Pensando nela?

Aquele dia foi estranho.

Eu ainda sentia a adrenalina no sangue, ainda conseguia ouvir os gritos dela, a forma como tremia quando me viu ali. Eu a ajudei. Fui eu quem tirou aquele desgraçado de cima dela. E o que recebi em troca? Desconfiança.

Outro não, aquela petulante não tem uma casa para morar e mesmo assim quer achar que é superior a mim, com base no quê?

Eva preferiu ir a pé, machucada e assustada, do que aceitar minha carona em um carro confortável.

Mal agradecida.

Acelerei o carro pelas ruas movimentadas, o ronco do motor refletia minha frustração. Eu estava irritado. Por tudo. Pela audácia daquele verme que a atacou. Pelo jeito que Eva me olhou, como se eu fosse igual a ele. Como se eu fosse um monstro.

Bufei. Talvez eu fosse um. Mas, definitivamente, não era como Daniel Moore e seus vermes.

Quando cheguei ao meu apartamento de luxo no centro da cidade, larguei a chave na mesa e tirei a jaqueta com força, jogando-a no sofá. Eu queria beber algo forte, esquecer o gosto amargo do dia, mas meu incômodo apenas aumentou quando percebi que Camille estava ali.

De salto alto e um vestido que parecia mais apropriado para uma boate do que para uma visita, ela sorriu com malícia ao me ver.

— Finalmente chegou. — Ela deslizou os dedos pelo meu peito, mas eu recuei.

— O que você está fazendo aqui?

Ela riu, jogando os cabelos loiros para trás.

— Sou sua noiva, Ethan. Ou já esqueceu?

Sim. Como eu queria esquecer.

— Quanta grosseria. — reclamou com o cheiro de álcool vindo na minha cara.

Meu pai achava que esse noivado era um acerto estratégico. Camille vinha de uma família influente, e para ele, essa era a única coisa que importava. Eu, no entanto, não obedecia meu pai. Nunca obedeci. Mas também não via um motivo forte o suficiente para acabar com aquilo. Ainda.

Camille era fútil, vulgar e irritante. Mas enquanto não houvesse nada que desabonasse sua imagem, ela continuaria sendo minha noiva.

Eu me afastei, pegando um copo de uísque.

— Estou cansado. Vá para casa.

Ela estreitou os olhos.

— Você nunca está de bom humor. O que te deixou assim hoje?

Soltei uma risada curta, amarga.

— Nada que você precise saber.

Eu poderia ter contado a ela? Poderia. Mas Camille não se importava com nada além de status e dinheiro. E, de alguma forma, eu sabia que Eva nunca se venderia por essas coisas, droga, por que estou pensando nela novamente? Por que estou comparando as duas?

O pensamento me irritou ainda mais.

Eu bebi o uísque de um gole só e me joguei na poltrona, tentando ignorar a presença indesejada da minha noiva.

Mas não importava o quanto eu tentasse, meu pensamento voltava para Eva.

Ainda irritado com tudo o que aconteceu, tentei afundar a cabeça no trabalho, mas nem isso funcionou. Cada vez que fechava os olhos, via Eva caída no chão, assustada, vulnerável.

Eu precisava de um tempo para respirar, então aceitei o convite da minha irmã para um lanche em família.

Scarlett, minha irmã mais velha, era uma das poucas pessoas que eu realmente respeitava. Doce, inteligente e forte, casado com Otto que a meu ver não a merecia. Ela nunca se vendeu pelo poder da nossa família e sempre soube manter o equilíbrio entre o luxo e a simplicidade.

Assim que entrei na casa dela, Amelia, sua filha de quatro anos, veio correndo na minha direção.

— Tio! — Ela abriu os bracinhos, e eu a peguei no colo sem pensar duas vezes.

— Minha princesa, como você está linda hoje. — Beijei sua testa, e ela riu, enfiando os dedinhos no meu cabelo.

Scarlett se aproximou com um sorriso e eu passei um braço pelos ombros dela, beijando o topo de sua cabeça.

— Fico feliz que veio. Você está com uma cara horrível.

— Bom te ver também, maninha. — Respondi com um meio sorriso.

Já Dilan meu irmão mais novo, estava encostado no balcão da cozinha, observando tudo. Ele era mais tranquilo, mais pacífico. O oposto de mim.

