O recomeço e os fragmentos de uma memória passada

Desde os meus dez anos, uma estranha sensação de déjà-vu me acompanhava. Era como se lembranças de uma vida que não era a minha, mas que ainda assim parecia muito real, se misturassem à minha mente. À noite, eram os pesadelos que me assombravam. Eu via aquela cena repetidamente: ela, em frente a mim, sendo tragada pela escuridão, enquanto eu nada podia fazer para impedir. Cada vez que eu acordava, o grito dela ainda ecoava em minha cabeça. Eu não sabia quem ela era, mas o vazio que deixou em meu coração era insuportável.

Quando completei 14 anos, as lembranças começaram a inundar minha mente com uma intensidade devastadora. Eu não podia mais ignorá-las. Elas eram vívidas, reais, como se fossem minhas próprias experiências. A dor, a perda, tudo o que vivi... A morte dela, o amor que compartilhamos, as promessas não cumpridas. Era como se uma parte de mim estivesse presa em uma outra era, uma época que não mais existia.

Mas havia algo de estranho nessas memórias. Elas não pertenciam a uma vida comum, eram de um período distante. A sensação de perda estava profundamente entrelaçada com o sentimento de um juramento não cumprido. “Eu a encontrarei novamente”, pensei com toda a minha força, como se isso fosse minha única razão para viver.

Determinado a cumprir meu voto, comecei a me dedicar à esgrima, treinando dia e noite. Sabia que, para encontrá-la, precisaria de forças além do que qualquer pessoa normal poderia alcançar. A espada se tornou minha aliada, o combate uma extensão da minha própria alma.

E assim, os anos passaram. Cada batalha que venci, cada guerra que enfrentei, eram etapas de um plano maior, um caminho que me levaria de volta a ela. Eu não sabia onde ela estava, nem como seria esse reencontro ou se ela estava nesse mundo Minha ascensão nas fileiras militares foi gradual, mas inevitável. Cada vitória me impulsionava para mais alto. Quando finalmente fui chamado para servir como guarda pessoal do Marquês André, um dos homens mais poderosos de minha terra, eu sabia que aquele era um cargo de honra.

O marquês, um homem astuto e calculista, parecia saber mais do que dizia. E em seus olhos havia algo que me fazia sentir que ele talvez estivesse mais conectado à minha jornada do que eu imaginava.

Eu estava pronto para enfrentar qualquer coisa. Afinal, minha espada não era apenas uma arma, mas o símbolo de um juramento inquebrantável. Eu a encontraria. E quando o fardo da memória se dissipasse, finalmente teria a chance de corrigir o que foi perdido.

Uma guerra já se estendia há meses, e o reino estava à beira do colapso. As linhas de frente eram instáveis, com batalhas cada vez mais sangrentas. Em cada conflito, sentia o peso de cada vida perdida, de cada grito abafado pela fumaça da guerra. O marquês André, que até então parecia sempre em controle, estava inquieto. Ele sabia que algo maior estava por vir, algo que nem mesmo sua astúcia poderia evitar. Um golpe de estado estava prestes a se desenrolar, e os sinais estavam claros: a corte estava dividida, e as facções dentro do reino se preparavam para um confronto que mudaria tudo.

Uma noite, o marquês me chamou para sua sala privada. O olhar em seus olhos era sério, como se ele carregasse um peso que há muito tempo tentava esconder.

— O rei me pediu um favor — disse ele, sua voz grave e cheia de tensão. — A princesa está em perigo. O filho mais velho do rei, o príncipe, morreu em batalha, e agora o trono está em jogo. Alguns querem a princesa fora do caminho, outros têm planos de usá-la para fortalecer suas próprias ambições.

Eu sabia exatamente o que isso significava. A princesa não era apenas uma figura importante por seu sangue real; ela era a chave para a estabilidade do reino. Sua morte, ou pior, sua captura, significaria um caos incontrolável.

O marquês olhou-me diretamente nos olhos, e sua voz se suavizou, mas não havia dúvida em sua expressão.

— Confio em você mais do que em qualquer outro homem. A princesa precisa ser protegida, e você será seu guarda pessoal agora. Leve-a para o refúgio seguro que preparei na fronteira, ninguém mais pode saber disso.

A responsabilidade foi colocada sobre meus ombros, mais pesada do que qualquer batalha que eu já tivesse enfrentado. Eu tinha treinado minha vida inteira para lutas físicas, para combates, mas isso era diferente. Eu não estava indo para a guerra. Eu estava indo para proteger alguém, alguém que eu mal conhecia, mas que agora, pela situação, tinha um papel fundamental em minha missão.

Na manhã seguinte, fui levado aos aposentos da princesa. Quando entrei, ela estava em pé perto de uma janela, olhando a cidade. Sua expressão era distante, como se já soubesse da tragédia iminente.

Ela não me olhou de imediato, mas sua voz ecoou suave na sala.

— Você é o guarda pessoal do marquês não é? — Ela disse sem virar. — Não sou uma criança, você pode parar de me proteger como se fosse. Sei o que está acontecendo. Sei o que os conspiradores querem.

A princesa Alina, tinha apenas 18 anos, mas a dor de sua perda recente estava visível em seu rosto. O príncipe, seu irmão mais velho, havia sido morto na última batalha. Sua morte, além da dor emocional, causou uma instabilidade política, pois agora, com a morte dele, a linha sucessória estava fragilizada. Era uma oportunidade para os inimigos do reino e da família real se moverem.

Ela se virou finalmente para mim, e algo em seus olhos me disse que ela não era como as outras nobres que eu havia conhecido. Sua frieza era apenas uma fachada para a dor e o medo que ela escondia.

— Não tenho escolha, não é? — Ela perguntou, quase como se estivesse falando consigo mesma. — Vou depender de você para sair desse castelo e chegar em segurança, mas… você realmente acredita que podemos salvar este reino?

Eu a observei, sentindo o peso da sua pergunta. Não tinha respostas fáceis. Não havia um caminho claro para a vitória. O reino estava dividido, e os aliados do rei estavam sumindo, enquanto os traidores cresciam em número. O golpe de estado já estava em andamento, e o próprio marquês, apesar de ser aliado do rei, estava ficando cada vez mais isolado.

— Farei o que for preciso para mantê-la segura, princesa — respondi, com a mesma determinação que havia jurado quando ainda era um garoto, quando treinava para encontrar a mulher de minha vida passada. Agora, minha missão era diferente, mas o princípio era o mesmo: proteger o que amava, custasse o que custasse.

A princesa, relutante, assentiu, embora visivelmente não acreditasse totalmente em minhas palavras. Sabia que ela tinha pouca escolha senão confiar em mim agora.

Naquela mesma noite, o golpe de estado finalmente se desenrolou. As portas do castelo se abriram com o som de gritos e a movimentação frenética de soldados. Enquanto o caos tomava o castelo, eu estava pronto. A missão estava clara: levar a princesa para um lugar seguro, onde o marquês e os poucos leais ao rei pudessem reagrupar-se e tentar salvar o reino de um golpe de estado

Uma dúvida pairava em minha mente: quem realmente estava por trás desse golpe? O marquês André? Ou alguém mais, esperando para tomar o trono? E, mais importante ainda, seria a princesa realmente a chave para salvar o reino? Ou seria ela o próprio alvo?

A jornada estava apenas começando, e as respostas estavam mais distantes do que nunca.

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