundo.

Meu pai tinha a intenção de comprá-la e devolver para a família dando uma ajuda financeira para que ela e sua família sumissem no mundo para que aquilo não voltasse a acontecer com ela, mas meu pai descobriu que a família dela tinha vendido ela por ganância em dinheiro.

Eles se apaixonaram e se casaram meses depois. Tiveram uma boa vida juntos, não é justo um amor tão lindo ser interrompido como o deles foi.

— Por que você está com essa aparência, Yuri? Você não é adulto ainda? — Ele pergunta com os olhos cheios de lágrimas.

— Pai, vem comigo, precisa tomar seus remédios.

Com essa vida que levamos acabamos não tendo uma família, coisa do tipo mulher e filhos, não temos tempo para se apaixonar, conhecer alguém e futuramente se casar. Temos casos de uma noite para satisfazer nossos desejos e seguimos nossa vida solitária.

Quinze dias depois meu irmão voltou vitorioso da missão. O nosso cliente X encomendou a morte de um cartel inteiro, meu irmão levou com ele trinta dos nossos melhores atiradores e fez a limpeza com maestria.

— Brother, não vai acreditar no que aconteceu nessa missão. — Maksim fala animado.

— Pelo visto algo muito bom, conta logo.

— Encontrei um figurão americano que quer os nossos serviços num dia importante para ele. Só que ele exigiu a presença de nós dois.

— Que conversa é essa, Maksim? Como assim um estranho sabe quem somos?

— Vou explicar, ele passou o outono desse ano aqui na Rússia. Lembra da festa do Dmitri? Ele estava lá e o próprio Dmitri contou para ele o que fazemos e quem somos.

— Dmitri não faria isso se esse tal homem não pertencesse a esse mundo. Quem é esse homem?

— Ele tem ligação com muitas máfias, ele atua no meio da política e tem muitos inimigos também. Precisa de ajuda com uma máfia que o quer morto, mas antes disso disseram que vão matar os filhos e a esposa dele primeiro.

— Entendi, com nós dois no jogo as chances dele conseguir se livrar desse problema sem chamar a atenção da mídia para ele são altas.

— É isso aí, sei que precisamos levar nosso pai com a gente pra lá. Estou esperando seu aval para alugar uma mansão e levar o pessoal necessário para proteger nosso pai enquanto estivermos fora.

— Quer mesmo ir para os Estados Unidos se enfiar nessa missão que vai nos dar um grande trabalho?

— Quero fazer algo ao seu lado, Brother! Tem mais de um ano que não trabalhamos em algo juntos, eu só quero esquecer que as nossas vidas são frias e monótonas.

— Tudo bem, então vamos para os Estados Unidos.

Meu irmão me olha e abre um enorme sorriso, conto para ele como nosso pai se comportou e o quanto chamou por ele enquanto esteve fora. Maksim me deixa na sala e vai até o quarto do nosso pai.

Dentro de mim sinto algo iluminar, uma certa esperança de algo bom acontecer. Será que ir para os Estados Unidos é algo bom?

Maksim prepara tudo como prometeu, levamos conosco a senhora Annah. Ela nos ajuda com nosso pai quando precisamos sair por algumas horas.

Assim que nosso avião pisa em solo americano me sinto ansioso. Agora não tem mais volta, já aceitamos o trabalho, já recebemos os setenta por cento do pagamento e precisamos executá-lo.

— Pronto para pegar umas gostosas americanas? — Maksim pergunta um pouco brincalhão.

— Trabalho primeiro, lazer depois… mas eu topo.

Acabamos rindo e empurrando um ao outro, se eu não tivesse o meu irmão acho que seria muito infeliz nessa vida. Seguimos para a mansão que o meu irmão alugou, a vida aqui nos Estados Unidos é mais corrida que na Rússia.

Muitas pessoas para todos os lados, correndo, andando, de moto, de carro, parece que a vida vibra mais aqui. Vai ser interessante passar um tempo aqui.

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