O café da manhã estava servido, mas o silêncio à mesa pesava mais do que a porcelana dos pratos. Natália colocava frutas em seu prato com delicadeza, evitando o olhar de Felipe que, como de costume, rolava a tela do celular, indiferente.
Olivia, sentada à ponta da mesa, observava a cena como uma espectadora crítica de uma peça ruim.
— Você sempre foi tão gentil assim de manhã ou guarda o charme pro fim do dia? — ela perguntou com ironia.
Felipe ergueu os olhos com um sorriso que parecia mais uma arma do que gentileza.
— Eu sou do tipo que não desperdiça charme com quem não valoriza.
Natália baixou os olhos, mordendo a maçã com discrição. Estava acostumada àquelas alfinetadas — mas algo nela começava a se incomodar de verdade com o veneno por trás dos sorrisos de Felipe.
— E você, Olivia? — ele continuou, deslizando o olhar por ela descaradamente — Ainda solteira?
— Solteira, sim. Mas seletiva — respondeu ela, seca, cruzando as pernas lentamente. — Diferente de quem troca respeito por olhares disfarçados.
Felipe riu baixo, sem se incomodar.
— Eu só estou sendo educado.
— Ah, claro. O velho truque do “eu sou simpático com todo mundo” — rebateu Olivia. — Você chama de educação, eu chamo de teste de território. E você perdeu.
O clima na sala esquentou. Natália se levantou da mesa repentinamente, pegando a caneca.
— Eu vou levar o café pro quarto.
— Tá fugindo de quê, amor? — provocou Felipe.
— Do ridículo — respondeu Olivia por ela.
Natália parou, olhou para Felipe por um breve instante. Não era raiva. Era algo mais profundo: decepção. E talvez ele tenha percebido.
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No quarto, ela sentou-se na beira da cama com a caneca nas mãos. A voz de Olivia ainda ecoava em sua mente. "Você chama de educação, eu chamo de teste de território." Quantas vezes Felipe havia feito isso? Flertado com atendentes, elogiado colegas de trabalho em alto e bom som, mas sempre sob o disfarce da “educação”?
Ela lembrava bem daquela festa no verão passado. A forma como ele passou minutos demais falando com a amiga da vizinha, o jeito como sorriu demais, a mão que “sem querer” tocava demais. Quando Natália comentou, ele a chamou de louca. “Você tá vendo coisa onde não tem.” Mas estava ali, agora mais claro do que nunca: ele testava o quanto podia humilhá-la sem que ela reagisse.
Ela respirou fundo, tentando ignorar o nó na garganta. A porta do quarto bateu devagar, e Olivia entrou, segurando o próprio café.
— Posso?
— Claro.
A amiga sentou-se ao lado dela. Ficaram em silêncio por alguns instantes.
— Você tá começando a ver, né? — perguntou Olivia com ternura.
Natália assentiu.
— E dói.
— Vai doer. Mas depois, vai ser libertador.
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Mais tarde, Felipe saiu sozinho. Disse que tinha um “compromisso”, sem dar detalhes. Olivia deu uma risada irônica assim que ele cruzou a porta.
— Aposto que o compromisso tem pernas longas e roupa justa.
Natália não respondeu. Só foi para o banheiro e tomou um banho longo. Quando saiu, decidiu fazer algo diferente: vestiu uma lingerie que não usava há meses. Era preta, rendada, discreta, mas insinuante. Por cima, jogou um robe de cetim vinho.
Ao passar pelo espelho, se viu com outros olhos. Havia algo ali… algo que Olivia sempre tentava reacender: a mulher que ela foi, antes de ser diminuída.
Quando Felipe chegou em casa, já passava das oito. Estava com cheiro de bebida e perfume feminino. Não disse uma palavra, apenas a observou parada na cozinha, inclinada sobre o balcão enquanto mexia o chá.
O robe escorregava um pouco pelo ombro, revelando a alça da lingerie.
— Tá se arrumando agora?
Ela se virou devagar, como se tivesse esperado por ele.
— Não. Tô me reencontrando.
Ele se aproximou com um olhar misto de desejo e surpresa.
— Pra quem?
— Pra mim.
Felipe tentou tocá-la, deslizando a mão pela cintura. Ela permitiu, por um segundo. A pele arrepiou com o contato. Seus olhos se prenderam por breves segundos, e ele a beijou.
O beijo foi intenso, como nos velhos tempos. As mãos dele exploraram seu corpo com sede. Ela sentiu a tensão acumulada sendo liberada em ondas quentes. Ele a encostou na bancada, sussurrando coisas no ouvido, tentando tomar posse novamente do que pensava ser dele.
Mas Natália interrompeu. Afastou o rosto.
— Isso aqui… não é reconciliação. É carência. Eu não sou mais seu refúgio quando o mundo não te aplaude.
Felipe a olhou confuso. Natália ajeitou o robe, passou por ele e subiu as escadas com dignidade.
No corredor, cruzou com Olivia, que estava escutando música com os fones. Ela sorriu, como se soubesse.
Natália parou, voltou, e disse em voz baixa:
— Vamos pro Brasil. Eu preciso respirar longe dele.
Olivia assentiu com os olhos brilhando.
— Tá pronta?
Natália respirou fundo.
— Agora estou.
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Atualizado até capítulo 50
Comments
Danielle Pereira
não sei como essas mulheres se envolve com esses tipos homens escrotos e canalhas viu pra mim essas mulheres não tem amor próprio e dignidade 0
2025-06-08
1
Ilma Matias da Cruz
é isso aí guerreira ressurge como uma fênix
2025-06-10
0
Jaildes Damasceno
Vá em frente e sem olhar para trás
2025-06-09
0