Novos rumos

Eu e a Nath entramos e fomos para a cozinha ajudar Matilde. Assim que terminamos de arrumar a cozinha Matilde se despediu de nós, sob os meus protestos para que ficasse só mais um pouco, ela foi com a promessa de voltar no dia da sua folga. Assim ficamos somente eu e a minha amiga, só agora me dei conta de quão grande é essa casa, minha casa.

Mostrei a casa para Nath.

- Nossa amiga, sua casa é linda!

- Obrigada! Mas posso falar a verdade para você, me sinto sozinha e perdida.

- Sozinha você não está, e eu não conta!?

- Nath, claro que você conta! Mas você tem a sua família e seus compromissos.

- O que você pretende fazer?

- Bom, por enquanto preciso saber quanto dinheiro tenho e posso dispor e depois saber da real situação do hotel do meu pai. Também preciso de um carro, o mais barato possível, não vou conseguir andar nesse condomínio até a rua a pé.

- Isso é verdade, sorte a minha que o táxi me deixou aqui.

Nath me olha com preocupação, não quero minha amiga triste, então mudo de assunto.

- Amiga, o que foi que o meu primo disse pra você lá fora?

- Ah! Lana, ele me disse que me achou muito bonita e que ia esperar eu ligar pra ele.

- E você vai ligar?

- Claro que não! Não tenho coragem.

- Nath, ele sempre foi muito amigo meu até a mãe dele nos separar, hoje eu reencontrei o Felipe que eu sempre conheci, de bom coração. Se você não quiser ligar pra ele tudo bem, mas não vou prometer pra você que não vou dar o número do seu celular se ele me pedir.

Vejo os olhos de Nath brilhando, acho que a minha amiga gostou do meu primo também. Só quero a felicidade da minha amiga sei quantos preconceitos sofreu.

Nathália é linda por dentro e por fora, sempre fomos as excluídas, ela por ser de uma classe humilde e eu por não ter meus pais, mas aprendemos a nos defender ao nosso modo, sem violência, como dizia o tio Antônio.

Conversamos mais um pouco e Nath foi embora.

A casa se tornou fria e silenciosa.

Olho para a pasta que o tio Antônio me entregou e examino os documentos sem entender muito o que significa tudo aquilo. Vejo as escrituras da minha casa e da casa do litoral. Tem outros contratos também, mas por enquanto nada faz muito sentido.

Amanhã preciso ir agradecer o Senhor José pela oportunidade nos armarinhos, mas sei que não poderei mais ir trabalhar lá no período da tarde e preciso saber como estão os negócios do papai.

.............

No dia seguinte.

Acordo cedo, faço a minha higiene, coloco a minha melhor roupa e vou preparar o meu café da manhã. Coloco o lixo para fora e chamou um carro por aplicativo.

Logo chego no Banco Continental. O gerente da conta do hotel vem me atender.

- Senhorita Perez, bom dia! Sou Marcos Andrade, gerente da conta do Hotel Perez. Muito Prazer!

Diz apertando a minha mão e gesticulando para que eu tome o assento.

- Olá, Senhor Andrade! Vim saber a situação da conta do hotel.

- Seus documentos por favor.

Entrego meu documento de identidade e o gerente escaneia e me devolve na sequência.

- As contas do hotel estão em ordem, o único problema é um empréstimo que está há muito tempo sendo renegociado. Esse mês a entrada de dinheiro não foi suficiente para pagar a parcela.

Olho assustada, isso me preocupa bastante, mesmo não sabendo os valores. Crio coragem e pergunto:

- Bem, qual seria o valor total da dívida?

- O valor total do saldo devedor é de R$5.000.000,00.

- Cinco milhões! Digo em voz alta, todos me olham.

- Senhorita Perez, precisa depositar na conta até o final do mês R$150.000,00 para completar o valor da parcela do mês.

Céus cento e cinquenta mil, só fico imaginando qual o valor da parcela, mas tenho que saber a situação real da dívida. Pergunto:

- Qual o valor da parcela?

- Trezentos mil reais. Restam vinte parcelas do empréstimo.

- Mas pelas minhas contas baixas, não seriam dezesseis parcelas?

- Não, senhorita Perez, o banco cobra juros e acredite o seu contrato tem juros baixos, por isso esse número de parcelas. O valor informado seria para pagamento total hoje.

- Senhor Marcos, eu poderia oferecer uma propriedade em garantia da dívida? Penso que se não conseguirmos pagar o imóvel seria suficiente para garantir o débito.

- Sim, senhorita Perez, posso avaliar com o jurídico do banco.

