Capítulo 6

Aurora…

Essa reviravolta em minha vida é ainda mais angustiante e mostra como a vida pode ser cheia de desafios inesperados. 

Após lidar com a traição da minha irmã e do meu ex namorado, a pressão de me casar com um desconhecido para quitar as dívidas da família é esmagadora. É como se eu estivesse presa em um ciclo de obrigações e sacrifícios que nunca parecem ter fim.

Essa foi a primeira vez que levantei a voz para o meu pai, afirmando que eu não me casaria, mas recebi uma bofetada e duras palavras que me fizeram perceber que não tenho saída.

O peso das dívidas da família, combinado com a expectativa de um casamento arranjado, me faz ter a certeza de que não é e nem nunca foi a minha vida. Essa situação tira o meu sono, gerando uma profunda sensação de desespero, impotência e até mesmo raiva. 

… Por que tenho que arcar com tudo isso? Eu não tenho culpa da traição dele! Por que me castiga dessa maneira?…

Casar com alguém que não conheço me traz um mar de incertezas e ansiedade sobre o futuro, questionando-me se esse desconhecido será alguém que pelo menos me respeitará ou se tornará apenas mais uma fonte de dor em minha vida. A ideia de renunciar a meus sonhos e desejos para atender às necessidades financeiras da família é um enorme sacrifício.

Eu ainda tinha a esperança de que eles desistiriam dessa ideia absurda, até Yvone entrar em meu quarto com um largo sorriso. 

— Se prepare, minha querida, você se casará dentro de três dias! 

As lágrimas rolam por meu rosto.

A mulher se aproxima, segura o meu queixo com força e diz:

— Pelo menos vai servir para alguma coisa! Te criar foi um sacrifício enorme, mas agora pagará pelo tempo que esteve em nossa casa! Sabe o que é melhor ainda… saber que provavelmente será escrava sexual de um velho!

Ela gargalha alto.

— Esute bem, Aurora! Se contar para alguém sobre a maneira em que te criei, eu juro que te mato... e também acabo com a vida do seu paizinho!

Ela me empurra e saí do quarto toda feliz.

Deito em minha cama, ficando em posição fetal, e choro copiosamente. 

… Não posso acreditar no que está prestes a acontecer!…

Meu pai entra no quarto, senta-se ao meu lado e acaricia os meus cabelos. 

— Não fica assim, minha filha! Também estou pensando no seu bem-estar! Se casará com um homem multimilionário e, se conseguir lidar com as situações com flexibilidade, se dará muito bem!

Nego com a cabeça. 

— Se estivesse pensando no meu bem, me deixaria livre para sair dessa casa e viver a minha vida!

— Algum dia irá me agradecer! Se prepare, pois amanhã seu noivo e a família vêm jantar conosco! Em três dias, será uma mulher casada! Me perdoe pelo tapa.. eu não quis fazer isso, só estava preocupado!

Ele saiu do quarto e eu continuei chorando. Suas palavras trouxeram mais peso sobre mim e sentia o meu coração sendo esmagado.

Afinal, que homem é esse que não pode ter a mulher que quiser e precisa comprar uma?

Meu pai diz que irei agradecê-lo, porém, não vejo assim, que homem vai respeitar uma mulher que está sendo vendida?

Passei a noite toda em meu quarto e não desci para jantar.

Te tando chorar, acabei adormecendo.

No outro dia…

Acordei com o sol entrando por uma fresta na cortina.

Abri os olhos e pisquei algumas vezes consecutivas, tentando esquecer o que virá pela frente nos próximos dias. 

Levantei quase me arrastando, fui até o banheiro, fiz a minha higiene pessoal, coloquei uma de minhas roupas surradas e desci para o café da manhã.

As roupas que tenho são as que Fabiana não quer mais e, como não gosto de suas roupas extravagantes, opto sempre por camisetas e shorts jeans. Roupas que geralmente ganho de Nila, a minha babá e agora governanta.

Ao chegar na cozinha, ajudo Nila a colocar a mesa na sala de estar. Sou amiga de todas as funcionárias e algumas delas já ofereceram ajuda para eu fugir, porém, sou vigiada pelos seguranças vinte e quatro horas por dia.

Meu pai e sua esposa entram na sala de estar e sentam-se nos lugares e meu pai ordena que eu também me sente. Os dias que ele está em casa, tenho que me sentar com eles para fazer as refeições.

De repente, Flávio e Fabiana surgem na sala de estar, cumprimentando sua mãe e nosso pai, com aquele seu jeito extravagante e roupas luxuosas.

… Não poderiam ter aproveitado mais essas malditas férias? Assim, quando voltassem, eu já não estaria mais aqui!…

Entre suas conversas sobre como foi a viagem e tudo o que viveram juntos, meu estômago revira. Não suporto estar no mesmo ambiente que esses dois e não é por ter sentimentos por Flávio não, porque já deixei de amá-lo há muito tempo. A questão é a traição, isso deixa uma mágoa profunda em nossos corações.

Meu pai se despede e sobe até o seu quarto para terminar de se arrumar. Eu me colo de pé e Yvone dispara.

— Também temos novidades, filha! Aurora irá se casar…

Flávio engasga com o seu café e Fabiana gargalha.

— Como?

— Seu pai arrumou um casamento por contrato para ela, a mesma irá se casar dentro de alguns dias!

— E quem é o azarado?

— Não sei, mas hoje o conheceremos, seu pai está fazendo muito mistério, provavelmente deve ser algum velho!

As duas riem e sinto os meus olhos marejados.

Saio da cozinha e encontro Nila, a mulher me abraça forte, tentando me consolar.

— Não fica assim, minha menina!

— Aí, bá… como não ficar? A minha vida agora está completamente na mão do destino!

— Tenho certeza de que ele não será tão cruel! Você já sofreu tanto…

Yvone começa a gritar por Nila e a mulher se afasta rapidamente, indo ver o que ela quer.

Passo o dia todo na minha rotina comum, auxiliando na arrumação da casa.

Com o passar das horas, meu coração se enche de angústia, por estar próximo o momento de conhecer o homem com quem irei me casar.

Ao cair da noite, entro em meu quarto para tomar um banho e tem um lindo vestido sobre a cama. Pego ele e analiso cada detalhe, é um pouco exagerado, mas é lindo.

— Comprei esse vestido para não fazer feio diante dos nossos convidados! — exclama Yvone, entrando logo atrás de mim.

A mulher me olha com desprezo e saí do quarto.

Com ódio, pego o vestido e coloco na lata de lixo que tenho perto do meu criado mudo.

— Me casar, será a última vontade de vocês que realizarei! Já que querem esse casamento, meu noivo terá que me aceitar com as minhas roupas! Ele tem que saber quem eu realmente sou e não passar a impressão de alguém que sempre teve luxos!

Vou até o meu closet e pego um vestido azul-celeste florido que amo, com caimento perfeito. Está bem surrado, afinal é um dos poucos que tenho e ganhei de Neiva, mas ainda é o mais novo que tenho.

Tomo um banho, me visto e coloco uma sandália rasteirinha. Não uso maquiagem, pois nunca tive esse privilégio. Deixo o meu cabelo solto e desço até a sala.

No corredor, ouço a campainha tocar e meu coração quase saiu pela boca.

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