Capítulo 6

O trem cortava o silêncio da noite, suas luzes suavemente refletidas nas janelas, enquanto Yuki se acomodava em seu assento, perdida em pensamentos. À medida que os quilômetros se estendiam, seu coração batia mais rápido, o que antes parecia ser uma decisão clara agora estava envolto em uma neblina de incerteza. Mesmo com as palavras de Haruto e Sayuri ecoando em sua mente, uma sensação de dúvida a envolvia. E se ela estivesse fugindo, em vez de se encontrando? E se essa jornada não fosse uma solução, mas apenas uma forma de escapar das coisas que não podia enfrentar?

O trem desacelerou, e Yuki se viu diante de uma pequena estação à beira de uma cidade que nunca ouvira falar. Ela deveria descer ali. Era o destino, ou pelo menos, o que parecia ser a direção que seu coração indicava. Mas a estação era estranhamente silenciosa. Sem pessoas à vista, apenas a vastidão da paisagem escura e as luzes tênues das construções distantes. Não havia mais ninguém para orientar seus passos.

Ao sair do trem, o ar gelado tocou seu rosto, e ela sentiu uma leve sensação de perda. O destino não estava mais claro. Ela caminhou pela estação vazia, a luz da lua refletindo nas trilhas de pedras, tentando decidir se deveria continuar sua caminhada pela cidade ou voltar para a segurança do trem. Mas, antes que pudesse tomar uma decisão, uma voz suave e inesperada chamou sua atenção.

— Você é Yuki, não é? — A voz feminina estava carregada de uma suavidade que a fez parar no lugar.

Ela virou-se para encontrar uma figura diante dela, uma mulher com cabelos curtos e castanhos, vestindo uma capa escura. Sua aparência era familiar de alguma forma, mas Yuki não conseguia lembrar de onde a conhecia. O rosto da mulher parecia refletir a luz da lua de uma maneira estranha, como se ela estivesse ali, mas ao mesmo tempo distante.

— Quem é você? — Yuki perguntou, sem esconder a surpresa e a desconfiança.

A mulher sorriu, uma expressão enigmática, como se soubesse algo que Yuki não entendia.

— Meu nome é Haruka — respondeu ela. — E eu tenho algo para você.

Antes que Yuki pudesse questionar mais, Haruka puxou de dentro de sua capa um pequeno envelope. Era simples, sem qualquer marca ou identificação, mas, de alguma forma, parecia carregar um peso imenso. Yuki hesitou por um momento, mas então estendeu a mão, recebendo-o.

— O que é isso? — perguntou, olhando para o envelope, que parecia quase... etéreo, como se tivesse surgido do próprio ar.

— É o próximo passo — disse Haruka, sua voz tranquila, mas carregada de um tom profundo e misterioso. — Dentro dele, você encontrará o que precisa saber.

Yuki olhou para o envelope, sentindo seu coração acelerar. Algo na maneira como a mulher falava parecia tocar um lugar profundo dentro dela. A mulher parecia saber algo que ela não sabia sobre si mesma, uma verdade escondida nas sombras. Com a mão trêmula, Yuki abriu o envelope. Dentro, havia uma carta, com palavras escritas em tinta preta e firme.

Mas, ao ler as primeiras linhas, seu estômago se revirou. As palavras eram simples, mas carregadas de um significado que a fez gelar:

*"Você não deveria estar aqui, Yuki. O caminho que você escolheu não é o seu. Você está em um lugar onde nada é real. Tudo foi uma ilusão."*

Yuki não conseguia entender. A mensagem parecia um pesadelo, algo fora de lugar. Ela olhou para Haruka, que a observava com um olhar sereno, como se soubesse que a resposta estava prestes a se revelar.

— O que significa isso? — Yuki perguntou, a voz falhando, sentindo o peso da carta em suas mãos como se ela fosse feita de pedra.

Haruka deu um passo à frente, e seus olhos brilharam com uma intensidade que Yuki nunca tinha visto antes. Era como se a mulher estivesse se tornando uma presença mais forte, mais tangível, à medida que falava.

— Significa que tudo o que você conheceu até agora foi uma construção, uma realidade que você mesma criou para se proteger. Mas a verdade, Yuki, é que você está sendo guiada por algo que não é seu, e é por isso que sente essa desconexão. O que você está procurando, o que você está buscando, não está fora de você. Está dentro de você, mas você precisa enfrentá-lo.

A mensagem estava clara, mas Yuki não conseguia digerir tudo de uma vez. Ela olhou para a cidade diante dela, agora mais estranha do que nunca, como se tivesse sido colocada em um cenário falso. A cidade ao redor parecia ser um eco de algo perdido, algo distante.

— Como você sabe disso? Como você sabe o que eu estou sentindo? — Yuki perguntou, a angústia crescendo dentro de si.

Haruka deu mais um passo, e dessa vez sua voz estava mais suave, como se estivesse compartilhando um segredo.

— Porque eu também já estive onde você está, Yuki. Todos nós passamos por esse momento. Quando nos perdemos de nós mesmos, quando seguimos uma direção errada porque acreditamos que é o único caminho. Mas a verdade... a verdade é que você não está perdida. Você apenas precisa voltar para casa.

Yuki sentiu uma onda de confusão e clareza ao mesmo tempo. Não sabia o que era real e o que não era, mas as palavras de Haruka, embora misteriosas, começaram a ressoar dentro dela, como uma melodia esquecida que agora começava a fazer sentido. Ela olhou para a carta em suas mãos, tentando entender seu significado, mas ao invés de mais respostas, só encontrou mais perguntas.

E então, como se tudo estivesse sendo colocado à prova, ela ouviu uma voz distante, uma voz que ecoava em sua mente e no ambiente ao seu redor, uma voz que parecia ser a chave de tudo.

— Yuki... você está em uma encruzilhada. Qual caminho você escolherá agora?

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