Erica Ranis

Paris,5 de janeiro de 2015

Erica Ranis 25 anos,e Manuela Ranis 5 anos

Todas as manhãs, leio cartas de amor escritas do meu pai para minha mãe.Nós duas temos muito em comum: os olhos cor de chocolate e o mesmo tom de loiro escuro no cabelo. Também temos a mesma risada: discreta no início, mas que se torna mais alta quando estamos na companhia das pessoas que amamos. Quando ela sorri, ergue o canto direito da boca, exatamente como eu.

Encontrei as cartas na lixeira, dentro de uma caixa de metal em formato de coração. Centenas delas. Algumas longas, outras mais curtas, algumas felizes, outras incrivelmente tristes. Pelas datas, são muito antigas. Bem mais velhas do que eu. Algumas assinadas,e outras nao

Imaginei como meu pai se sentiria se soubesse que mamãe havia jogado todas elas fora.Mas, ultimamente,me pego imaginando,minha mãe já foi aquilo que estava escrito nas cartas.algo magnífico e maravilhosa.Agora, ela era exatamente o oposto.

Depois que meu pai morreu, a mamãe se tornou uma vadia. Não existe modo mais educado de dizer isso. Não foi de uma hora para outra, apesar da vizinha do final da rua ter espalhado para um monte de gente que minha mãe abria as pernas para todo mundo antes mesmo que meu pai nos deixasse. Eu sabia que não era verdade, pois nunca me esqueci de como ela olhava para ele quando eu era criança. Era como se ele fosse o único homem na face da Terra. Sempre que ele tinha que sair bem cedo para trabalhar, a mesa do café já estava posta, e o almoço, pronto, para ele levar. Ela até preparava uns lanchinhos, porque meu pai vivia reclamando que sentia fome entre as refeições, e mamãe sempre se preocupava em fazer com que ele se alimentasse bem

Papai era professor e dava aulas em uma universidade que ficava a uma hora da nossa casa. Não foi surpresa descobrir que eles trocavam cartas de amor. Palavras eram o ponto forte dele, sua grande vantagem. E mesmo não sendo tão boa quanto o marido, minha mãe conseguia expressar tudo o que sentia em cada cartas que ela escrevia para ele.

De manha, quando ele saía de casa, ela cantarolava e sorria enquanto limpava a casa e me arrumava. E falava dele, dizendo o quanto o amava, como sentia sua falta e que escreveria uma carta de amor antes que ele voltasse, a noite. Quando ele chegava em casa, mamãe sempre o servia com duas taças de vinho, e então era ele quem cantarolava a música favorita dos dois e beijava a mão dela. Eles riam juntos e cochichavam como adolescentes que estão vivendo seu primeiro amor.

Adriana- Você é meu amor eterno.

dizia ela, enquanto o beijava.

Alfred-Você é meu amor eterno,minha amada.

respondia ele, girando-a em seus braços.

Quando papai morreu, uma parte de minha mãe tambem se foi.Minha mãe ficou enclausurada em casa por meses. Eu a obrigava a se alimentar todos os dias, na esperança de que ela não definhasse de tanta tristeza. Nunca a tinha visto chorar até aquele momento. Não demonstrava minhas emoções quando estava perto dela, pois sabia que isso só a deixaria mais triste.deixava para chorar no banheiro,em baixo do chuveiro.

Quando finalmente saiu da cama, foi para ir a igreja. Eu a acompanhei durante algumas semanas. Lembro de me sentir totalmente perdida, aos 14 anos, sentada no banco de uma paroquia. Nunca fomos uma familia religiosa, só rezamos quando algo de ruim acontecia. Nossas visitas à igreja não duraram muito tempo, pois mamãe chamou Deus de mentiroso e desrespeitou os fies, dizendo que deveriam parar de perder tempo, de ser enganados com esperanças vazias e inúteis,e parar de dar dinheiro a igrejas.entao o pastor pediu que ficássemos algum tempo sem aparecer. Pelo menos até a poeira abaixar.

Até então, nunca tinha passado pela minha cabeça que alguém pudesse ser banido de uma igreja kk.

Recentemente, mamãe adotou outro passatempo, homens diferentes todos os dias, Uns para dormir, outros para ajudar a pagar as contas. E ha ainda aqueles que ela gosta de manter por perto em momentos de solidão, ou também porque lembra do papai. Alguns ela ate chama de Alfred as vezes. Agora a noite havia um carro parado em frente a nossa casa. Dentro dele, um homem estava sentado com um charuto na boca, minha mãe no colo. Ela ria baixinho enquanto ele sussurrava algo

em seu ouvido, mas não era o mesmo tipo de risada que costumava a soltar com papai,era meio triste.

Dei uma olhada na rua e vi a vizinha cercada de outras fofoqueiras, apontando para mamãe e o homem da dia. Queria ouvir o que elas diziam e mandar elas calarem a boca, mas elas estavam na calçada oposta. Até mesmo as crianças que brincavam de bola na rua, observavam os dois com os olhos arregalados.

Carros caros como aquele nunca transitavam numa rua como a nossa. Tentei convencer minha mãe a se mudar para uma vizinhança melhor, mas ela se recusou.achei que era porque ela e papai tinham comprado a casa juntos.Talvez ela não tivesse se esquecido completamente dele.

