Peguei Amélia no colo e ela se enroscou em mim como um passarinho assustado. Seu corpinho tremia inteiro, e o cheiro doce de xampu infantil misturado ao medo grudou em mim como um lembrete cruel do que ela tinha vivido.
Ela era pequena demais. Rica demais. Sofrida demais.
Enquanto a segurava firme contra o peito, como se eu pudesse protegê-la de tudo, olhei para Ethan — e nunca tinha visto aquele homem assim. Seus olhos estavam vermelhos, não de choro, mas de raiva. Uma raiva molhada, pulsante, que escorria como lava prestes a explodir.
Ele carregava a irmã nos braços como se ela fosse feita de cristal. E talvez fosse mesmo, depois de tanto quebrar por dentro. Scarletty, mesmo fraca, lutava com cada respiro para manter os olhos na filha. Mas assim que nos viu, como se tivesse enfim se permitido cair, ela desmaiou.
Vi o maxilar de Ethan travar. Ele ativou o fone em seu ouvido e falou com firmeza.
— Dilan… é o Ethan. Otto espancou Scarletty na frente da filha. A menina ligou para mim escondida no banheiro. Tô levando ambas para o hospital. Mas juro por tudo que eu sou… vou caçar esse desgraçado até o fim do mundo. Ele não vai encostar mais em ninguém. — uma pausa. — Isso, vem vindo, minha localização está ativada.
Entramos no elevador e Ethan virou-se para o porteiro assim que a porta abriu no térreo. O olhar dele cortava como faca.
— Onde estavam os seguranças? Como ninguém viu nada?
O homem engoliu em seco, pálido como papel.
— O senhor… seu pai dispensou todos, senhor Ethan. Disse ser temporário.
Foi como se o inferno inteiro tivesse se acendido dentro de Ethan. Ele apertou ainda mais os braços em torno da irmã desacordada e murmurou com ódio:
— Eu vou acertar as contas com aquele maldito. Um por um dos que foram omissos pagarão com a vida se for preciso.
Entramos no carro. Ethan colocou Scarletty deitada no banco de trás com cuidado, e eu me sentei com Amélia ainda no colo. Ela escondia o rostinho no meu ombro, soluçando baixinho.
— Vai passar, meu amor — murmurei no ouvido dela, embalando com carinho. — A gente tá com você agora.
Ethan ligou o carro com as mãos trêmulas, os olhos cheios de fúria e proteção. Mas então, o telefone tocou. Um nome apareceu na tela e ele congelou.
"Pai."
Assim que o som da ligação foi ativado pelo bluetooth, uma voz grave e fria preencheu o carro:
— Ethan, que palhaçada é essa? Disseram que você invadiu a casa de Scarletty!
Amélia se encolheu com um gemido fraco, as mãozinhas apertando minha blusa com força. As lágrimas voltaram a cair, desesperadas.
— Não quero ouvir ele — ela choramingou — ele sempre deixa o papai bater na mamãe...
Ethan não hesitou. Apertou o botão para falar e sua voz saiu como uma lâmina afiada:
— Palhaçada? Palhaçada é você saber que o Otto batia na sua filha. Na sua neta. E nunca fez nada.
Do outro lado, silêncio.
— Ora que exagero, são brigas de casal, coisa boba, traga ela de volta. — ele falou.
— Você morreu para mim. E para o Dilan também. Vamos proteger a Scarletty, salvar a vida dela e da Amélia… sem vocês. Sem os malditos genitores que tiveram a chance de fazer o certo e escolheram se omitir.
— Ethan… não fale assim comigo — o homem rebateu com falsa firmeza.
— Já falei. Agora escuta. Se você tentar se aproximar de qualquer um de nós, eu acabo com o que restou do seu nome. E juro por tudo que amo… que você vai sentir cada palavra que deixou de dizer quando ela pediu socorro.
Desligou sem esperar resposta.
Olhei pra ele, ainda embalada naquele silêncio pesado, com Amélia escondida nos meus braços, e soube — Ethan não era só um homem furioso.
