O burburinho dos corredores preenchia o ambiente da escola enquanto os alunos se movimentavam entre as aulas. Sabrina seguiu até seu armário, girou a combinação do cadeado e abriu a porta com um suspiro. Mas, assim que seus olhos pousaram no interior, um peso inesperado se instalou em seu peito.
Ali, no fundo do armário, estava um buquê de flores murchas.
O mesmo que Hugo havia lhe dado antes das férias.
Sabrina ficou alguns segundos encarando aquelas pétalas ressecadas, a lembrança do dia em que ele as entregou passando como um filme em sua mente. Naquele momento, ela havia segurado aquelas flores com tanto carinho, acreditando que o amor que sentia por ele era forte, inabalável. Mas agora… Agora aquilo não passava de um símbolo do passado, de algo que não existia mais.
Seu olhar se endureceu.
Sem hesitar, pegou o buquê e saiu andando com passos firmes pelo corredor. Seu destino era claro.
Ao avistar a lixeira mais próxima, Sabrina não hesitou. Com um movimento decidido, jogou as flores dentro do cesto sem olhar para trás.
Mas quando ergueu os olhos, sentiu seu coração dar um leve solavanco.
Hugo estava bem à sua frente.
Por um instante, os dois apenas se encararam. Havia surpresa nos olhos dele, enquanto nos de Sabrina havia apenas indiferença.
Hugo: O que você jogou?
Sabrina cruzou os braços, mantendo o olhar firme.
Sabrina: Isso não é da sua conta.
Mas Hugo já havia notado o que era. Ele franziu o cenho, abriu a lixeira e viu o buquê entre os papéis amassados e restos de material escolar.
Por um momento, um pequeno sorriso brincou em seus lábios.
Hugo: Você ainda tinha isso?
Sabrina: Não importa. Agora está no lixo.
Hugo voltou o olhar para ela, com uma expressão divertida.
Hugo: Você guardou esse tempo todo…
Sabrina estreitou os olhos e cruzou os braços.
Sabrina: Se gostou tanto da ideia de eu ter guardado, eu posso comprar flores novas pra você.
Hugo riu baixo, balançando a cabeça.
Hugo: Isso seria estranho. Eu que deveria comprar flores pra você.
Sabrina sorriu, mas foi um sorriso frio.
Sabrina: Eu daria flores pra você porque você está morto pra mim.
As palavras saíram afiadas como lâminas, cortando direto o peito de Hugo. O sorriso dele se desfez no mesmo instante, dando lugar a um olhar vazio, machucado.
Ele ficou mudo.
Sabrina, por outro lado, não demonstrou nenhum arrependimento. Apenas ergueu o queixo e seguiu seu caminho pelo corredor, indo ao encontro de Camila.
Camila já a esperava perto do próprio armário, folheando um caderno distraidamente. Quando viu a prima se aproximando, percebeu o brilho intenso em seu olhar, como se Sabrina tivesse acabado de fazer algo libertador.
Camila: O que foi? Tá com uma cara de quem venceu na vida.
Sabrina sorriu de lado, sem diminuir o ritmo dos passos.
Sabrina: Digamos que eu acabei de enterrar um morto.
Camila franziu o cenho, confusa, mas depois arregalou os olhos ao entender o que a prima quis dizer.
Camila: Ai, meu Deus, o que você fez?
Sabrina: Só joguei umas flores velhas no lixo.
Camila riu, balançando a cabeça.
Camila: Fala sério, queria tanto ter visto isso.
Sabrina apenas deu de ombros, sentindo uma leveza tomar conta de si. Como se, aos poucos, tudo que um dia a prendeu ao passado estivesse se desfazendo, dando espaço para algo novo. Algo que ela ainda não sabia o que era, mas que estava pronta para descobrir.
A sala de aula estava relativamente tranquila quando Sabrina e Camila entraram, ainda rindo baixo da conversa anterior. Os alunos estavam se acomodando, e no quadro, já havia algumas anotações feitas por Lorenzo.
Ele olhou para as duas quando entraram e sorriu educadamente.
Lorenzo: Bom dia, meninas.
Sabrina e Camila sorriram de volta.
Sabrina: Bom dia, professor.
Camila: Oi, professor.
Elas se sentaram em seus lugares e abriram os cadernos, mas Sabrina, por algum motivo, sentia seu olhar voltando para Lorenzo com frequência. Ele caminhava pela sala com uma naturalidade cativante, a postura relaxada, mas ainda assim imponente. Diferente de outros professores, ele parecia próximo dos alunos, sem perder o respeito da turma.
Por algum tempo, Sabrina se perdeu em pensamentos, apenas observando. Lorenzo explicava o conteúdo com clareza, às vezes esboçando sorrisos enquanto gesticulava para tornar a aula mais dinâmica.
Quando terminou de passar a matéria no quadro, ele pegou uma pilha de folhas e começou a distribuí-las pelos alunos.
Lorenzo: Quero que vocês colem esse texto no caderno e façam uma pequena reflexão sobre ele.
Sabrina aproveitou a chance.
Quando Lorenzo chegou à sua mesa para entregar o papel, ela pousou a mão delicadamente sobre a dele, sentindo a leve aspereza dos dedos dele contra os seus. Lorenzo parou, surpreso pelo toque, e olhou para Sabrina, que sorria de forma travessa.
