O ataque

O sábado amanheceu diferente. Mas não de um jeito bom, deveria ser se eu estivesse cedo na confeitaria, meu dia de melhor venda.

Assim que abri os olhos, senti que o sol estava alto demais, eu tinha um problema, se não despertasse o celular não acordava, me julguem, mas adoro dormir, me espreguicei e aí que a coisa complicou, senti algo estranho, alguém me observando.

Uma presença.

Aquele arrepio gelado percorreu minha espinha antes mesmo de meu cérebro processar o que estava acontecendo.

Levantei a cabeça lentamente, meus olhos ajustando-se à alta luz do quarto, e foi então que vi.

Um homem.

Truculento. Enorme. Estranho.

Um grito escapou da minha garganta no instante em que ele avançou, o golpe veio rápido. O impacto queimou minha pele.

Minha vista escureceu.

O tempo desapareceu.

Devo ter desmaiado, e quando voltei a mim, uma dor pulsante tomava minha cabeça. O peso do homem estava sobre mim. Seu hálito fétido fez meu estômago revirar.

Gritei.

Esperneei, resisti e lutei, ele não tirou minha roupa e isso era um alívio, morava ali a anos e ninguém nunca invadiu minha casa, isso só pode significar que é a mando de alguém, só podia ser ele… Ethan Carter.

Então, ele foi arrancado de cima de mim.

O baque de corpos colidindo ecoou pelo pequeno apartamento.

Eu engasguei, me arrastando para trás, ainda tentando entender o que havia acontecido. O alívio foi imediato, alguém estava me ajudando.

Mas, quando reconheci quem estava ali, meu sangue gelou.

— Ethan?

Minha mente gritava. Não fazia sentido.

Ele não era um capanga? Não foi ele que enviou esse desgraçado para me assustar, ou sei lá o que ele ia fazer?

Mas então, por que ele estava aqui? Por que ele tinha raiva nos olhos e sangue nos punhos?

Mas voltei  a mim, peguei meu celular com as mãos trêmulas e disquei o número da polícia.

— Alô… Eu preciso de ajuda.

Aguardei com meu corpo ainda em choque, enquanto a voz da atendente pedia minha localização.

O homem gemeu no chão, mas Ethan nem olhou para ele, o fez desmaiar e logo voltou a mim, neguei sua ajuda inicialmente, mas logo aceitei. Seus olhos estavam em mim o tempo todo enquanto ele me observava antes da polícia chegar.

— Você está bem? — Sua voz saiu grave, cheia de fúria contida.

Eu deveria correr.

Ethan ficou ao meu lado o tempo todo. Como se me protegesse.

E aquilo me confundiu ainda mais.

Se não foi ele, era alguém igual.

E disso eu precisava fugir, o que aquele homem faria comigo se Ethan não viesse?

A polícia chegou em poucos minutos. Dois oficiais entraram, algemaram o homem desacordado e começaram o boletim de ocorrência.

Eu relatei tudo. Minhas mãos ainda tremiam.

Ethan ficou ao lado da porta, os músculos tensos, o olhar de um predador pronto para atacar de novo.

Depois que os policiais terminaram, um deles me encarou.

— Se precisar de proteção, podemos ajudar.

Balancei a cabeça.

— Obrigada, mas eu vou para a casa de uma amiga.

Eu senti a mudança na respiração de Ethan antes mesmo de olhar para ele.

Seus punhos cerraram.

Seus ombros ficaram rígidos.

E, quando ele finalmente falou, sua voz saiu carregada de fúria:

— Você não pode ficar em qualquer lugar, eu posso te ajudar.

— Eu já disse que tenho para onde ir, e a que preço seria a sua ajuda? — Respondi, sem me abalar.

Ele prendeu a mandíbula. Odiou minha resposta.

Mas, mais uma vez, foi um não que ele ouviu da minha boca.

E isso o deixou furioso.

As ruas pareciam mais escuras naquela noite. Cada sombra parecia esconder uma ameaça. Meu corpo ainda estava tenso pelo que aconteceu, e a única coisa que me manteve firme foi saber que Angela me esperava.

Quando cheguei ao apartamento dela, minha amiga arregalou os olhos ao me ver.

— O que aconteceu? — perguntou, puxando-me para dentro.

Minha garganta estava seca. Soltei o ar, tentando encontrar as palavras certas, mas elas vieram todas de uma vez.

— Alguém invadiu minha casa.

O choque se espalhou pelo rosto dela.

— Meu Deus! Eva, você tá bem? Quem fez isso?

Sentei no sofá, segurando minha xícara de chá quente com as mãos ainda trêmulas.

— Eu não sei quem mandou, mas Ethan apareceu.

Angela piscou, confusa.

— O quê?

— Ele entrou e me salvou.

Ela balançou a cabeça, ainda tentando processar.

— Então, ele não é o responsável por isso?

Suspirei, apertando a xícara.

— Eu não sei, Angela… Não sei se posso confiar nele.

Foi nesse momento que o pai de Angela entrou na sala. Henry Thompson. Político influente, sério e sempre atento. Seus olhos analisaram meu estado antes mesmo que eu dissesse qualquer coisa.

— O que aconteceu? — Sua voz soou firme.

Angela resumiu rapidamente o que eu tinha contado.

Ele respirou fundo, apoiando-se no encosto do sofá.

— Isso tem a ver com Daniel Moore, não tem?

Meus olhos se arregalaram.

— Quem?

— Daniel Moore. Um desgraçado sem escrúpulos. — Henry franziu a testa. — Ele é um investidor agressivo, faz negócios sujos e não hesita em eliminar obstáculos do caminho.

Meu estômago se revirou.

— Mas… E Ethan? — Perguntei, temendo a resposta.

Henry soltou uma risada seca.

— Não que Ethan seja um homem de bons princípios. — Ele estreitou os olhos. — Mas há uma diferença entre eles. Ethan tem limites. Daniel, não.

Silêncio.

— Se um carro passou pelo seu apartamento antes do ataque, é melhor você e Angela ficarem na minha casa. Pelo menos por um tempo.

Angela assentiu de imediato, segurando minha mão.

— Você sabe que está segura comigo Eva. Meu pai tem seguranças.

Olhei para os dois e, pela primeira vez desde aquela noite, senti um pouco de alívio.

— Tá bom. Eu fico, mas dias só, e preciso muito continuar trabalhando.

— Sugiro que por dois, ou três dias você não vai, ele pode mandar alguém lá, use minha cozinha e faça suas encomendas, vai ser um alívio ver Angela quieta em casa um pouco. — falou e rimos, ele nunca aceitou o fato de Angela ter saído de casa com 18 anos e está claramente usando isso contra ela.

Rapidamente pegamos umas roupas e seguimos para lá, eu estava aliviada, mas no fundo, eu sabia que essa história estava longe de acabar.

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