Ele era um homem decidido a ser o oposto de onde veio. E eu… eu ficaria ao lado dele por cada passo dessa estrada torta, cheia de dor… mas também de redenção.
A entrada do hospital estava banhada por luzes frias, o chão refletindo os flashes de ambulâncias que chegavam e saíam. Assim que o carro de Ethan estacionou, outro veículo preto surgiu à frente em uma parada suave, e dele saltou Dilan, ofegante, com o olhar tomado por angústia.
Assim que Amélia o viu, seus bracinhos se esticaram, os olhos úmidos transbordando.
— Tio Dilan!
Dilan correu até ela, a pegou nos braços com todo o cuidado do mundo, como se tivesse medo de quebrá-la ainda mais. Apertou a sobrinha contra o peito e a encheu de beijos no rosto.
— Perdão, meu amor… perdão por não estar com você — sussurrou, a voz trêmula. — Ninguém nunca mais vai te machucar, tá me ouvindo?
Estava ao seu lado com rios de lágrimas saindo de mim, com o coração na garganta, quando um som cortou o ar: uma freada forte, agressiva, gritando pela noite e atraindo não só a atenção deles, minha, mas as dos seguranças.
Todos viraram ao mesmo tempo.
Otto.
De terno amassado, olhos vermelhos e passos furiosos, surgiu como um predador. O olhar dele foi direto para dentro, onde a maca de Scarletty acabava de sumir pelos corredores. Depois para Ethan. Depois Dilan com sua filha e para mim.
— Eva, pra dentro! Agora! — Ethan ordenou, o corpo à frente como um escudo. — Leva Amélia com você. Vai!
— Mas... — tentei exitar, olhando de Ethan para Otto, sentindo a tensão encher o ar.
— Vai! — Dilan reforçou com o rosto tomado de fúria. — Leva ela, Eva. Amélia tá assustada.
Peguei a menina, mas em vez de correr, segurei o braço de Ethan com firmeza, os olhos grandes e suplicantes.
— Se você sente algo por mim, como acho que sente… então vem também. Ela precisa de você agora. Não do seu ódio. Por favor, Ethan.
A mão de Ethan apertou a minha. Ele respirou fundo, o maxilar tensionado, o sangue pedindo por confronto… mas quando olhou para a garotinha abraçada ao meu pescoço, viu o medo. O mesmo que provavelmente sentia na sua infância.
Otto, que vinha em passos duros na direção deles, parou ao ver os dois irmãos cercados por homens armados. Os seguranças de Dilan e Ethan já estavam em posição. O velho canalha olhou ao redor, percebeu que não teria chance.
— Covardes… — murmurou entre dentes, antes de virar as costas e sair do hospital.
Ethan ficou olhando até Otto desaparecer no escuro da noite.
Eu tive medo, mas ainda com os olhos cheios de uma falsa coragem puxei ele levemente pela camisa.
— Vamos. Scarletty precisa de nós. E Amélia também.
Minutos depois, estavam todos dentro de um quarto privativo, silencioso e seguro, onde Ethan e Dilan sentaram, cada um segurando uma das mãos da irmã desacordada.
Amélia, agora com um cobertor fino ao redor, dormia no meu colo, exausta e soltando suspiros longos que mostravam seu cansaço.
A espera por notícias era feita de silêncio, olhares trocados e promessas não ditas.
Mas uma certeza flutuava no ar:
Otto não sairia impune.
E naquela noite… a verdadeira guerra tinha começado.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 42
Comments
Michele Bonfim
Nossa que horror que família podre,como pode um pai admitir e ser conivente com as agressões sofridas pela filha,não tomar partido , não a defender....pq esse é o papel do pai proteger, amparar, amar...ele é totalmente o.oposto.
2025-04-08
0
Renata
meu deus isso que aconteceu na estória e a realidade de muitas mulheres e poucas tem a sorte de ter alguém por elas .. e uma realidade forte e verdadeira e muitas com os filhos como a única testemunha
2025-04-08
0
Maria Helena Macedo e Silva
Otto é ladrão que grita pega ladrão🤦♂️
covarde que acha que os outros que são...
2025-04-11
0