Capítulo 10

Aurora…

Logo que amanheceu, fui surpreendida por Yvone em meu quarto. A mulher estava possessa pela roupa que usei ontem à noite, segurou meu braço com tanta força que ficou marcado. No entanto, suas palavras machucam muito mais do que o aperto. Ela ainda disse que aquela família nunca iria me aceitar, porque sou um nada e serei tratada bem pior por eles.

Confesso que me preocupei, afinal, quem precisaria comprar uma noiva para o seu filho? No entanto, todo aquele medo que foi plantado em meu coração se desfez, assim que vi as duas mulheres sentadas no sofá da sala.

Era a primeira vez que sairíamos juntas, na verdade, a primeira vez que eu sairia com alguém para um passeio de compras e sentia uma mistura de expectativa e ansiedade.

Os tecidos eram luxuosos e as cores vibrantes. Eu nunca havia estado em um lugar assim antes, as minhas experiências anteriores se limitavam a lojas mais simples e acessíveis. E também nunca tinha dinheiro para comprar e ficava com pena de Nila gastar seu dinheiro comigo.

Cecília e Joice têm um excelente gosto para roupas.

Ao olhar-me no espelho, senti uma onda de confiança ao ver como as roupas realçavam a minha beleza. A cada nova peça que eu experimentava, a minha empolgação crescia.

Fiquei encantada não apenas com as roupas e sapatos luxuosos, mas também com a facilidade da conversa entre nós. Comecei a perceber que aquelas mulheres, eram mais do que apenas sogra e cunhada, mas sim amigas em potencial. A cada risada compartilhada e cada elogio sincero, uma conexão profunda ia se formando entre nós. Mesmo assim, ainda não conseguia falar sobre o que passava naquela casa, tenho medo de estar me enganando com elas, de estar emocionada. Me recordo das ameaças de Yvone e meu coração erra as batidas.

Almoçamos em um restaurante luxuoso, na companhia de Sophia e sua filha. As duas são maravilhosas também e me fizeram sentir tão à vontade, desconheço alguma vez que me senti assim, sem ser com Nila.

Depois de um dia cheio de risadas e descobertas, senti meu coração acelerar ao entrar na próxima loja: uma butique de lingerie. O ambiente era intimista, com luz suave e uma decoração elegante. As peças expostas eram deslumbrantes, mas a timidez começou a tomar conta de mim e o medo dele queira consumar esse casamento me dominou. Obviamente, Enzo é um homem lindo, mas com toda a certeza não faz o tipo de homem que um dia sonhei para mim, para construir uma família. Pelas colunas de fofoca, dá para notar que é egocêntrico e mesquinho.

Cecília e Joice, no entanto, estavam empolgadas. 

— Vamos nos divertir aqui! — diz Joice, me puxando pelo braço. — Você precisa de lingeries novas, lingeries de mulher casada! — diz maliciosa, dando uma piscadela e coro.

Acho que todo o sangue do meu corpo se concentrou no meu rosto, de tanto que queimava.

Hesitei um pouco, com as minhas bochechas corando. 

— Eu… não sei se… consigo escolher algo! —murmurei.

— Não se preocupe! Viemos ajudar! — disse Cecília com um sorriso encorajador. — É tudo parte do processo de se sentir confiante e bonita, não se preocupe, como eu disse, meu filho não vai te obrigar a nada, mas se acontecer…  

… Aí, meu Deus! Onde estou entrando?…

Começamos a explorar a loja juntas, Joice segurou um conjunto vermelho ousado e brincou: 

— Esse seria perfeito para você, Aurora! Um pouco de ousadia nunca faz mal! 

Sorri de nervoso, mas não podia deixar de sentir uma pontada de curiosidade.

Cecília escolheu algumas peças mais clássicas e elegantes. 

— Essas são super confortáveis e muito bonitas! — explica enquanto mostra um conjunto de renda delicada.

Ao experimentar algumas peças no provador, fiquei em choque em como me deixou mais mulher, não sei explicar.

— Você está linda! Essa cor combina muito com você! — diz Joice, invadindo o provador.

— Aurora? Você ainda é virgem? Por isso tem tanta vergonha? — pergunta e eu apenas concordei com a cabeça. 

— Não precisa ficar com vergonha, eu tenho 24 anos e também sou virgem!

— Sério?

— Sim! Ainda não me senti à vontade para me entregar a ninguém!

Foi um alívio ouvir isso.

Embora ainda estivesse um pouco envergonhada, comecei a me sentir mais confiante.

Naquele momento, algo especial acontecia, as barreiras foram quebradas. E uma cumplicidade entre nós cresceu à medida que compartilha suas experiências, suas próprias histórias com lingerie, desde o primeiro sutiã até as peças favoritas que cada uma tinha.

A conversa fluiu naturalmente, enquanto comecei a me abrir mais sobre as minhas inseguranças e expectativas em relação à lingerie. A vergonha inicial foi substituída por um sentimento estranho de amizade e apoio.

Ao final da visita à loja, saímos não apenas com sacolas cheias de novas lingeries, mas também com um vínculo mais forte. A cumplicidade que nasceu ali naquele ambiente intimista foi algo que nenhuma de nós esperava.

Na saída da loja, sorri para elas e disse: 

— Mais uma vez, muito obrigada por me fazer sentir tão à vontade!

— Estaremos sempre aqui para você, querida. Isso é o que família faz!

Quando chegamos à porta de casa, aquela nuvem escura parecia me envolver novamente. 

Antes que Cecília pedisse ao motorista e seguranças para tirar as coisas que compramos dos carros, pedi para que ela levasse tudo para onde seria a minha futura casa. Não queria correr o risco de Fabiana ou Yvone pegarem as coisas que ganhei.

Já passei por isso uma vez, no meu aniversário de 16 anos. Havia ganhado um lindo vestido do meu pai, Fabiana esperneou e Yvone deu o meu vestido para ela.

Elas devem ter percebido e não fizeram perguntas, apenas concordaram.

Nos despedimos, elas foram embora e eu atravessei os portões com meu coração angustiado de ter que voltar para esse lugar.

Assim que fechei o portão, tive a impressão de estar sendo observada, mas não vi ninguém. 

Entrei rapidamente em casa e fui direto para a cozinha, contar para Nila como o dia foi maravilhoso. 

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