Sabrina: Não sou eu que estou complicando as coisas. Você tomou sua decisão. Agora eu estou tomando a minha.
Ela deu um passo à frente, sua voz firme.
Sabrina: Eu vou te excluir completamente da minha vida.
Hugo sentiu o peito apertar, ele aumenta o tom de voz.
Hugo: Você devia respeitar o fato de que eu ainda te amo.
Sabrina bateu a mão na mesa com força.
Sabrina: Abaixe sua voz. Eu odeio má educação.
Hugo respirou fundo, passou as mãos no rosto, frustrado. Quando abaixou a cabeça, uma lágrima escorreu. Sabrina o observou por um instante, mas logo endureceu a expressão.
Sabrina: Você fez essa escolha. Não me culpe por isso.
Ela abriu a mochila, pegou a pequena caixa de joias de ouro que ele havia lhe dado tempos atrás e colocou na mesa.
Sabrina: Pode ficar com isso.
Hugo levantou os olhos.
Hugo: Não precisa. É seu.
Sabrina: Eu não quero. Não quero nada que venha de você.
Ela suspirou, olhando para ele uma última vez.
Sabrina: Ah, lembra daquela cueca sua que eu roubei?
Hugo forçou um sorriso nostálgico.
Hugo: Lembro sim.
Sabrina: Eu queimei.
Hugo ficou mudo.
Sabrina se virou e caminhou até a porta. Antes de sair, lançou um último olhar sobre o ombro.
Sabrina: Adeus, Hugo.
Ela saiu sem olhar para trás. Camila se endireitou ao vê-la.
Camila: Tá tudo bem?
Sabrina respirou fundo, secou discretamente os olhos e forçou um sorriso.
Sabrina: Tá. Eu te conto os detalhes no caminho.
E, juntas, saíram da escola, deixando para trás as cicatrizes de um amor que nunca mais voltaria a ser o mesmo.
O vento frio da tarde soprava suavemente enquanto Sabrina e Camila caminhavam lado a lado pela calçada. O sol já começava a se pôr, tingindo o céu de tons alaranjados, e a brisa carregava o cheiro sutil das flores que enfeitavam as casas ao longo do caminho. Mas, para Sabrina, tudo parecia distante, abafado pelo turbilhão de pensamentos que rodopiavam em sua mente.
Ela suspirou, abraçando o próprio corpo como se tentasse conter algo que insistia em escapar de dentro dela.
Camila: E então? Vai me contar o que rolou lá dentro ou eu vou ter que adivinhar?
Sabrina hesitou por um instante, organizando as palavras na cabeça antes de responder.
Sabrina: Ele começou pedindo desculpas…
Camila: Ah, claro. Como se um “desculpa” consertasse tudo.
Sabrina: Exatamente. Ele quer que fiquemos bem, como se pudéssemos ser amigos depois de tudo.
Camila bufou, revirando os olhos.
Camila: Cara de pau.
Sabrina: Pois é. Eu disse a ele que não tinha como sermos amigos. Como eu poderia ser amiga de alguém que um dia foi o amor da minha vida?
Camila olhou para a prima com um semblante mais sério.
Camila: E o que ele disse?
Sabrina: Pediu pra eu não complicar as coisas. Como se eu fosse a responsável por essa bagunça toda.
Camila: Ah, meu Deus! Que ódio! Ele realmente acha que você vai simplesmente aceitar tudo numa boa?
Sabrina: Ele disse que ainda me ama.
Camila ficou em silêncio por um momento, processando aquelas palavras.
Camila: Mas isso não muda nada, né?
Sabrina: Não. Porque ele fez uma escolha. Ele vai ser pai de novo. E sabe o que eu acho tão engraçado, ter outro filho não foi pensamento dele, obviamente foi de Martha e ele nem sequer falou para mim. Se juntarmos as peças, Martha já estava grávida antes das férias, Hugo já tinha esse plano de sumir da minha vida, no ultimo dia ele fez uma surpresa pequena na sala dele, era nossa despedida e eu não sabia…
Camila arregalou os olhos, surpresa.
