Ao ouvir a conversa entre o gerente Duarte e a Dona Mercedes me dei conta de quão sórdida é essa mulher.
O tio Antônio está todos esses anos sendo enganado por essa mulher, sim, porque posso apostar tudo o que tenho que esses dois tem um caso amoroso ou estaria sendo chantageado esse senhor Duarte?
Saio correndo, nem mesmo o senhor Arnaldo conseguiu me alcançar.
Entro num parque próximo do hotel, me sento no primeiro banco que vejo e olho para o nada. O parque está vazio, então me permito chorar.
Tantas coisas me vêem a mente. Talvez fosse melhor o tio Antônio jamais ter me levado para a casa dele. Estou sendo roubada pela mulher que sempre me desprezou. E o pior, tio Antônio tem muito dinheiro, para que essa víbora ainda quer mais dinheiro?
Não posso contar isso para o tio Antônio e nem para o Felipe. Se o hotel acabou de passar por uma auditoria e o senhor Duarte não foi descoberto e tampouco os seus desvios, não tenho como provar.
Já se aproxima do horário do almoço e eu simplesmente estou sentada aqui, não sei quanto tempo.
Apesar da decepção, essa é a minha nova realidade, uma dívida de cinco milhões de reais, um funcionário que está me roubando, sem renda para manter as minhas despesas pessoais, uma faculdade para começar daqui algumas semanas e uma solidão dolorosa, pois sei que agora não tenho ninguém para me proteger, talvez até tio Antônio se sinta ofendido e fique do lado da esposa ao saber da verdade.
Enfim, a vida não pode parar. Preciso ir até o senhor José, agradecer a oportunidade de trabalhar nos armarinhos, graças à esse trabalho e ter guardado todo o dinheiro que o tio Antônio me deu durante todos esses anos é que tenho a quantia suficiente para arcar com as despesas dos meus estudos.
Depois preciso me reunir com o senhor Arnaldo, ele me pareceu de confiança, preciso que ele me prepare para tomar o meu lugar de direito e a primeira decisão que vou tomar é a demissão do senhor Duarte.
Quando estou prestes a pegar a minha bolsa para sair do parque, vejo um homem de aproximadamente cincoenta anos parado na minha frente. Ele diz:
- Olá, boneca! Se está chorando porque não tem dinheiro eu posso lhe ajudar.
A princípio não entendo muito bem e digo:
- Agradeço a sua atenção, mas já estou de saída!
- Espere, eu posso pagar bem, se eu ficar satisfeito posso pagar até bem mais do que você me pedir.
- Como é?
- É simples, você pode me tocar e depois posso sentir essa sua boquinha no meu p**.
- Está louco!
- Já sei, não quer fazer aqui, podemos ir para aquele hotel. - Ele diz isso apontando para o Hotel Perez. - Eu vi você saindo de lá, já deve ter trabalhado hoje, eu não ligo de você estar cansada, posso ter o seu corpo, nem precisa fazer nada, vamos?
Esse homem asqueroso já diz isso me puxando pelo braço. Agora entendi, está me confundindo com essas mulheres fáceis, será que esse idiota do Duarte transformou esse hotel numa casa de tolerância?
Eu digo:
- Me solte!
- Então vamos.
- Não, não vou a lugar nenhum com o senhor, seu velho nojento!
Nessa hora levo um tapa no rosto. Minhas lágrimas voltam a descer. O maldito começa a me bater.
- Sua c*chorr*! Hoje você vai aprender a respeitar um homem de verdade, não sou esses idiotas que você costuma enganar. Você deve ser bem rodada e fica se fazendo de difícil, sou velho sim, mas agora sou seu cliente e você vai me servir!
Começo a gritar, mas não tem ninguém no parque.
O desavergonhado do homem me puxa pelos cabelos e rasga a minha camisa. Nessa hora reúno todas as minhas forças e começo a dar bater no homem, mas logo noto que a minha força é inferior a dele.
Quando já estou me dando por vencida e esperando pelo pior, acontece uma intervenção divina.
Vejo um homem puxando o velho para longe e golpeando-o, ele cai no chão e não consegue se levantar.
Vejo que estou com a camisa rasgada e o meu sutiã está aparecendo. Cubro-me com as mãos e saio correndo.
O outro homem que a poucos minutos me salvou começa a correr atrás de mim. O medo volta a me consumir, esse parque deve ser um lugar de libertinagem, onde eu fui me meter.
Corro o máximo que posso, foi inútil, o homem me alcança e está com a minha bolsa nas mãos, só agora me dou conta que esqueci a minha bolsa.
