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Capítulo 4 - O Casamento Indesejado

A igreja estava repleta de nobres, cada um vestido com suas melhores roupas para testemunhar o casamento do Visconde Raphael Devereux e a filha mais nova da decadente família Ashford. O burburinho se espalhava como um sussurro traiçoeiro pelas paredes de mármore, e Lilith sabia exatamente o que todos estavam pensando.

"Ele deveria estar casando com Evangeline."

"Por que o visconde aceitou essa mulher apagada?"

"É um casamento forçado. Ele a desprezará."

Ela não podia culpá-los. Afinal, era isso que ela mesma temia.

Lilith parou diante do grande espelho dourado na sala reservada à noiva e encarou sua própria imagem. Seu vestido branco perolado caía perfeitamente sobre seu corpo esbelto, com delicados bordados prateados que pareciam brilhar sob a luz das velas. O véu era longo e refinado, escondendo parte de seu rosto, como uma cortina que separava sua verdadeira identidade do mundo exterior.

Mas o que realmente a escondia eram seus disfarces.

A peruca castanha cuidadosamente ajustada cobria os cabelos prateados que tanto a diferenciavam. As lentes marrons escondiam seus olhos naturalmente verdes e intensos, e a maquiagem suave apagava qualquer vestígio de suas sardas douradas.

A mulher no espelho parecia comum. Apagada. Insignificante.

E isso era exatamente o que ela queria.

A porta se abriu com um rangido baixo, e seu pai entrou. Ele vestia um traje formal, mas a expressão em seu rosto estava carregada de expectativa e tensão.

— Está pronta, Lilith? — sua voz soou como um aviso velado.

Ela endireitou os ombros, ignorando o nó apertado em sua garganta.

— Sim, estou pronta.

E estava. Não porque queria esse casamento, mas porque não tinha escolha.

Com um último olhar para sua própria imagem mascarada, Lilith pegou o buquê e seguiu seu pai até a porta da grande nave da igreja.

O som do órgão preencheu o espaço imenso, e os olhares dos convidados se voltaram para ela enquanto caminhava pelo tapete vermelho. Cada passo parecia ecoar na pedra fria, e seu coração batia forte dentro do peito.

Quando finalmente seus olhos encontraram os dele, um arrepio percorreu sua espinha.

Raphael Devereux.

Ele estava de pé no altar, vestido impecavelmente em um fraque negro com detalhes dourados. Seu porte aristocrático era imponente, e cada linha de seu rosto era esculpida com perfeição. Mas o que mais chamava a atenção eram seus olhos cinzentos, frios e cortantes como lâminas afiadas.

Ele não demonstrou surpresa ao vê-la.

Nem decepção.

Nem raiva.

Apenas indiferença absoluta.

Como se fosse um rei observando uma plebeia insignificante.

A cerimônia começou, mas Lilith mal conseguia ouvir as palavras do padre. Seu corpo estava tenso, suas mãos frias sob as luvas de renda.

— Visconde Raphael Devereux, aceita Lady Lilith Ashford como sua legítima esposa?

O silêncio que se seguiu durou apenas um segundo. Mas para Lilith, pareceu uma eternidade.

— Aceito.

A voz dele era firme, profunda, mas completamente desprovida de emoção.

Lilith sentiu um arrepio de angústia. Ele nem hesitou. Não havia revolta, nem protesto, mas também nenhuma vontade.

Apenas um dever cumprido.

Chegou sua vez.

Ela ergueu o queixo e tentou manter a voz firme.

— Aceito.

O padre prosseguiu e, por fim, os declarou marido e mulher.

Os aplausos ecoaram pela igreja, abafados pela formalidade do momento. Lilith esperou que Raphael ao menos olhasse para ela. Talvez pegasse sua mão. Talvez dissesse alguma coisa.

Mas ele não fez nada disso.

Sem sequer lançar um olhar em sua direção, Raphael simplesmente se virou e começou a caminhar pelo altar, esperando que ela o seguisse.

Nenhum beijo foi dado.

Nenhuma gentileza foi oferecida.

Nenhuma emoção foi demonstrada.

Raphael Devereux não via nela uma esposa. Apenas um incômodo inevitável.

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