Capitulo 5

O sol da manhã invadia o quarto suavemente, mas Natália já estava desperta há horas. Enquanto Olivia dormia profundamente, espalhada na cama de hóspedes como uma estrela-do-mar, Natália encarava seu reflexo no espelho do banheiro. Usava um pijama simples, mas havia algo diferente em seu olhar. Não era mais o da mulher que pedia permissão para existir. Era o da mulher que começava a se lembrar de quem era.

Na cozinha, o cheiro de café fresco preenchia o ar. Natália serviu duas xícaras e esperou Olivia acordar. Não demorou. A amiga surgiu com os cabelos desgrenhados e um sorriso preguiçoso.

— Isso é café ou gasolina? — brincou Olivia, cheirando a xícara. — Porque hoje vai ser um dia de transformação.

— Eu tô decidida, Liv. Vou para o Brasil.

Olivia arqueou uma sobrancelha, surpresa e orgulhosa ao mesmo tempo.

— Vai mesmo?

— Vou. Já pesquisei as passagens. A primeira semana do mês que vem. Vou passar um tempo com a minha mãe, ver o pessoal da faculdade, respirar ar novo. Recomeçar.

— E o Felipe?

Natália respirou fundo.

— Ele já foi embora daqui faz tempo. Só eu que fiquei insistindo em continuar.

Elas se entreolharam por um segundo. Olivia segurou a mão da amiga.

— Então vamos fazer isso direito. Nova vida exige nova versão de você mesma.

No final de semana, as duas foram ao shopping. O clima era de renovação. Olivia parecia uma personal stylist de novela: escolhia roupas com ousadia, incentivava cortes de cabelo, cores de batom, tudo com uma energia contagiante.

— Isso aqui é sua nova armadura — disse Olivia, entregando um vestido vermelho que exalava poder. — Chega de cores apagadas e modelagens largas. Você vai fazer o mundo lembrar de quem é Natália Almeida.

No salão de beleza, enquanto o cabeleireiro mexia nos longos cabelos pretos de Natália, ela se viu cercada por espelhos. E, pela primeira vez, não sentiu vontade de se esconder.

— Pronta para virar protagonista? — perguntou Olivia, do outro lado do espelho.

— Mais do que nunca.

De volta em casa, Felipe assistia TV com o mesmo tédio de sempre. Natália entrou carregando várias sacolas. Ele mal desviou o olhar da tela.

— Comprou o shopping todo?

— Comprei só o que me devolve.

— O quê?

— Autoestima. E um pouco de ousadia.

Ele finalmente a olhou. Natália usava uma blusa decotada, calça justa e salto. O cabelo solto deslizava pelas costas e o batom vermelho acentuava sua boca rosada. Por um instante, Felipe pareceu confuso. Como se não a reconhecesse.

— Você vai sair assim?

— Ainda não. Mas vou.

Ele se levantou, tentando dominar o espaço com sua presença.

— Tá querendo chamar atenção de quem?

— De mim mesma, Felipe. Eu passei anos tentando agradar alguém que nunca me viu de verdade. Agora, quero me olhar e gostar do que vejo.

Felipe a encarou com olhos que misturavam desejo, medo e incredulidade. Ele ainda não entendia que aquela mulher na sua frente não era mais propriedade sua.

— Eu vou pro Brasil — ela completou. — E não é uma fuga. É um reencontro.

— Vai me deixar aqui?

— Não. Eu já te deixei faz tempo. Só tava esperando meu coração entender isso também.

Ela o deixou ali, parado, mudo, como um espectador de um filme que não compreende o final.

Naquela noite, Natália e Olivia brindaram com vinho no terraço.

— A liberdade tem gosto de uva? — brincou Olivia.

— Tem gosto de coragem. E agora, Liv... agora começa a minha história.

Olivia ergueu a taça.

— Ao recomeço. E à mulher que vai fazer o mundo se apaixonar por ela.

Natália sorriu. Pela primeira vez em anos, um sorriso inteiro, com alma.

Ela não sabia tudo o que viria. Mas sabia que, a partir dali, não aceitava menos do que ser plenamente feliz.

Antes e depois de Natália