Aconteceu algo mágico, esse homem tem um olhar muito doce, ele é jovem e bonito, presto atenção no seu rosto por alguns segundos, mas não posso ser tola, deve ser outro aproveitador. Arranco a minha bolsa das mãos dele e saio correndo novamente.
Quando vejo estou de volta no hotel. O senhor Arnaldo vê o me estado e me leva para a área de serviço do hotel. Lá, imediatamente me entrega a parte de cima de um uniforme e me mostra o banheiro.
Entro no banheiro e começo a chorar, que dia mais difícil estou tendo! Me olho no espelho, não há como negar que fui agredida, meus olhos estão vermelhos de tanto chorar. Lavo o meu rosto e como não tenho o costume de me maquiar, não tenho nenhum produto na bolsa. Isso é algo que precisa ser mudado, sinto que ainda vou chorar muito e preciso estar preparada para esses momentos.
Saio do banheiro e vejo o senhor Arnaldo parado na porta, ele me leva até a cozinha, já tinha me preparado um chá, me entrega a xícara e me olha com piedade.
- Menina, o que aconteceu?
Eu conto tudo resumidamente. O senhor Arnaldo respira e me diz:
- Não me atrevi a conta que infelizmente esse hotel nos dias de hoje só tem esse tipo de cliente. Aqui se tornou um lugar barato e mal frequentado.
- O meu tio sabe?
- Não, confia demais no senhor Duarte.
O ódio começa a tomar conta de mim. Só digo:
- Me leve agora mesmo até o senhor Duarte.
E assim faz o senhor Arnaldo. Abro a porta sem bater, o senhor Duarte me olha com espanto:
- Que tipo de criada é você que não bate a porta para entrar, quero você fora daqui, aliás está demitida!
- A única pessoa que está demitida aqui é você, pegue suas coisas e vá embora imediatamente!
Ele ri. O senhor Arnaldo entra na sala e presencia tudo.
- Ah é! E quem vai me tirar daqui? Você?
- Pois bem... (a minha cota de tolerância e desrespeito já está esgotada, nunca mais ninguém vai me subjugar e humilhar). Sr. Arnaldo, chame quantos funcionários forem preciso para colocar esse homem para fora daqui imediatamente.
- Sim, senhora!
- Arnaldo, pare! Fique onde está! Coloque essa garota insolente pra fora daqui se não quiser ser demitido junto com ela.
- Lamento, mas vou cumprir as ordens da minha patroa.
- Patroa!? Está louco velho inútil?
- Patroa sim, e sua patroa também!
Vejo Duarte ficar pálido. Já deve estar imaginando quem eu sou.
- Bem, eu... Eu preciso de uns dias para pegar as minhas coisas.
- Nem mais um minuto, agora que fique claro, a única que manda aqui sou eu, Allana Menezes Perez!
- Não me importo, esse hotel já está falido mesmo, fique com tudo.
Duarte começa a pegar documentos e colocar numa caixa. Eu digo:
- Esses documentos são do hotel e daqui você não leva nada!
Duarte solta os papéis que estão em suas mãos e sai porta a fora.
Olho para o senhor Arnaldo com gratidão. E digo:
- Senhor Arnaldo, a partir de hoje o senhor é o novo gerente do hotel.
Ele me olha espantado.
- Senhorita, sou um simples recepcionista, o que entendo de negócios, não posso aceitar.
Eu respiro fundo, só posso contar com ele nesse momento
- Senhor, confio na sua honestidade, isso por enquanto me basta. Tenho uns assuntos para resolver e preciso de alguém no meu lugar. Fique com o meu telefone.
Anoto num papel. E continuou:
- Voltarei daqui dois dias no máximo e vou assumir os negócios, nesse tempo preciso que seja meus olhos aqui dentro. Terá autonomia para contratar e demitir quem quiser, além de autorização para fazer mudanças nesse hotel, quando eu voltar não quero mais saber de hóspedes libertinos, estamos entendidos?
- Sim, senhorita!
- Então, eu já vou indo! E tem mais troque as fechaduras dessa sala, aqui só entra eu e o senhor. Nenhum documento sai daqui.
- Sim, senhorita!
- Até breve meu amigo!
- Até breve minha patroa!
Saio de cabeça erguida, esse uniforme me caiu bem, parece até minha armadura, me sinto pronta para ir para a guerra. Vou lutar até o fim, nunca mais ninguém vai me diminuir ou me intimidar. Serei forte por mim mesma.
Sigo até os armarinhos do senhor José.
- Senhor, me desculpe o atraso!
- Allana, onde esteve? Fiquei preocupado!
- Eu... eu... - sinto um nó na garganta.
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Atualizado até capítulo 35
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