Inveja involuntária.

Cheguei à casa de Angela sentindo o peso daquele dia estranho ainda sobre mim. Mas, assim que passei pela porta, fui recebida com um carinho que aqueceu meu coração.

— Eva, querida! — A mãe de Angela, Sr.ᵃ Thompson, me envolveu em um abraço apertado. O cheiro de lavanda que sempre a acompanhava me fez fechar os olhos por um segundo, me permitindo aquele conforto inesperado. — Soube do que aconteceu. Meu Deus, você está bem?

Antes que eu pudesse responder, o Sr. Thompson apareceu na sala, com um olhar preocupado, mas um sorriso gentil nos lábios.

— Sabe que essa casa é sua também, certo? Não vamos deixar nada de ruim acontecer com você.

Meus olhos arderam por um instante, e eu apenas assenti. Eu não sabia como reagir àquela preocupação genuína. Fazia muito tempo que não era cuidada por ninguém além de mim mesma.

— Ela precisa descansar, mãe. — Angela apareceu ao meu lado, segurando minha mão. — Vem, Eva. Vai tomar um banho quente e depois vamos relaxar um pouco.

Deixei que ela me guiasse pelo corredor, sentindo o olhar atento dos pais dela sobre mim. Eles realmente se importavam. Eles eram uma família.

E, por mais que eu soubesse que nunca teria aquilo para mim, por uma noite, eu poderia me permitir sentir como se tivesse, segunda-feira minha vida era obrigada a voltar para os eixos.

O quarto luxuoso fugia da minha realidade, conheci Angela na escola e viramos amigas, quando minha avó morreu a dois anos atrás ela foi meu chão e os pais dela pagaram todas as despesas. Assim que ela saiu do quarto, o silêncio se instalou e a melancolia se acomodou ao meu lado, como uma velha conhecida, entrei no banheiro e tomei um banho, quente, confortante, calmo e necessário, me olhando no espelho acabei chorando, isso já era parte da minha vida, mas poucas vezes senti tamanho desespero, sai do banho e de roupão me deitei, me encolhi debaixo das cobertas, abraçando o travesseiro com força, como se ele pudesse me proteger dos pensamentos que insistiam em me atormentar.

Eu estava segura ali, rodeada por pessoas que se preocupavam comigo, mas ainda assim, sentia um vazio difícil de ignorar. Angela tinha um lar, uma família acolhedora, um namorado que a amava. E eu? Eu tinha a confeitaria, minha pequena sala antiga que era a única prova de que um dia minha avó sonhou ao meu lado. Mas sonhos não aquecem uma casa vazia, nem respondem quando a solidão bate à porta.

Suspirei e fechei os olhos por um instante, apenas para afastar a angústia que crescia no peito. Não demorou para que Angela voltasse, carregando uma tigela cheia de pipoca e duas latinhas de refrigerante, o sorriso leve no rosto como se pudesse, de alguma forma, dissipar as sombras que me cercavam.

— Prontinho! E agora, o filme!

— O que escolheu? — perguntei, tentando entrar no clima.

Ela se jogou ao meu lado e levantou o controle remoto como se fosse um troféu.

— Vamos de “Casa Comigo?” — anunciou, satisfeita.

Eu ri, revirando os olhos.

— Sério? Aquele da mulher que vai até a Irlanda pedir o namorado em casamento?

— Exatamente! — disse, com empolgação. — Você precisa de um romance fofo, de um cara lindo e de uma história com final feliz. Exatamente o que a gente está precisando agora.

Aceitei a latinha que ela me entregou e roubei um punhado de pipoca da tigela. O filme começou a rodar na tela e, por um momento, deixei a mente vagar pelas belas paisagens da Irlanda. Mas não demorou para que algo chamasse minha atenção. O celular de Angela vibrou em cima do colchão. O nome de Matheus brilhou na tela, insistente.

— É o Matheus. Pode atender, se quiser — comentei, olhando para ela.

Angela pegou o celular, mas somente rejeitou a chamada sem hesitar.

— Nada disso. Dei um vale night para ele. Hoje a noite é sua, e eu vou cuidar de você.

Fiquei um segundo em silêncio, surpresa com sua resposta. Eu sabia o quanto ela amava aquele cara, e mesmo assim, estava ali, colocando minha dor acima de qualquer outra coisa.

O calor no peito se expandiu, como se uma pequena chama tivesse sido acesa dentro de mim. Encarei minha melhor amiga e sorri.

— Obrigada, Angela.

Ela revirou os olhos, jogando uma almofada em mim.

— Nada de obrigada. Agora cala a boca e assiste ao filme, porque sou apaixonada por essa cena e por esse ator maravilhoso.

— Aquele autor lindo me lembrou alguém, alguém que eu não deveria lembrar, me vi viajando em pensamento para a Irlanda, só que acompanhada dele… Ethan.

Assim que Angela se concentrou no filme, puxei o celular debaixo do travesseiro e olhei rapidamente a tela. Minhas mãos ficaram geladas.

Número desconhecido.

"Você devia ter aceitado a oferta."

Engoli em seco, o coração martelando contra o peito.

"O tempo está acabando. Não cometa o erro de continuar se metendo no caminho errado."

Bloqueei a tela no mesmo instante, como se pudesse apagar aquelas palavras da minha mente.

Angela estava distraída com a cena engraçada do filme, então aproveitei para desligar o celular e jogá-lo no criado-mudo, tentando controlar minha respiração.

Meus pensamentos voltaram para o dia. Para o medo paralisante. Para as mãos brutas que me seguravam contra o chão.

E então, para ele.

Para o jeito como Ethan me arrancou daquela situação, a força nos seus golpes, a fúria no olhar ao me proteger. E principalmente... para os braços onde, por um breve segundo, senti algo que não deveria sentir. Segurança.

Fechei os olhos com força.

Não.

Ele não era um herói. Não era confiável. Ethan só estava ali porque tinha interesse.

Balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos tolos. Eu precisava me manter firme. Confiar nele era o erro que eu não podia cometer.

Soltei um suspiro pesado e voltei minha atenção para o filme, fingindo que estava tudo bem. Mas por dentro, meu peito queimava de incerteza.

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Comments

Andrea Freire

Andrea Freire

Coitada sem família e ainda tendo que enfrentar esse tal de Daniel

2025-04-05

1

Dulce Gama

Dulce Gama

É muito triste está sozinha sem ninguém recebendo ameaças de pessoas sem escrúpulos ainda bem que ela tem essa família que está ajudando pelo menos em abrigar _se🌹🌹🌹🌹👍👍👍👍👍👍❤️❤️❤️❤️❤️❤️🎁🎁🎁🎁🎁

2025-04-05

0

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