Clara: Casamento por Contrato
— Com licença — um jovem de terno preto olha diretamente para ela — estou aqui para realizar a entrevista.
— Claro, por favor, sente-se. Tenho trinta minutos.
— Obrigada — Clara se senta sobre a cadeira em frente à mesa de Miguel, pega uma pasta de sua bolsa e retira a folha onde estão escritas suas perguntas — Quantos anos tem?
— Não sabe minha idade? — A pergunta a deixa envergonhada, pois embora Miguel seja um homem rico e conhecido, ela não é o tipo de garota que se importa com esses tipos de pessoas. A falta de resposta dela traz a certeza de que realmente ela não conhece nada sobre ele — Vinte e sete anos.
— Sempre foi sua vontade herdar o negócio da família ou já teve vontade de fazer outro tipo de serviço?
— Sempre foi minha vontade herdar os negócios da família, não vejo por que começar algo do zero sem a certeza de lucro.
— Então, não faz por amor?
— Amor não ganha vida, ganha? — Miguel, em todo momento, mantém seu ar intimidador, porém Clara respira fundo tentando tomar o controle da situação.
— Acredito que o amor é uma das poucas coisas que levamos após a morte — a resposta de Clara, embora simples, despertou o interesse de Miguel ao notar que, mesmo intimidada, ela se impôs.
— É mesmo? O que mais podemos levar com a gente? — A pergunta pegou ela no flagra, a garota mordeu o canto do lábio pensando em uma resposta.
— Conhecimento, caráter são outras das coisas que não se deixam após a morte.
— Tem razão, é uma ótima forma de se pensar. O que você estuda?
— Desculpa, preciso aproveitar o máximo dos minutos. O senhor investe bastante em tecnologia, qual sua opinião sobre as funções que serão substituídas pela tecnologia?
— Irei dar a você o tempo que for necessário, pode ser? — Mais uma vez, a garota foi pega desprevenida sem saber o que responder.
— Pode ser.
— Você consegue em cinco minutos defender a sua função dando um motivo para não ser substituída por uma máquina? — o seu coração disparou, ela parou por um minuto tentando pensar em uma resposta.
— Não?
— Estou pensando, espera — Pela primeira vez alguém que não é seus pais o fez obedecer, neste momento ele teve a certeza de que não se trata de uma pessoa qualquer — No momento, ainda não exerço uma função profissional, mas minha escolha de vida é a Psicologia. Acredito que, por mais avançada que seja, nenhuma máquina pode substituir a complexidade da experiência humana. A inteligência artificial pode processar dados, reconhecer padrões e até simular respostas emocionais, mas ela não sente de fato. Não conhece a dor, a alegria, o medo ou o amor — e é justamente essa vivência que dá profundidade ao cuidado psicológico.
— Mas você não pode misturar emoções pessoais com a prática clínica...
— Concordo, o trabalho psicológico exige ética, técnica e equilíbrio emocional. No entanto, isso é muito diferente de não sentir nada. A empatia genuína nasce da capacidade de se reconhecer no outro, de entender suas dores porque, de alguma forma, já se viveu algo parecido. Um robô pode repetir frases empáticas, mas não compreende verdadeiramente o que está por trás delas. É como tentar descrever a morte sem nunca ter vivido a vida. A tecnologia pode ser uma aliada, mas não deve ser confundida com aquilo que é insubstituivelmente humano.
— Parabéns, você uma moça muito inteligente.
— Obrigada.
— Respondendo sua pergunta. Infelizmente, o mundo gira em torno do dinheiro. Sem ele, nada do que vivemos hoje seria possível, pois faltaria motivação para exercermos nossas funções. Nós criamos, e vocês consomem da mesma forma que trabalham para nós, apenas para terem condições de comprar o que produzimos. Se trabalho com tecnologia, preciso de insumos e de agilidade, afinal, "tempo é dinheiro". Se for necessário deixar pessoas sem função para que outras nos gerem mais lucros, então assim será — Clara suspirou profundamente, ainda sem acreditar nas palavras que acabara de ouvir.
— Você está dizendo que pessoas podem passar fome e isso não te incomoda, desde que seu dinheiro aumente? E ainda revela isso para uma estudante universitária?
— E qual o problema? Quanto antes vocês aprenderem, mais estarão preparados para evitar a dor no futuro — ela morde os lábios e balança a cabeça afirmativamente. — Por que morde tanto os lábios?
— É uma mania que tenho desde a adolescência — Miguel não pode deixar de continuar a olhar para os lábios da garota.
— Interessante... o que mais você quer me perguntar?
— Chefe, com licença, está na hora da reunião — avisou a secretária, interrompendo.
— Cancele. Ainda não terminei aqui — respondeu ele, sem desviar o olhar. A secretária empalideceu, sem saber exatamente o que fazer.
— Não, está tudo bem. Acredito que já terminamos por aqui. Já sei o suficiente — disse Clara, com um leve sorriso.
— Tem certeza? — perguntou Miguel, com um ar decepcionado.
— Absoluta. Obrigada pela atenção, senhor — ela se levantou, recolhendo suas coisas.
— Se precisar de mim, é só chamar. Pegue meu número com a secretária.
— Obrigada — respondeu ela, virando-se para sair, enquanto ele a observava deixar a sala.
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Atualizado até capítulo 57
Comments
Tania Cassia
cair aqui nessa história e vou ler parece interessante que capítulo maravilhoso a história é bem escrita 😀😀
2025-05-31
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Marly G Vieira
autora muito inteligente sabe realmente o que escreve tem uma imaginação privilegiada.
2025-05-30
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Lúcia Regina Da Silva henrice
é parece uma boa história, estou gostando
2025-05-30
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