Sabrina: Professor, você acredita em tarô?
Lorenzo ergueu uma sobrancelha, sorrindo.
Lorenzo: Nunca fiz isso.
Sabrina inclinou levemente a cabeça, interessada.
Sabrina: Sério? Nunca nem tiraram para você?
Lorenzo: Nunca.
Ele cruzou os braços, como se analisasse Sabrina de um jeito curioso.
Lorenzo: Mas pelo visto, você faz.
Sabrina deu de ombros, com um brilho divertido no olhar.
Sabrina: Faço sim.
Lorenzo riu baixo e balançou a cabeça.
Lorenzo: Você realmente é surpreendente, Sabrina.
Sabrina riu junto, mordendo de leve o lábio antes de perguntar:
Sabrina: Quer fazer uma tiragem?
Lorenzo ficou pensativo por um instante. Sabrina esperava que ele recusasse, mas então ele sorriu de lado e concordou.
Lorenzo: Por que não?
Nesse instante, a turma inteira pareceu despertar. Murmúrios começaram a surgir entre os alunos, e olhares curiosos se voltaram para eles.
Camila, que estava ao lado, observou a cena com um sorriso travesso. Quando Sabrina pegou seu baralho de tarô da bolsa e começou a embaralhar, Camila fez um pequeno gesto com a mão, puxando levemente a orelha.
Sabrina percebeu de imediato.
Ela entendeu o recado: Aproveite a chance.
Segurando o riso, Sabrina voltou sua atenção para as cartas, concentrando-se na energia de Lorenzo.
Ela finalizou o embaralhamento e olhou para ele, agora de frente para sua mesa.
Sabrina: Seu signo é aquário, não é?
Lorenzo arregalou levemente os olhos, surpreso.
Lorenzo: Como você sabe?
Sabrina sorriu.
Sabrina: Intuição. Acho que minha espiritualidade está ficando forte.
Lorenzo riu, impressionado.
Lorenzo: Já estou gostando disso.
Sabrina: Você quer perguntar algo específico ou prefere um conselho para o futuro?
Lorenzo cruzou os braços, pensativo, antes de responder:
Lorenzo: Vamos com conselhos para o futuro.
Sabrina assentiu, embaralhou as cartas mais uma vez e pediu para ele cortar o baralho. Em seguida, abriu em um leque sobre a mesa e o encarou.
Sabrina: Escolha três cartas.
Lorenzo analisou por um momento antes de pegar três cartas e entregá-las a ela.
Sabrina sentiu um arrepio percorrer sua pele enquanto analisava as cartas sobre a mesa.
Ela respirou fundo antes de começar a leitura.
Sabrina: A primeira carta que você tirou foi O Enforcado.
Ela ergueu os olhos para Lorenzo, que a observava com atenção.
Sabrina: Essa carta indica que você precisa ir com calma e ter paciência. Às vezes, a melhor coisa a se fazer é esperar e observar antes de agir. Nada que realmente vale a pena acontece de uma hora para outra.
Lorenzo assentiu, parecendo refletir sobre aquilo.
Sabrina virou a segunda carta.
Sabrina: Aqui temos Os Amantes.
Um burburinho percorreu a sala, e Camila precisou se segurar para não rir.
Sabrina: Essa carta fala sobre escolhas no amor, mas também pode indicar um relacionamento complicado… ou até proibido.
Ela levantou o olhar, encontrando os olhos de Lorenzo por um instante.
Sabrina: Isso significa que você deve estar atento, porque um grande amor pode entrar na sua vida.
Lorenzo arqueou uma sobrancelha, sorrindo de lado.
Lorenzo: Um amor proibido? Isso está ficando interessante.
Os alunos ao redor soltaram pequenas risadas, atentos à interação entre os dois.
Sabrina virou a terceira carta.
Sabrina: A Roda da Fortuna.
Houve mais um pequeno “ooooh” coletivo dos alunos.
Sabrina: Essa carta fala sobre mudanças inesperadas. Algo está prestes a mudar na sua vida. Pode ser uma surpresa boa… ou ruim.
Lorenzo inclinou a cabeça, pensativo.
Lorenzo: Interessante.
Sabrina virou a última carta, aquela que seria o conselho final.
Sabrina: E por fim, temos O Sete de Espadas.
Dessa vez, Lorenzo franziu a testa.
Sabrina: Essa carta aconselha cautela. Ela alerta que nem todo mundo ao seu redor é confiável. Pode indicar segredos, enganos ou pessoas que não são o que parecem ser.
Lorenzo ficou em silêncio por um instante, absorvendo tudo.
Depois, sorriu de lado e cruzou os braços.
Lorenzo: Sabe, Sabrina… Eu não esperava gostar tanto disso. Mas você realmente sabe o que está fazendo.
Sabrina sorriu, satisfeita. Lorenzo retorna à sua mesa.
Camila cutucou seu braço levemente e cochichou:
Camila: Acho que ele levou isso a sério.
Sabrina apenas lançou um olhar cúmplice para a prima antes de guardar as cartas.
Mas no fundo, uma parte dela sabia que aquela leitura não era apenas uma brincadeira, a única coisa que ela aumentou foi a parte do amor proíbido.
Ela mesma sentia que algo estava prestes a mudar. E não sabia se isso era uma coisa boa… ou ruim.
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Atualizado até capítulo 45
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