Visitas

O sol entrou tímido pelas frestas da cortina, aquecendo de leve meu rosto. A primeira coisa que me veio à mente foi o beijo na varanda na noite anterior. Intenso, real, um tipo de loucura que fazia todo sentido agora. Parecia insano se entregar tão rápido… mas era exatamente essa insanidade que eu queria cometer. Com ele. Com Ethan.

Abri os olhos devagar e senti algo leve na beirada da cama. Um sorrisinho pequeno se formou quando vi Amélia ali, sentada com as perninhas balançando.

— Tio Ethan e tio Dilan não tão aqui… — ela disse com os olhinhos curiosos. — E eu tô com fome. Quero panquecas.

Ri, puxando-a com carinho para o meu lado, a envolvendo num abraço gostoso.

— Panquecas, hein? Mas antes… já escovou os dentinhos, mocinha?

Ela murchou um pouquinho os ombros, fazendo biquinho.

— Ainda não…

Levantei com ela no colo e fomos até o banheiro da suíte. Havia algumas escovas de dente novinhas por ali, provavelmente pensadas por eles para quem estivesse de passagem. Peguei uma azulzinha para ela e uma branca para mim.

Enquanto escovávamos os dentes e eu tentava fazer uma trança rápida no cabelo fino de Amélia, a porta se abriu de repente com um baque leve.

Scarlet entrou com o rosto assustado, o olhar perdido… até que pousou os olhos na filha.

— Mãe! — Amélia correu até ela.

Scarlet respirou fundo, abraçando a menina com força, os olhos marejados.

— Você tá bem? — perguntei baixinho, me aproximando.

Ela assentiu, engolindo em seco.

— Só um pesadelo… — murmurou, e mesmo sem dizer muito, eu entendi. As marcas estavam mais fundas na mente dela do que no corpo.

— Vamos tomar café. As três — falei com delicadeza, e caminhamos juntas até a cozinha.

Enquanto Scarlet se sentava no balcão, falando com alguém no telefone — pela forma firme e direta, imaginei ser a advogada — eu fiquei com Amélia preparando panquecas. Ela queria mexer a massa, contar quantos minutos tinha que virar e até cantar a musiquinha da cozinha da escola.

Meu celular vibrou no bolso. Sorri quando vi o nome de Angela na tela.

— Alô? Oi, Angela!

Conversamos rápido, e antes de desligar perguntei, lançando um olhar de canto para Scarlet:

— Você acha que o Ethan se chatearia se eu trouxesse alguém para cá?

Scarlet me olhou por cima do ombro e sorriu como quem dizia “sério que você tá perguntando isso?”

— Eva, ele provavelmente vai pedir para trazer todo mundo. Manda vir.

Sorri e passei o endereço a Angela.

Meia hora depois, a porta foi tocada e eu corri para atender. Amélia desceu do banquinho e Scarlet ainda falava com a advogada. Quando abri a porta, lá estava ela — Angela, com aquele jeitinho calmo de sempre — e ao lado dela, alto, tenso, os olhos queimando como fogo, Liam.

Ele entrou como um furacão contido, os olhos vasculhando o ambiente até encontrarem Scarlet.

O tempo congelou por um segundo.

Scarlet virou lentamente, e ao vê-lo, se paralisou. Os olhos dele desceram pelo corpo dela… e então, se prenderam.

As marcas.

Ele não precisava perguntar. Estavam ali. No rosto, no pescoço, nos braços.

Liam cerrou os punhos, a mandíbula trincada. Eu nunca o tinha visto assim. Ele não era mais o menino doce que Scarlet descrevia — ele era um homem agora. E carregava uma fúria devastadora dentro do peito.

— Ele fez isso com você? — ele perguntou, a voz baixa, como um trovão prestes a romper o céu.

Scarlet hesitou por um momento, respirando com dificuldade, como se aquele reencontro a desequilibrasse mais do que qualquer pesadelo.

Mas eu vi. Nos olhos dos dois. A ligação. A dor. A saudade.

O que eles sentiam um pelo outro ainda estava ali.

E agora… tudo estava prestes a mudar.

— Amélia, fica com a titia, a mamãe vai falar com esse príncipe aqui tá bom? — ela falou para a filha que aparentava receio com homens que não conhecia, provavelmente algum reflexo das agressões que via o pai fazendo.

Eles seguiram, mas antes um abraço apertado em Angela e um sorriso de alívio, ela sabia que Amélia estava em boas mãos.

Angela me abraçou apertado assim que Liam e Scarlet se afastaram para conversar a sós. A tensão ainda pairava no ar, mas havia algo reconfortante naquele reencontro inesperado.

— Você tá bem? — ela perguntou baixinho, como se pudesse sentir tudo que eu estava segurando.

Assenti com um sorrisinho cúmplice e encostei a cabeça no ombro dela.

— Eu beijei ele, Angela… — confessei num sussurro, quase como uma adolescente contando um segredo.

Ela se afastou só o suficiente para me encarar com os olhos arregalados.

— Você… o Ethan?

Antes que eu pudesse confirmar com palavras, uma risadinha leve veio da nossa lateral.

— Eba! O tio Ethan vai namorar! — Amélia comemorou, pulando animada como se aquilo fosse a melhor notícia do mundo.

Angela riu junto comigo, os olhos marejando de carinho enquanto abaixava para se aproximar da pequena.

— Vai nada, mocinha — brinquei, beliscando de leve a barriga de Amélia, que se contorcia rindo. — Ele ainda nem pediu permissão para você, que é a princesa da casa.

— Eu deixo se ele for legal com você — ela respondeu séria, e o jeitinho cuidadoso dela me tocou fundo.

Angela nos observava com um brilho nos olhos, como se estivesse absorvendo tudo.

— Eva, eu juro que nunca imaginei o Ethan… assim, com você. Mas agora faz sentido. Tanta coisa mudou desde que ele foi à empresa do pai pedir demissão, ele resolveu mudar por você, imagina o quão real foi a conexão de vocês.

Fiquei em silêncio por um instante, sentindo o coração aquecer com aquelas palavras. Não era só sobre atração. Era algo maior, algo que me fazia sentir vista de uma forma nova.

Alguns minutos depois, Scarlet e Liam voltaram para a cozinha. Ela tinha os olhos levemente vermelhos, mas havia algo de diferente em sua postura… mais leveza, talvez. E Liam caminhava ao lado dela como uma sentinela — em silêncio, mas presente, protetor.

Dilan entrou logo depois com um saco de pães e sucos na mão, e Ethan surgiu atrás dele, os dois rindo de algo bobo.

— Casa cheia, nem me esperou princesa. — Dilan falou para Amélia que ria.

— Tio, sabia que o tio Ethan namora a tia Eva, eu só deixo se ele for muito legal. — falou ela e nos sentamos todos à mesa, finalmente. A atmosfera era estranhamente leve para tanta dor que tínhamos atravessado. Mas às vezes, era isso… recomeços vinham depois de noites longas. E ali, entre panquecas, olhares trocados e uma menina risonha no meio, começávamos, cada um, um novo capítulo.

Mais populares

Comments

Michele Bonfim

Michele Bonfim

O choro pode durar uma noite,mas a alegria vem ao amanhecer...e nada melhor do que acompanhado de uma criança pura e inocente pra esta alegria ser contagiante.

2025-04-08

1

Maria Helena Macedo e Silva

Maria Helena Macedo e Silva

posso até chorar, mas a alegria vem no amanhã...😉🐛🦋💗💖

2025-04-11

0

Andrea Freire

Andrea Freire

Estou amando essa história ❤️❤️

2025-04-08

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!