— O que houve, Ethan? — Ele perguntou, com aquele olhar que dizia que ele sabia que alguma coisa estava errada.

— Negócios. — Dei de ombros.

Ele não insistiu, mas vi que Scarlett franziu a testa, desconfiada.

O café foi servido na varanda. Minha irmã preparou tudo com aquele toque acolhedor que ela tinha. Croissants, bolos caseiros, café quente. A paz que eu precisava, mesmo que por pouco tempo.

Até que meu pai e minha mãe chegaram.

— Ethan. — Meu pai acenou, e eu retribuí com um aceno curto.

Minha mãe, Isabelle, se sentou como se fosse uma rainha. Sempre bem-vestida, sempre impecável. Seu olhar crítico pousou em mim.

— Veio sem Camille?

Revirei os olhos.

— Sim, mãe. Não preciso de babá.

Ela suspirou, desaprovando minha resposta, e se virou para Scarlety.

— Minha filha, como está seu marido? E minha netinha?

Scarlety manteve a educação, mas o clima já estava mais frio. Eu sabia que ela também não gostava da forma como nossa mãe tratava cada um de nós, se casou sem amar o marido, acredito que ambos vivam bem, mas ele nunca está em casa e não sei ao certo como ela se sente com isso.

A verdade era que minha mãe sempre foi mais parecida com Camille do que eu gostaria de admitir. Sempre preocupada com status, com dinheiro, com aparência. E eu não suportava esse tipo de gente.

Fiquei ali, quieto, segurando Amelia no colo e observando a dinâmica da família. Scarlety e Dilan eram as únicas pessoas ali que realmente mereciam o meu amor e minha lealdade.

Minha mãe? Ela só via em mim um peão para os negócios do meu pai.

O silêncio reinou por um instante após a pergunta do meu pai.

— E então, conseguiu comprar aquela sala? — Ele perguntou casualmente, pegando sua xícara de café e levando aos lábios.

Apertei a mandíbula. Minha mãe olhava para mim com expectativa, como se a única resposta aceitável fosse um “sim”.

— Não. A moça não quer vender. — Respondi, seco.

Meu pai riu, aquele riso baixo, carregado de deboche.

— Então talvez eu deva ir pessoalmente até lá.

Minha visão ficou vermelha. Minha mão fechou em um punho sobre a mesa antes que eu pudesse controlar a reação.

Bati a palma da mão contra a madeira com força, fazendo os talheres tilintarem.

— Você não vai se meter nisso. — Minha voz saiu fria e cortante. Meus olhos cravaram nos dele. — A empresa é sua, mas esse negócio é meu. Essa decisão é minha. Você não tem que se aproximar dela.

O olhar do meu pai se estreitou. A tensão ficou espessa como fumaça.

— Está mesmo tão interessado assim? O que essa garota tem para te deixar tão irritado? — Ele perguntou, como se estivesse se divertindo com meu surto.

— Ela não tem nada. Mas essa decisão é minha. Ponto final.

Scarlety desviou o olhar para a xícara, claramente desconfortável. Dilan apenas observava em silêncio. Minha mãe sorriu de canto, satisfeita com a provocação do meu pai.

Levantei-me, respirando fundo para conter a raiva.

— Agradeço pelo café. Mas eu tenho coisas mais importantes para resolver.

Peguei meu paletó e segui para a saída sem olhar para trás. Se meu pai achava que poderia se meter nisso, estava muito enganado.

E eu, naquele momento, só conseguia pensar que Eva jamais se encaixaria nesse mundo.

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Comments

Renata

Renata

são muitos inimigos
Daniel
pai e a mãe dele
a noiva
coitada da Eva vai ter que ser uma guerreira para lutar por sua loja .e o Ethan será que vai lutar por ela ?

2025-04-04

2

Michele Bonfim

Michele Bonfim

Tem razão ela nunca se encaixaria nesse mundo e vc no dela , se.encaixa?

2025-04-04

1

Dulce Gama

Dulce Gama

Ethen já está gostando de Eva se isso acontecer os dois vão enfrentar uma barra jesus cristinho 🎁🎁🎁🎁🎁👍👍👍👍👍🌹🌹🌹🌹🌹

2025-04-05

0

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