Vou cuidar dela.

O cheiro de hospital nunca me agradou. Ainda assim, ali estava eu, sentado ao lado da cama dela, observando o modo como seus cílios tremiam levemente no sono leve, como se lutasse para descansar de verdade. Eva estava pálida, frágil… e mesmo assim, linda de um jeito que doía olhar. Segurei sua mão, sem saber se aquilo a incomodaria caso acordasse, mas também sem conseguir soltar.

Eu só queria garantir que ela estava segura.

A porta se entreabriu devagar, e pela fresta entrou o vulto de Angela, seguida por sua mãe, depois seu pai — um homem que sempre carregou o peso do mundo nos ombros — e, por fim, Liam. Cumprimentei com um aceno curto, tentando não parecer desconfortável, mas me levantei assim que percebi que o Sr. Thompson se aproximava com passos decididos.

Sutilmente, saí do quarto, parando alguns metros adiante no corredor, de frente para uma janela. Não demorou até que ele estivesse ao meu lado.

— Ethan — disse ele com a voz grave, firme, como se cada palavra pesasse toneladas. — A gente precisa conversar.

Assenti uma vez, sem o encarar de imediato.

— Esse homem que estava perseguindo a Eva… você sabe quem é né?

Balancei a cabeça.

— Ainda não tenho certeza, pode ser Daniel Moore, mas meu pai ameaçou ir até lá, ele não tem os escrúpulos necessários para não fazer isso, não sei ao certo, mas vou descobrir.

Ele cruzou os braços, os olhos fixos na cidade lá fora.

— Isso atrai perigo. E não é só para ela. É para a Angela também. Essa menina é como uma filha para mim, você sabe disso. Cresceu conosco. E Eva... Eva é doce demais para esse mundo quebrado.

Assenti novamente, mas algo na sua próxima fala me atingiu como uma lâmina.

— Eu conheço você desde que nasceu. Sei que não é igual ao seu pai, Ethan.

Meu maxilar travou. A comparação, mesmo negada, bastou para disparar o sangue nas minhas têmporas.

— Eu não sou como ele. — minha voz saiu baixa, mas cortante. — Nem de longe.

Ele me olhou, firme, e assentiu com um ar satisfeito. Era como se estivesse testando minha reação.

Liam apareceu logo em seguida, com aquele sorriso debochado de sempre.

— Olha só… — disse, metendo as mãos nos bolsos. — Parece que o chifre da Camille veio em boa hora, hein?

Revirei os olhos, tentando não morder a isca.

— Tá caidinho pela Eva, não tá? — ele provocou com um sorriso de canto. — Nunca vi você tão manso. Quase… humano.

Suspirei fundo, prestes a responder, quando passos apressados soaram atrás de nós. Era Matheu, subindo as escadas, ofegante.

— Ethan — disse direto, parando a poucos passos — teu pai. Ele tá no estacionamento.

Meu sangue gelou por um segundo… e depois ferveu.

— Merda. — rosnei, já virando nos calcanhares e descendo as escadas com o coração acelerado, se ele veio me provocar conseguiria fácil.

— Ethan! — chamou o Sr. Thompson, não respondi e ele disse que Liam deveria ir comigo, ele veio atrás de mim, me alcançando no segundo lance. — Eu vou com você. Alguém precisa manter tua cabeça no lugar.

Não respondi. Só continuei andando. Eu não sabia o que meu pai queria, mas se veio até aqui, ia se arrepender. Porque hoje… ele não ia encontrar um filho moldado para agradar nos negócios.

Ia encontrar o homem que aprendeu, na marra, a proteger o que é seu, e Eva era minha, era inútil negar.

O ar lá fora estava mais frio do que eu lembrava, e o céu se tingia com tons laranja e cinza, como se o dia estivesse envergonhado do que ainda restava dele.

Assim que descemos a escadaria do hospital, eu vi a figura parada ao lado do carro preto brilhando sob o fim da tarde. Meu pai. Terno italiano, postura de general, olhar como lâmina afiada.

