Minha casa

Depois de vinte minutos chegamos ao condomínio onde eu morava com os meus pais. Matilde fez questão de vir conosco, descemos do carro e a emoção toma conta de mim.

Choro copiosamente.

Já estive aqui outras vezes, mas hoje está sendo diferente. Lembro-me que brincava em frente a casa com a minha mãe observando da varanda. Me lembro de ver o meu pai chegando do trabalho, são muitas lembranças e como eles me fazem falta.

Nem percebi que o tio Antônio e a Matilde já tinham colocado todas as minhas coisas dentro da casa, só me dou conta quando sou chamada a entrar.

- Allana, Matilde ficará com você hoje até terminarem de organizar tudo e mais tarde peço para o motorista buscá-la.

Aceno com a cabeça.

- Obrigada, tio!

- Filha, mesmo que não quisesse hoje não ia permitir que ficasse sozinha. Feliz aniversário!

Tio Antônio vai embora, me deixando com Matilde, minhas lembranças e a minha nova vida.

Meu telefone toca.

- Nath!?

- Oiii, amiga! Feliz aniversário! Pensou que eu ia esquecer?

- Obrigada! Mas hoje já aconteceram tantas coisas...

- Você está em casa?

- Sim, na minha casa.

- Sabe que eu não posso ir até aí, mas podemos nos encontrar mais tarde e comemorar.

- Por que não pode vir até aqui?

- Hã!?

- Amiga, estou na casa que era dos meus pais, somente hoje pude retornar. Pode vir se quiser estamos apenas eu e Matilde aqui.

- Allana, não entendo muito o que aconteceu mas me passa o endereço, vou agora até você.

Passo meu endereço para Nath e desligo a chamada.

Meu estômago começa a reclamar, já que não tomei café da manhã. Parece que o tio Antônio enfrentava muitos problemas com a minha presença, na primeira oportunidade me trouxe de volta para casa, mas eu o entendo, sei que não fez por mal. Dona Mercedes nunca aceitou a minha presença na casa, sequer pude chamá-la de tia durante todos esses anos morando na casa dela.

Sempre fez questão que os meus gastos fossem cobertos pelos lucros do hotel do meu pai e nunca me permitiu levar nenhum amigo na casa DELA.

Tio Antônio me dava uma pequena mesada por mês, nunca gastei muito e como tio Antônio saia cedo e chegava tarde nunca se deram conta do que eu realmente fazia.

Pela manhã, de fato ia para o colégio, mas à tarde eu trabalhava numa loja de armarinhos. Agora me formei e passei no vestibular, sim, eu e a Nath vamos estudar direito.

Conheço a Nath desde os meus doze anos de idade.

Ela estava sendo agredida por outras meninas na sala de aula, por puro preconceito. Achavam que a Nath não merecia estar ali conosco e não merecia ter ganho a bolsa de estudos do colégio.

Quando começaram a agredir a Nath eu entrei na sala, tinha esquecido meu estojo de caneta embaixo da carteira e vejo duas meninas segurando a Nath pelos braços e cabelos, enquanto a outra a agrediu com uma bofetada no rosto.

Imediatamente, eu impedi que a agressão continuasse e também lutei com aquelas garotas junto com a Nath.

A inspetora da escola entrou na sala devido os barulhos das carteiras e das cadeiras no ambiente e todas fomos parar na diretoria.

Tio Antônio, a mãe da Nath e das três meninas foram chamados pela diretora, que ouviu a nossa versão e a das três garotas.

As três foram expulsas do colégio.

Eu e a Nath recebemos uma advertência, mesmo sob os meus protestos ficamos com a responsabilidade de auxiliar alunos das séries anteriores nos deveres durante os intervalos das aulas.

Naquele dia eu estava bastante machucada. Fomos para a enfermaria, onde fizeram a higienização e curativo.

Tio Antônio me levou para casa, ele não disse nada durante o caminho para casa, isso me matou naquele dia. Não queria decepciona-lo, era o único que eu tinha como família, alguém para cuidar de mim.

Depois de uma breve conversa no escritório do tio Antônio, que me questionou se todas as vezes que eu tivesse um problema ia resolver na violência, entendi o que fiz não foi muito correto, deveria ter chamado a inspetora imediatamente. Me desculpei com o meu tio e fui para o meu quarto.

E assim eu a Nath nunca mais nos separamos. Temos uma linda amizade.

Nathália Gomes, 18 anos.

...

Estava tomando café da manhã, sob os olhares da Matilde. Ela me contou que o tio Antônio fez questão de fazer a manutenção da casa durante anos e que dias antes do meu aniversário fizeram uma faxina na casa, cuidaram do jardim e abasteceram a casa com mantimentos para que nada faltasse.

Eu sei que meu tio é muito atencioso, lamento muito por não poder mais morar com ele, sei que me disse que posso contar com ele, mas nada será igual, nem mesmo a minha vida.

Desde que perdi meus pais a minha vida se tornou incerta.

A campainha toca.

Matilde foi atender e eu fui atrás. Só ouço Matilde dizendo:

- Menino, que bom que veio!

Espero pela Nath. Mas me espanto com quem vejo.

- Felipe!?

- Olá! Posso entrar?

- Claro, seja bem-vindo!

- Feliz aniversário, Allana!

Ele me entrega um buquet de rosas e uma caixa de chocolate.

- Obrigada! Digo espantada, não esperava vê-lo, depois que a Dona Mercedes proibiu a nossa aproximação Felipe nunca mais conversou comigo. Era só o essencial, não passava de cumprimentos.

Matilde diz:

- Estou preparando o almoço, vai ficar para almoçar conosco?

- Eu posso? Felipe pergunta me olhando.

- Sim, claro! Mas estou aguardando mais uma pessoa.

- Seu namorado?

- Ah! Não, é uma amiga.

Felipe não para de me encarar, estou parada próxima da porta e Matilde diz:

- Allana, mostre a casa para o Felipe enquanto eu preparo o almoço.

- Ah! Sim.

A verdade é que eu não faço ideia do que ele está fazendo aqui e nem como me comportar.

Mostro a casa e o jardim dos fundos para Felipe, sentamos numa mesa que tem no jardim e ele me diz:

- Parabéns! Sua casa é muito bonita.

- Obrigada! Eu estou emocionada de estar de volta. Não esperava que viesse aqui, não quero problemas com a Dona Mercedes.

- Não vai ter! Minha mãe não sabe que estou aqui.

- Olha, Felipe...

Sou interrompida.

- Allana, eu era só uma criança tive medo, por isso me afastei, mas eu gosto muito de você.

- Felipe...

- Allana...

Nos levantamos no calor da emoção e nos abraçamos.

- Senti sua falta!

- Mas eu estava ali todos os dias e você me ignorou.

- Tive medo da minha mãe fazer algo contra você... Allana, me perdoa!

Me solto do seu abraço.

- Felipe, não tenho nada para perdoar, e, sinceramente agora tenho preocupações maiores.

- Eu posso ajudar?

Somos interrompidos.

- Amiga!!!

Nath chega e Felipe fica hipnotizado com a beleza da minha amiga. Nath não é fácil, quero só ver se o meu primo der uma de engraçadinho com ela.

Felipe, 24 anos.

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