O homem soltou a fumaça do charuto no rosto dela, e os dois riram. Mamãe usava seu melhor vestido,com decotao em v,com cintura justa, colado ao corpo. A maquiagem era tão pesada que fazia ela parecer mais jovem, Ela era bonita sem toda aquela maquiagem, mas ela dizia que se maquiar transformava uma menina em mulher. O colar era da minha avó, Roseli,Eu nunca a vi usar aquele colar com um estranho, e não entendi o porquê de ela fazer isso agora.

Os dois olharam na minha direção, e me escondi na varanda, de onde continuei espiando

Adriana-Erica, se está tentando se esconder, pelo menos faça isso direito.venha aqui agora.

Sai de trás da pilastra e caminhei na direção dos dois. O homem soprou a fumaça mais uma vez e, conforme eu me aproximava, observando seus cabelos grisalhos e seus olhos azuis, o cheiro do charuto chegou ao meu nariz.

Adriana-nick, esta é a minha filha.

ele me olhou de cima a baixo, o que fez com que eu me sentisse um objeto. Ele me analisou como se eu fosse uma presa,pronta para ser caçada. Tentei disfarçar o desconforto, mas não consegui, então baixei os olhos.

Nick-Como vai,menina.

Erica-meu nome é Erica e não menina.

Adriana- isso não é jeito de falar com o amigo da mamãe.

repreendeu minha mãe, franzindo a testa e deixando as rugas à mostra. Ela não teria falado dessa forma se soubesse que isso acentuava as linhas de expressão em seu rosto. Eu odiava quando um homem novo aparecia e ela sempre escolhia ficar do lado dele e não do meu.

Nick-Tudo bem,querida Além do mais, ela está certa.

Havia algo nojento na forma como ele me encarava e fumava seu charuto. Eu usava um vestido solto rodado,mesmo assim era descente e ele mordia os lábios.

Nick-estamos indo a cidade comer alguma coisa. Quer ir?

Erica-a Manuela ainda está dormindo.

recusei. Olhei em direção à casa, onde minha menininha estava dormindo em um colchão velho. Nós duas ja o dividíamos há um bom tempo, desde que viemos para a casa da minha mãe

Ela não foi a única que perdeu o amor de sua vida.Eu tinha esperanças de não acabar como ela.

Esperava ficar so na fase da tristeza.

Dario tinha morrido há um ano, e eu ainda tinha dificuldade para respirar. Manuela e eu morávamos na nossa casa de verdade. O lugar foi reformado, e nós o transformamos em um lar. Foi ali que eu e o Dário nos apaixonamos, brigamos e fizemos as pazes inúmeras vezes.Bastava a nossa presença para tornar a casa um lugar aconchegante. Mas, depois que ele se foi, parecia que uma nuvem escura pairava sobre ela.

Foi no hall de entrada que ficamos juntos pela última vez. Seu braço envolvia minha cintura, e nos achavamos que nos lembrariamos daquele dia para sempre.

Mas o "para sempre"acabou, a vida seguiu seu curso.

Eu me senti sufocada pelas lembranças e pela tristeza, e então fui para a casa da minha mãe.

Voltar ao nosso lar significava encarar a verdade, ele não estava mais entre lá. Por mais de um ano, vivi um faz de conta, fingindo que ele tinha saído para comprar algumas coisas e que voltaria a qualquer momento. Todas as noites, quando me deitava, ficava do lado esquerdo da cama e fechava os olhos, imaginando que ele estava ali ao meu lado.

minha filha merecia mais do que isso, Minha pobre Manuela,precisava de mais do que um colchão velho, homens estranhos e vizinhos fofoqueiros dizendo coisas que uma garotinha de 5 anos nunca deveria ouvir. Ela também precisava de mim. Eu estava afundando na escuridão, não era a mãe que ela merecia. Enfrentar as lembranças do nosso lar talvez me trouxesse paz.

Voltei para dentro e olhei para meu anjinho dormindo, seu peito subindo e descendo em um ritmo perfeito. Nos duas temos muito em comum: as covinhas na bochecha e o mesmo tom loiro escuro no cabelo. Também temos a mesma risada,o mesmo jeito de colocar o cabelo de lado

a única diferença diferença. Os olhos dela eram verdes como a do pai dela

Deitei ao lado da minha princesinha, beijando suavemente seu nariz. Depois, peguei a caixa no formato de coração e li mais uma carta. Já tinha lido aquela antes, mas mesmo assim ela tocou minha alma.Às vezes, eu fazia de conta que as cartas eram do Dário,sempre derramava algumas lágrimas.

O amor dos meus pais era capaz de provocar inveja até nos casais que já estavam séculos juntos,nas cartas e pessoalmente eles se amavam muito,meu pai sempre declarou isso a ela e ela a ele.eu e o Dário,sempre mandamos mensagens de amor um para o outro,e era lindo.mais o amor dos meus pais era muito lindo.

Mais populares

Comments

Dulce Gama

Dulce Gama

a história está interessante 👍👍👍👍👍🎁🎁🎁🎁🎁❤️❤️❤️❤️❤️🌹🌹🌹🌹🌹

2025-04-03

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!