Mostro a escritura da casa do litoral dos meus pais e o gerente escaneia, estamos aguardando a resposta do jurídico. O telefone toca e o gerente atende, é uma conversa monosilabica. Ele desliga e me olha fixamente:

- Senhorita Perez, lamento mas a sua oferta foi recusada, o valor do imóvel é muito baixo.

Olho para o gerente desacreditada.

- O senhor pode me dizer quanto consideraram que vale o imóvel?

- Um milhão e meio. Acredito que já entendeu o porquê foi recusada a oferta. Lamento não poder ajudar mais, seu pai foi um excelente cliente e por consideração a ele fizemos tudo o que foi possível para ajudar, o seu modo de agir me lembra muito ele, deve estar orgulhoso de você onde quer que esteja.

- Perfeitamente, entendo senhor Marcos e agradeço pela consideração, não vou mais tomar o seu tempo, muito obrigada por me atender.

Estendo a mão para cumprimentar o gerente e agora tenho que ir imediatamente para o Hotel Perez.

Chamo o carro por aplicativo e em quinze minutos chegamos ao Hotel.

Desço do carro e não sei como me comportar. O hotel continua lindo, como na minha memória.

Acho muito estranho, vou entrando e vejo tudo diferente, sem o movimento que me recordo da infância.

Vejo um senhor uniformizado vindo na minha direção.

- Bom dia! Seja bem-vinda ao Hotel Perez! Gostaria de um quarto.

Olho para o senhor à minha frente, sua fisionomia é familiar, lembro-me vagamente dele, como os anos mudam uma pessoa.

- Na verdade gostaria de falar com o gerente.

- Alguma reclamação?

- Não só gostaria de falar com ele.

- E como devo anunciá-la?

Pergunta o senhor de meia-idade com o telefone em mãos.

- Allana, Allana Perez.

O senhor à minha frente deixa o telefone cair e as lágrimas vão escorrendo do seu rosto.

- Não pode ser... Diz o senhor com a voz trêmula e sentando na cadeira da recepção. Percebo que ficou muito emocionado.

Aguardo um momento, mas não posso ficar o dia todo aqui.

Pego na mão do senhor à minha frente e digo:

- O senhor está bem?

Ele me olha com os olhos marejados e responde:

- Sim, sim... achei que nunca fosse viver até esse dia!

- Por que diz isso?

- Trabalhei para o seu avô e depois para o seu pai, quando o seu pai morreu esse hotel não foi mais o mesmo.

- Por que diz isso?

- O Dr. Perez deixou o senhor Duarte como gerente aqui, ele não é uma má pessoa, mas foi muito influenciado pela Senhora Perez e vi muitas pessoas sendo demitidas injustamente, ninguém mais quer trabalhar aqui hoje funcionamos com uma defasagem de quase setenta por cento a menos de funcionários.

- Por que isso?

- Por que os salários não são pagos em dia e ninguém aguenta a pressão do senhor Duarte.

- Como o senhor se chama?

- Arnaldo Souza a seu dispor.

- Senhor Arnaldo, pode me mostrar o hotel?

- Sim, senhora!

O senhor Arnaldo chama o funcionário da faxina para ficar na recepção e me acompanha por um tour nas instalações do hotel.

Tudo continua muito bonito, o senhor Arnaldo me mostra cada detalhe. Vejo o salão do restaurante fechado e pergunto:

- Não deveria estar aberto?

- Minha jovem faz mais de cinco anos que o restaurante fechou as portas, isso foi terrível e um dos motivos que altos empresários procurassem outros hotéis para se hospedarem, ninguém quer ficar num hotel que não oferece sequer um café da manhã.

- E por que fechou?

- A senhora Perez dava muitas festas aqui, numa delas teve uma discussão intensa com o chefe da cozinha, ele se demitiu e levou a equipe dele inteira embora. Depois disso nunca mais conseguimos um chef a altura dele e o Dr. Perez decidiu encerra temporariamente os serviços do restaurante, já que os gastos com pessoal eram maiores que os lucros.

Ouvia atentamente enquanto caminhava.

Paramos em frente ao escritório do gerente do hotel e ouvimos uma briga intensa.

Eu conheço aquela voz, Dona Mercedes... Então essa é a senhora Perez a que se referia o senhor Arnaldo. Ouvimos a conversa:

- Duarte, por que não fez meu depósito esse mês?

- Mercedes, não seja ridícula! Depois da auditoria que o corno do seu querido marido mandou fazer como ia desviar dinheiro, seria mandado embora e preso.

- Meu amor, você sempre deu um jeito de enganar o idiota do meu marido e agora será mais fácil ainda enganar a tonta da Allana.

Sai correndo e o senhor Arnaldo me acompanhou.

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Anonymous

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2025-03-26

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