A Primeira Noite
A mansão estava silenciosa naquela noite. A chuva que começava a cair suavemente no telhado só intensificava o peso do silêncio que pairava no ar. Isadora se encontrava diante do espelho, ajeitando o vestido longo, a seda branca deslizando sobre sua pele. O cabelo estava preso em um coque simples, mas elegante, e ela ainda tentava se convencer de que o evento à frente não seria tão insuportável quanto parecia.
Ela olhou para si mesma uma última vez. Seus olhos refletiam uma mistura de insegurança e uma estranha esperança que ela tentava abafar. Ela não sabia se deveria se sentir nervosa, ansiosa ou indiferente. A verdade é que ela não sabia o que esperar do jantar com Dante.
O som de passos firmes ecoou pelo corredor, e ela sabia que ele estava chegando. Dante entrou na sala, seu olhar sempre calculista, como se nada fosse importante o suficiente para chamar sua atenção. Ele vestia um terno preto impecável, que lhe dava um ar de autoridade inquestionável. Quando seus olhos se encontraram, não havia calor, apenas uma frieza que parecia atravessar tudo.
Isadora forçou um sorriso. “Boa noite, senhor.”
Ele a olhou por um momento, sem um único movimento que indicasse qualquer tipo de carinho. “Boa noite”, respondeu ele, a voz sem vida, a expressão inalterada. Ele se sentou à mesa sem dizer mais nada, e Isadora, hesitante, fez o mesmo.
O jantar foi servido em silêncio, com empregados entrando e saindo da sala, colocando os pratos sem um único olhar trocado. Isadora tentou, sem sucesso, encontrar algo em que se agarrar. Um gesto de carinho, um sinal de que, talvez, Dante pudesse enxergar algo mais nela, mas tudo o que sentia era uma parede de indiferença.
Ela mexeu a colher lentamente na sopa, as palavras presas em sua garganta. Tentou começar uma conversa, buscando algo para quebrar o gelo. “O jantar está excelente, senhor. Eu... nunca vi uma mesa tão bem posta.”
Dante, com os olhos fixos no prato, não tirou os olhos do alimento. “Você está aqui há dias, Isadora. Deve saber que não faço isso por diversão. Tudo tem um propósito.”
A resposta dele foi direta, fria. Como se ela fosse parte do cenário, e nada mais.
Isadora engoliu em seco, sentindo o coração apertado. O que ela esperava? Amor? Compreensão? Ela sabia, no fundo, que estava se enganando. Mas, ainda assim, tentava encontrar um fio de humanidade naquele homem que parecia tão imune a qualquer tipo de afeto.
Ela suspirou e tentou de novo, mais suave desta vez. “Eu sei que o casamento foi uma formalidade, senhor... mas você acha que algum dia... podemos nos entender? Eu... quero ser útil. Quero que as coisas funcionem.”
Dante levantou os olhos pela primeira vez, fixando-a com um olhar gélido. “Entender? O que você quer dizer com isso, Isadora?”
Ela hesitou, tentando reunir coragem. “Eu sei que o casamento não significa nada para você. Mas talvez... talvez para mim, signifique mais. Talvez eu... eu possa aprender a... lidar com isso.”
Ele se recostou na cadeira, a expressão impassível. “Lidar com isso? Está falando de... fazer de conta que isso é algo real?”
A risada que veio de seus lábios não foi de divertimento, mas de desdém. “Você está aqui, porque isso te convém, Isadora. Nada mais. Eu não preciso de amor. Não preciso de você como esposa. Preciso de alguém que saiba seu lugar. Alguém que aceite a sua posição.”
Isadora sentiu uma pontada no peito. Aquelas palavras cortaram como uma lâmina afiada. Ela não sabia o que mais esperar. Talvez tivesse se iludido, pensando que ele poderia vê-la de outra forma. Mas, naquele momento, ela soube que ele não a via como mais do que uma obrigação. Era apenas um contrato. Nada mais.
Ela olhou para o prato, forçando-se a comer. A comida estava boa, mas o amargor nas palavras dele parecia engolir seu apetite. Dante não se importava. Ele não estava ali para entender suas necessidades ou sentimentos. Ele apenas estava... presente, fisicamente.
A noite seguiu em um silêncio desconfortável, interrompido apenas pelos sons ocasionais dos talheres e dos passos dos empregados. Isadora tentou não deixar que a frustração tomasse conta, mas era difícil. As palavras de Dante, tão cruéis e diretas, ficaram gravadas em sua mente. “Não preciso de você como esposa.” Era isso que ela era? Apenas uma peça no jogo dele?
Finalmente, o jantar chegou ao fim. Dante se levantou primeiro, com a mesma indiferença que havia demonstrado durante toda a refeição.
“Você pode ir. Preciso de um tempo sozinho”, disse ele, virando-se sem mais palavras.
Isadora ficou ali, sozinha à mesa, olhando para o prato vazio. O peso daquelas palavras ainda pesava em seu peito. Ela levantou-se lentamente, tentando controlar as lágrimas que ameaçavam cair. Ela sabia que não havia mais o que fazer. Ele estava certo. Nada disso era real. Ela não era mais do que uma formalidade para ele.
Enquanto se retirava da sala, seus passos ecoavam vazios. Ela não sabia como aquilo iria terminar, mas uma coisa estava clara: o casamento deles jamais seria um conto de fadas. E, talvez, ela nunca tivesse a chance de fazer Dante ver quem ela realmente era.
Ao fechar a porta do quarto, Isadora deixou-se cair na cama, os olhos fixos no teto. A escuridão da noite parecia envolver tudo ao seu redor, e ela se perguntava se algum dia conseguiria encontrar uma forma de se aproximar dele. Mas, por enquanto, tudo o que restava era a frieza e o vazio.
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Atualizado até capítulo 22
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