orfanato wanda

Eu nunca me senti uma pessoa comum. Sempre soube que havia algo de diferente em mim, algo que me fazia não me encaixar na vida normal que as outras pessoas levavam. Meus olhos eram de um verde profundo, quase hipnótico, e o cabelo tão loiro que, à luz do sol, parecia branco. Minha pele pálida contrastava com tudo ao meu redor, como se eu fosse uma figura estranha em um mundo de gente normal.

Nasci e fui deixada à margem da vida. No orfanato Wanda, um lugar que mais parecia um castelo sombrio do que uma casa de acolhimento. Foi ali que passei a maior parte da minha vida, sem saber quem eu realmente era. O Orfanato Wanda, construído pela senhora Vanda, tinha grandes paredes de pedra que pareciam imunes ao tempo. Seu interior era fresco e abafado, como um velho baú guardado no fundo de um sótão. O cheiro era uma mistura de madeira envelhecida e o leve toque salgado da maresia, que vinha da cidadezinha próxima.

O Orfanato Wanda ficava a poucos minutos da praia, mas parecia que eu nunca conseguia escapar da sensação de estar presa. As grandes janelas de vidro deixavam a luz do sol entrar, mas era uma luz fria, que não aquecia o meu corpo como deveria. As paredes eram de um tom acinzentado, e os móveis de madeira escura, que rangiam a cada movimento, pareciam contar histórias antigas de um tempo distante. O piso era de madeira polida, mas constantemente riscado pelas marcas do tempo e dos pés das crianças que, como eu, passavam mais tempo dentro do que fora daquele lugar.

Elara, minha cuidadora e quase uma mãe para mim, sempre dizia que minha aparência exótica me tornava especial, mas eu nunca entendi por quê. Eu sempre me senti apenas… diferente. Eu não gostava de ser chamada de "sereia", como os comerciantes da cidade gostavam de me chamar, apesar de sua aparência encantadora. O apelido surgiu por conta do meu jeito delicado, das minhas feições suaves e do meu cabelo tão claro que parecia brilhar sob a luz da lua. Eu até gostava do apelido, mas, ao mesmo tempo, odiava a maneira como algumas pessoas me viam, como se eu fosse uma fantasia a ser conquistada.

As crianças do orfanato sempre me deixaram de lado. Nunca fui a primeira a ser escolhida para nada, sempre a última opção. As outras crianças brincavam entre si, enquanto eu ficava observando de longe, sem saber como fazer parte daquela vida tão simples e tão cheia de regras. Mas Elara sempre me olhou como se eu fosse algo único. Ela nunca me fez sentir a dor da solidão. Ela dizia que, quando me encontrou, ainda bebê, em uma cesta na porta do orfanato, foi como se o destino tivesse colocado nossos caminhos para se cruzarem. Para ela, nossa conexão era algo além do normal, algo mágico. Eu, no entanto, não acreditava nisso. Minha única realidade era o orfanato e a cidade pequena de Elantris, com sua costa marítima e suas ruas estreitas e charmosas.

A praia de Elantris, sempre coberta de areia dourada, era o meu refúgio. Todos os dias, eu ouvia o som das ondas quebrando nas pedras e sentia a maresia no rosto, como um abraço fresco e salgado. O vento corria pelos meus cabelos, e eu me deixava levar pela sensação de liberdade, mesmo que fosse por poucos minutos. As embarcações com suas redes de pesca chegavam, e eu ajudava os pescadores sempre que podia, pegando os peixes para vendê-los no mercado. Eles eram amigáveis comigo, sempre me oferecendo peixes frescos em troca de minha ajuda. E, ao mesmo tempo, eu sentia uma estranha mistura de tristeza e gratidão. A vida simples que eu levava me permitia sobreviver, mas não me fazia feliz.

Elara sempre dizia que eu deveria ser grata pelo que tinha, mas como poderia ser? Eu sempre me senti perdida em um mundo que não entendia. Sozinha, com o meu rosto angelical que escondia uma personalidade forte, dura. Minha vida era marcada pela necessidade de sobrevivência, de fazer tudo sozinha, de não confiar em ninguém. Eu me tornei dura como as rochas que cercavam a praia, imune às tentativas de qualquer pessoa de se aproximar.

As noites eram as piores. Os pesadelos se tornaram frequentes, visões horríveis de um rosto pálido com olhos azuis penetrantes. Esse rosto me perseguia, me assombrava, e eu nunca soube o porquê. Sempre me acordava antes de ver o fim, mas o peso da dor me marcava, como se eu tivesse sido ferida por algo invisível. Às vezes, o impacto do golpe de faca parecia real. E eu sabia, de algum modo, que aquele rosto, aquele ser, tinha algo a ver com o meu destino.

"É só um pesadelo", eu dizia a mim mesma, tentando me convencer de que tudo o que vivia era uma ilusão. Mas eu sabia, no fundo, que a dor era real. Minha vida foi marcada pela solidão, pela rejeição, pela ausência de uma família. A única coisa que restava era a luta diária, o mar, e os pescadores que me viam como uma simples jovem que ajudava em troca de comida. E isso, de alguma forma, era o suficiente. Eu não precisava de mais nada.

Mas o que eu não sabia, o que eu nunca imaginei, é que minha história estava prestes a mudar de uma maneira que eu jamais poderia prever.

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Atualizado até capítulo 57

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