Camila: O quê?!
Sabrina: Pois é. Ele ainda me pediu pra entender o lado dele.
Camila cruzou os braços, furiosa.
Camila: E ele tentou entender o seu?!
Sabrina deu de ombros, olhando para o chão.
Sabrina: Não importa mais, Camila. Eu disse a ele que estava o excluindo da minha vida. De vez.
Camila ficou em silêncio por alguns instantes, depois sorriu de lado.
Camila: Eu sabia que você era forte, mas hoje você provou que é muito mais do que isso.
Sabrina sorriu, sentindo um pouco do peso se dissipar com aquelas palavras.
Sabrina: Obrigada.
As duas continuaram o caminho em silêncio, cada uma imersa em seus próprios pensamentos. Quando chegaram em casa, o cheiro de temperos e comida quente tomou conta do ar. Ana estava na cozinha, mexendo algo em uma panela, cantarolando baixinho.
Ana: Olha só quem chegou!
Camila: Oi, tia Ana.
Sabrina: Oi, mãe. O que está fazendo?
Ana: Strogonoff. Seu pai ama isso.
Sabrina e Camila subiram rapidamente para o quarto, onde tomaram banho e vestiram roupas confortáveis antes de descerem para ajudar Ana com o jantar. O clima era tranquilo, e por um momento Sabrina se permitiu esquecer tudo o que havia acontecido naquele dia.
Logo depois, Marcos chegou do trabalho, e a família se reuniu à mesa. O jantar foi regado a risadas e conversas leves. Sabrina se sentia grata por ter aquela base firme, aquele lar onde sempre encontrava apoio.
Quando terminaram, Sabrina e Camila tiraram a mesa e começaram a lavar a louça juntas. Camila, como sempre, tentava transformar a tarefa entediante em algo mais divertido.
Camila: Olha só, Sabrina, o seu futuro na espuma do detergente!
Sabrina riu.
Sabrina: E o que ele diz?
Camila: Que você deveria manipular as cartas ao seu favor quando fizer o tarô pro Lorenzo!
Sabrina arregalou os olhos, surpresa.
Sabrina: O quê?
Camila: Isso mesmo! Você poderia fazer uma leitura pra ele e ajeitar as cartas pra dar aquele empurrãozinho no destino!
Sabrina secou as mãos e olhou para Camila, pensativa.
Sabrina: Não sei… Será que ele ia gostar disso?
Camila deu de ombros, sorrindo travessa.
Camila: Só tem um jeito de descobrir.
Sabrina riu, mas ficou com a ideia na cabeça.
Na manhã seguinte, o céu estava limpo e o clima fresco. Sabrina e Camila caminhavam rumo à escola quando avistaram Hugo chegando também. Ele olhou na direção delas, e por um instante seus olhos encontraram os de Sabrina. Foi um olhar carregado de sentimentos não ditos, de um passado que não poderia mais ser mudado.
Camila suspirou ao lado da prima.
Camila: O amor é tão complicado, né? Ele te ama, mas não quer ficar com você porque vai ser pai de novo.
Sabrina manteve os olhos fixos à frente, sua voz firme ao responder.
Sabrina: Não importa. Mesmo que ele quisesse, eu não quero mais.
Camila olhou para ela, surpresa com a convicção em suas palavras.
Camila: Sério?
Sabrina: Sério. Muita coisa aconteceu, muita coisa foi dita. Não tem como voltar atrás.
Ela então sorriu de lado e completou:
Sabrina: Foguete não tem ré.
Camila abriu um sorriso, satisfeita.
Camila: Agora sim, essa é a Sabrina que eu conheço.
As duas seguiram para dentro da escola, deixando Hugo para trás, assim como tudo que ele representava.
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Atualizado até capítulo 45
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