A Responsabilidade do Comando

Arthur Castellazzo Ferrari estava sentado à mesa de uma sala austera, com uma vista imponente das ruas movimentadas lá fora. O peso de sua posição estava começando a se manifestar em cada um dos seus gestos. O novo líder da LME estava pronto para assumir, mas a responsabilidade ainda lhe parecia esmagadora. Ele olhou para os papéis e documentos espalhados sobre a mesa, organizando mentalmente as prioridades do dia.

Os primeiros dias como líder eram sempre os mais difíceis. Ele sabia disso. E o peso da decisão de sua família, especialmente de Mateus e Luciana, em confiar nele, agora pesava mais do que nunca. Arthur não era mais apenas o filho de Mateus; ele agora era o homem que tinha que tomar decisões que afetariam milhares de vidas. Não só os membros da sua família, mas todos aqueles que estavam ligados à LME.

A porta da sala se abriu suavemente, e Enrico entrou, com sua postura firme, como sempre. Ele era o braço direito de Mateus por anos e agora, ao lado de Arthur, seria o responsável por ajudar o novo líder a se adaptar à sua nova posição.

— Como vai, chefe? — Enrico perguntou com um sorriso discreto, mas respeitoso.

Arthur olhou para ele e deu um pequeno sorriso, que não escondia o turbilhão de emoções que ele estava tentando controlar.

— Não esperava que fosse tão difícil, Enrico. Não é só sobre comandar os negócios; é sobre manter o controle de tudo... e de todos. — Arthur respondeu, o peso de sua fala evidente.

Enrico assentiu, com um olhar sério, compreendendo o dilema de Arthur.

— Não é fácil, mas você já tem o que é preciso. Você tem o sangue da família Castellazzo Ferrari nas veias. Isso é algo que ninguém pode ensinar. Você aprendeu com os erros do passado, e agora é hora de aplicar o que aprendeu.

Arthur observou Enrico por um momento, reconhecendo a verdade em suas palavras. Ele sabia que, apesar da dor e dos erros do passado, havia forças dentro dele que o prepararam para aquele momento. Mas ele ainda sentia falta da orientação de seu tio, do poder que Mateus exerceu sobre a LME e do caminho sólido que ele havia traçado. Arthur não queria decepcioná-lo, nem à sua família.

— O que temos de pendente? — Arthur mudou de assunto, tentando focar nas tarefas que estavam à sua frente.

Enrico pegou alguns papéis da pasta e colocou sobre a mesa.

— A situação com os grupos rivais está cada vez mais tensa. E há algumas pendências com os acordos internacionais. O seu tio sempre foi muito bom em manter tudo sob controle, mas agora as coisas podem ser mais desafiadoras. A estrutura da LME é sólida, mas precisamos garantir que os antigos aliados permaneçam fiéis. E, claro, as ações precisam ser tomadas com precisão.

Arthur observou os papéis, já ciente de que não teria descanso. A LME, com sua vasta rede de negócios, era um mundo de tensão constante, e ele agora tinha que estar preparado para qualquer reviravolta.

— E as alianças? Como estamos com os outros grupos? — Arthur perguntou, procurando mais informações.

Enrico foi direto ao ponto, com a experiência que só os anos poderiam trazer.

— O Comando Vermelho e o Morro da Maré estão em silêncio por enquanto. Mas sabemos que qualquer falha em nossa gestão pode ser vista como uma oportunidade por eles. Por outro lado, os cubanos , com a morte do antigo chefe, estão começando a mostrar interesse. Sua liderança será observada de perto.

Arthur sentiu um peso maior ainda sobre seus ombros. Não era apenas o comando da LME o que estava em jogo, mas a paz instável com os outros grupos mafiosos. Ele precisava garantir que os aliados continuassem com ele e que as rivalidades não tomassem o controle.

— Entendi. — Arthur respondeu com um tom resoluto. — Vou me reunir com os líderes de cada facção pessoalmente. Não vou esperar que qualquer um de nós seja desafiado pela inatividade. Quero ação e respeito imediato.

Enrico sorriu levemente, impressionado com a determinação de Arthur. Ele sabia que o novo chefe estava pronto para liderar, mas também sabia que o caminho seria árduo.

— Eu vou preparar tudo, chefe. Assim que você se sentir pronto, podemos iniciar as conversas.

Arthur assentiu, mas, antes de se levantar, teve um pensamento que o assombrava.

— E o casamento... — Ele murmurou para si mesmo, sem olhar diretamente para Enrico.

Enrico levantou uma sobrancelha, percebendo a preocupação nos olhos de Arthur.

— O casamento é uma parte importante do que você agora representa. O legado da LME exige uma noiva, mas isso não significa que você precise se apressar. Lembre-se de que a verdadeira força vem da sua liderança, não apenas das alianças externas.

Arthur suspirou profundamente. Ele não queria entrar em um casamento sem propósito, mas a exigência era clara. Ele precisaria fazer isso, e logo. No entanto, ele sabia que um casamento por obrigação não era o que ele buscava. O amor, a parceria, sempre foram valores que ele apreciou, mas agora ele se via sendo forçado a colocar isso de lado, em nome da LME.

— Eu vou encontrar uma maneira de fazer isso. Não será uma escolha fácil, mas farei o que é necessário. — Arthur respondeu, mais para si mesmo do que para Enrico.

Enrico assentiu, demonstrando respeito pela decisão de Arthur.

— O caminho não será fácil, mas você tem todo o nosso apoio, chefe. Se precisar de algo, sabe onde nos encontrar.

Arthur agradeceu com um aceno, e Enrico saiu da sala, deixando Arthur sozinho com seus pensamentos. O novo líder da LME olhou para a janela, observando a cidade lá fora. Ele sabia que sua vida estava mudando para sempre. Ele tinha o poder, mas também as dúvidas, os medos e as expectativas a serem atendidas.

O relógio de Luigi ainda estava em sua mão, e Arthur o olhou com uma sensação de saudade. Seu irmão, que havia se afastado para encontrar a paz, agora parecia mais distante do que nunca. Arthur sentiu um vazio, sabendo que não poderia contar com ele da mesma forma. O futuro que ele agora construía estava sendo feito sozinho, e isso o assustava.

O que Arthur sabia, no entanto, era que ele tinha uma responsabilidade imensa nas mãos, e não poderia falhar. Ele não poderia desistir, mesmo que a carga fosse insuportável. Ele tinha que seguir em frente, e fazer tudo o que fosse necessário para manter a família unida, o legado intacto, e a LME funcionando.

E, talvez, ao longo do caminho, ele pudesse também encontrar algo mais: alguém para compartilhar tudo isso.

Continua...

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