Ele virou-se lentamente ao nos ver aproximar.

— Ethan — disse, como quem dá uma ordem. — Precisamos conversar.

— Não aqui. — respondi, ríspido.

— Aqui mesmo. — ele rebateu, dando um passo à frente. — Eu não vim até esse lugar imundo à toa.

Liam parou ao meu lado, os olhos atentos, como quem sabia que podia virar uma briga a qualquer momento.

— Quero saber que tipo de merda você está se metendo. Você acha que pode simplesmente desaparecer, cuidar de uma garota envolvida com criminosos e não colocar tudo a perder?

Cruzei os braços, a raiva fervendo na garganta.

— A partir de hoje, eu não cuido de nada relacionado à Carter’s Associados. — soltei, firme, encarando aquele maldito olhar de superioridade. — Acabou, e Eva não é envolvida com criminosos, vocês estão atrás da loja dela, ela é só uma vítima.

Ele riu. Aquela risada baixa, debochada e cheia de veneno.

— Ah, Ethan… você gosta de dinheiro demais para isso, viver de quê? CLT?. É seu sangue.

— Eu tenho muito mais do que você pensa. — rebati. — Minhas empresas rendem rios de dinheiro todos os dias. Eu não preciso mais de nada que venha de você, mas não espero que entenda, já que sempre achou que não existia nada além da sua empresa.

Ele ergue uma sobrancelha, com aquele tom nojento de desdém.

— E vai deixar tudo… por uma empregadinha?

Liam deu um passo sutil à frente, já prevendo o que viria.

— Camille era perfeita. Elegante. Discreta. Alta sociedade. E você troca isso por uma garota comum, cheia de problema?

— Camille me traiu. — cuspi com nojo.

Ele gargalhou, como se eu tivesse contado uma piada.

— E daí? Eu traio sua mãe todos os dias. Isso nunca me impediu de manter a família unida.

Foi como levar um soco no estômago.

Dei um passo à frente, com os punhos cerrados, o sangue nos olhos. Eu ia voar nele, dessa vez sem me segurar. Mas Liam me segurou firme pelo braço.

— Ethan, não. — murmurou entre os dentes. — Ele não vale isso.

Respirei fundo, os dentes rangendo.

O velho ajeitou a gravata com desdém, já se virando em direção ao carro.

— Vocês jovens são tão… emocionais. — disse com desdém. — Isso tudo vai passar, Ethan. Essa fase. Essa ilusão.

Ele entrou no carro sem sequer olhar pra trás, e eu fiquei ali, imóvel, sentindo o peso de vinte anos de controle tentando se partir de uma vez só dentro de mim.

Liam me soltou devagar, como quem sabe que a tensão ainda não foi embora.

— Você tá bem?

Demorei pra responder. Só olhei pro ponto onde o carro desapareceu e murmurei, quase sem perceber:

— Eu não sei o motivo… mas eu não consigo mais me afastar dela.

Ele me olhou de lado, mas não disse nada. E talvez não precisasse. Porque, no fundo, até ele entendeu que aquilo… era real.

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Comments

Michele Bonfim

Michele Bonfim

Que pai escroto....traição a mãe de seus filhos não remete apenas a ela como esposa e sim traição a família, aos filhos...ele não tem moral nenhuma. Ali ele conseguiu uma ruptura na vida do Ethan, pq muito difícil o filho aceitar a traição a sua mãe.

2025-04-05

2

Maria Helena Macedo e Silva

Maria Helena Macedo e Silva

por isso que a mãe é fútil e soberba para aguentar chifres do marido e não reclamar e ainda quer que os filhos sejam iguais a eles e a Camille , arrogantes , fúteis, soberbos e autoritários.🤦‍♂️

2025-04-11

0

Matilde Nacimento

Matilde Nacimento

volta aqui autora e postar mais capítulos pra nós por favor ansiedade e o meu nome kkkk

2025-04-05

1

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