Maxim

Minha noite com Júlia nunca é a mesma, ela sempre me surpreende com um movimento e posição diferente. Não posso negar que amo essa naturalidade dela em me receber em seu corpo mesmo sendo desproporcional. Ela não reclama e sente prazer com isso, o que me faz delirar junto com ela.

Estamos presos na mansão há pouco mais de oito dias, e o que mantinha ela ocupada agora não prende mais. Nos últimos dias ela passou horas ao telefone com a família, mas parece que isso não está mais acontecendo e ela percebeu que estou a mantendo presa aqui dentro.

— Não vai me levar para algum lugar legal da Rússia? Está me mantendo presa?

— Sim, estou! Para o seu bem.

— Como tem coragem de confessar com essa tranquilidade? Vai pelo menos me falar o motivo?

— Dmitry é o motivo! Ele está fechando o cerco a minha volta procurando por você. Não posso permitir que ele chegue a você, estou pensando numa viagem e ficar fora da Rússia por alguns anos.

— Eu pensei que você fosse o perigo lá fora, não esse homem.

Dou uma risada e ela me olha sem entender, de fato sou mais temido que o Dmitry e mais respeitado também. Só que quando se trata de rastrear algo que ele quer muito posso dizer que é pior que um cão farejador treinado a vida inteira.

— Sim, moya lyubov’, sou mais temido e respeitado em todo território russo. Mas não subestimo meus inimigos, eles também vieram de onde eu vim e se estão vivos é porque são tão bons quanto eu.

— Quando poderemos sair daqui um pouco?

— Ainda não tenho uma resposta para você, mas quando tiver a levarei para o lugar mais lindo da minha Rússia. É uma promessa.

Dou um beijo nela, nos sentamos e conversamos um pouco mais. A verdade é que minha mente está em conflito comigo, como vou prometer algo para ela se lá fora Dmitry está no meu rastro procurando por ela?

Preciso de um plano, um que me permita sair e voltar sem que ele me siga. Preciso que ele me veja sozinho e acredite na minha mentira, mesmo eu odiando mentir.

— Maxim? Está me ouvindo?

— Desculpa, moya lyubov’, eu estava pensando em algo que preciso fazer! Mas o que foi?

— Minha mãe está me ligando, vou atender lá no quarto! Fique à vontade no seu escritório.

Ela sai falando com a mãe e eu fico aqui bolando meu plano para sair de casa, meu problema não é apenas ser seguido por Dmitry. Júlia não pode me acompanhar, ela provavelmente vai querer ir. Preciso ligar para o Alexei.

— “Você não deveria me ligar, deveria esperar minha ligação.”

— “Não acha que está indo longe demais, Alexei?”

— “Sabia que eu poderia estar preso agora sendo torturado para contar onde você está e essa merda de ligação te entregar em trinta segundos fazendo tudo o que eu passei ser em vão?”

— “Não pensei por esse lado!”

— “É, eu sei que não. O que precisa?”

— “Vou para a mansão que era dos meus pais! Se Dmitry me quer ele terá. Quero ouvir o que ele tem para dizer, depois disso usaremos o plano de rota de fuga que criamos anos atrás para que eu possa voltar para a Júlia.”

— “Arriscado, mas como você é mais teimoso que uma mula vou dar um jeito. Mas por que está fazendo algo tão arriscado?”

— “Descobri hoje pela manhã que tem alguns homens dele por aqui no bairro onde fica a área comercial. Para ele, encontrar essa mansão pode levar alguns dias, mas não será impossível. Comigo a vista por alguns dias tenho certeza que ele vai recolher o pessoal dele.”

— “Vai trazer a Júlia com você?”

— “Virou humorista por acaso?”

Termino a ligação, assim que desligo penso em como contar para a Júlia que amanhã pela manhã terei que viajar. Mas apenas passo o resto do dia com ela e durante o jantar dou um sedativo para ela.

Sei que vai despertar furiosa comigo, mas é algo necessário. Já passa das cinco da manhã, dou uma última olhada para Júlia dormindo e saio da mansão em um carro novo. Deixo apenas um bilhete com a verdade e espero que ela entenda.

Depois de três horas dentro do carro chego na minha mansão, a que era dos meus pais. Tivemos que trocar de carro no meio do caminho ou esse plano não daria certo. Júlia me liga assim que desperta e está furiosa como imaginei.

— “Como você faz uma coisa dessas comigo e deixa apenas a merda de um bilhete explicando tudo e não me permite ao menos me despedir de você?”

Ela não me deixa falar após atender ao telefone, chora e me xinga por quase meia hora até que se acalma e eu pergunto:

— “Iria mesmo permitir a minha saída sem você para ficar longe por alguns dias?”

— “Eu não sei! Mas me apagar e sair escondido não foi legal.”

— “Por favor, foi necessário. Se eu prometer contar tudo sobre meu inimigo quando eu voltar você promete se comportar e esperar por mim?”

— “E eu tenho outra opção? Você já não está aqui mesmo. Vou te esperar só para te punir. Acho bom estar preparado para a minha vingança.”

— “Não faz isso. Também não está sendo fácil para mim ficar longe de você, sabia? Eu… YA tebya lyublyu.”

— “O que você falou? Sabe que ainda não entendo seu idioma.”

— “Vou te dizer o que isso significa, mas pessoalmente e não por telefone. Só espera por mim que logo estarei de volta.”

— “Eu… Odeio você.” — ela fala e parece estar chorando.

— “Por que me odeia, Júlia?”

— “Vai saber quando voltar para casa!”

Ela desliga e eu fico apenas olhando para o meu celular até que Alexei entra chamando a minha atenção.

— Você conseguiu, ele já sabe que você está aqui e pelo que o meu informante me contou, Dmitry estará aqui em meia hora. Está preparado para recebê-lo?

— É melhor ficar com a minha arma, do jeito que estou vou atirar nele!

Pego uma garrafa de conhaque e me sento. Alexei pega dois copos e puxa a garrafa da minha mão sabendo que a minha intenção era tomar tudo sozinho. Agora preciso apenas esperar meu convidado.

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