Capítulo 4- Entre Olhares e Perigos

O coração de Isabela ainda batia acelerado quando desceu as escadas do camarote. As palavras de Damian ecoavam em sua mente. "Você devia escolher melhor seus empregos." Ele a estava avisando? A protegendo? Ou apenas brincando com ela?

Ela seguiu até o bar, tentando ignorar os olhares curiosos dos outros funcionários. Precisava terminar o turno sem chamar mais atenção.

— Está bem? — perguntou uma colega, ao notar sua expressão tensa.

— Sim, foi só um susto.

— Não deveria subir para aquele andar sozinha. Alguns clientes não entendem limites.

Isabela assentiu. Como se já não tivesse percebido isso da pior forma possível.

***

Do camarote, Damian continuava observando-a.

— Você nunca interfere assim — comentou Enzo, ao seu lado.

— Ela não pertence a esse mundo.

— Então por que está interessado nela?

Damian girou o copo de uísque nos dedos, pensativo. Ele mesmo não sabia ao certo. Mas algo na forma como ela tentava se manter firme, mesmo rodeada por perigos, o intrigava.

— Porque quero ver até onde ela consegue ir — respondeu finalmente.

Enzo soltou um suspiro.

— E se ela não aguentar?

Damian deu um pequeno sorriso.

— Então vamos descobrir.

***

O expediente terminou e Isabela saiu do clube, caminhando até o ponto de ônibus. As ruas estavam vazias, o silêncio da madrugada tornando o ar mais pesado.

Mas algo nela dizia que não estava sozinha.

Seus sentidos estavam em alerta.

Foi quando uma sombra surgiu à sua frente.

— Uma garota bonita como você não deveria andar sozinha tão tarde…

O desconhecido usava um capuz, escondendo parte do rosto. Sua postura era ameaçadora.

O coração de Isabela disparou. Ela recuou um passo, pronta para correr, mas o homem segurou seu pulso.

— Solta… — tentou manter a voz firme.

Antes que ele respondesse, um carro preto parou ao lado deles.

A porta se abriu, e Damian saiu.

Seu olhar frio fez o desconhecido dar um passo para trás.

— Se eu fosse você, seguiria meu caminho — disse Damian, com calma mortal.

O homem hesitou por um instante, depois sumiu na escuridão.

Isabela ainda estava ofegante quando Damian se virou para ela.

— Você precisa aprender a se cuidar melhor.

Ela cruzou os braços, tentando esconder o tremor nas mãos.

— Eu me viro sozinha.

Damian sorriu de lado.

— Se realmente se virasse, não estaria sempre em apuros.

Ela o encarou, sem saber o que responder.

Damian deu um passo à frente, a distância entre eles diminuindo perigosamente.

— Entre no carro. Vou te levar para casa.

— Não precisa.

Ele arqueou a sobrancelha, desafiador.

— Você quer correr o risco de outro cara como aquele aparecer?

Isabela hesitou. Aceitar uma carona de um homem como ele era o mesmo que aceitar que estava entrando em um jogo perigoso.

Mas, contra todo o bom senso, entrou no carro.

Damian deu um sorriso satisfeito e fechou a porta atrás dela.

— Boa escolha.

O interior do carro exalava luxo e perigo, como o próprio homem que agora dirigia ao lado dela. Damian mantinha uma postura relaxada, uma mão no volante, a outra descansando no apoio de braço. Mas seu olhar, mesmo quando focado na estrada, parecia pesado sobre ela.

— Onde você mora? — ele perguntou, sem pressa.

Isabela hesitou. Dar seu endereço para ele parecia um erro. Mas que escolha tinha?

— Bairro Central.

Damian assentiu, mudando a direção sem questionar.

O silêncio entre eles era tenso. Isabela sentia o peito apertado. Damian não era um homem comum. Sua presença sozinha já era intensa demais.

— Você sempre salva garotas indefesas na rua?

Ele riu baixo.

— Não. Mas você parece atrair problemas.

— Ou talvez os problemas me encontrem.

Ele olhou para ela de lado, um brilho enigmático nos olhos.

— Então talvez seja hora de aprender a se proteger.

Isabela cruzou os braços.

— Eu sei me virar.

— Claro. Foi o que eu vi agora há pouco.

Ela trincou os dentes. Ele a fazia se sentir vulnerável, e odiava isso.

— Por que está tão interessado em mim? — disparou.

Damian reduziu a velocidade ao parar no sinal vermelho. Seus olhos escuros encontraram os dela, prendendo sua respiração.

— Ainda não decidi.

Um arrepio percorreu sua espinha.

O carro voltou a se mover, e Isabela desviou o olhar para a janela, tentando ignorar a tensão.

***

Quando chegaram ao seu prédio, Damian estacionou na frente, sem pressa alguma para que ela saísse.

— Obrigada pela carona — disse Isabela, pronta para abrir a porta.

— Espere.

Ela parou, confusa.

Damian tirou um cartão do bolso e entregou a ela.

— Se precisar de algo… ligue.

Isabela olhou para o cartão. Nenhum nome, apenas um número.

— Não vou precisar.

Ele sorriu de lado.

— Você diz isso agora.

Ela saiu do carro e fechou a porta, sentindo os olhos dele ainda sobre ela. Só quando entrou no prédio, Damian arrancou com o carro, desaparecendo na escuridão da noite.

Mas, no fundo, Isabela sabia que aquele não seria o último encontro deles.

Muito pelo contrário. Era apenas o começo.

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