19 CAPÍTULO

– O Retorno Inesperado

A chuva continuava a castigar a cidade, mas havia algo de diferente no ar — uma tensão silenciosa, como se a tempestade aguardasse o próximo ato. O grupo deixara o terreno demolido e seguira rumo a um prédio abandonado que Letícia indicara como um possível refúgio provisório. As ruas estavam desertas, iluminadas apenas pelos postes trêmulos que mal conseguiam vencer a escuridão. A cada relâmpago, as silhuetas de prédios e árvores tomavam formas quase irreais, criando um cenário digno de um pesadelo.

A Caminho do Abrigo

Os passos de Isabela eram firmes, apesar do cansaço que pesava em suas pernas. Gabriel a acompanhava de perto, atento a cada movimento, como se pudesse protegê-la de qualquer ataque surpresa. Camila e Letícia iam à frente, trocando sussurros sobre o que ainda faltava para concluir o ritual e, quem sabe, finalmente selar o pacto que ameaçava todos.

Atrás, Rafael e Beatriz mantinham uma distância cautelosa, a hostilidade e o receio estampados em seus rostos. O orgulho ferido de Rafael não permitia que ele se misturasse ao grupo, mas a sucessão de eventos sobrenaturais deixava claro que, por ora, estavam todos no mesmo barco.

— Você tem certeza de que esse prédio está vazio? — Camila perguntou a Letícia, enquanto contornavam uma esquina coberta de entulho.

— Vazio o suficiente, — Letícia respondeu, consultando um mapa amassado. — Pertencia a uma empresa que faliu há anos. Ninguém deve aparecer por lá.

O Novo Refúgio

Chegaram a um edifício de fachada cinzenta, com vidraças estilhaçadas e paredes pichadas. O portão de metal rangia com o vento, soando como um lamento fantasmagórico. O hall de entrada era amplo, repleto de poeira, caixas vazias e móveis abandonados. A cada passo, o eco de suas pisadas reverberava pelo salão, acentuando a sensação de desolação.

— Melhor do que nada, — Gabriel comentou, forçando um sorriso que não alcançava os olhos.

— Vamos subir ao primeiro andar, — Letícia sugeriu. — Quanto mais longe do solo, menos provável que alguma criatura nos surpreenda.

O grupo subiu uma escada estreita, iluminando o caminho com lanternas de celular. As sombras projetadas nas paredes pareciam se contorcer a cada movimento, criando uma atmosfera de terror constante. Ao chegarem ao primeiro andar, encontraram uma grande sala de escritório abandonada, com divisórias quebradas e carpetes rasgados.

— Aqui deve servir, — Letícia disse, largando a mochila com os itens do ritual. — Precisamos de espaço para terminar o que começamos.

Uma Presença Familiar

Isabela se afastou um pouco dos outros, tentando controlar a respiração acelerada. O coração martelava em seu peito, não apenas pelo medo, mas também pela confusão de sentimentos que crescia dentro dela — especialmente em relação a Gabriel. Ela recordava o calor que sentira quando ele segurou sua mão e a forma como se sentiu protegida, mesmo em meio ao caos. Um leve rubor tomou conta de seu rosto, ainda que a noite fosse fria.

Mas então, algo chamou sua atenção. Um barulho sutil, quase imperceptível, veio de um corredor lateral. Parecia o som de passos hesitantes. Ela se virou, alarmada, e apontou a lanterna para a escuridão.

— Tem alguém aí? — sua voz ecoou, fraca, no silêncio do prédio.

Para sua surpresa, uma silhueta surgiu por trás de uma das divisórias quebradas. A luz da lanterna revelou um homem de aparência cansada, cabelos levemente grisalhos e olhar carregado de uma tristeza profunda. Ele vestia um sobretudo escuro, ensopado pela chuva, e tinha as mãos erguidas em sinal de rendição.

— Calma… não sou uma ameaça, — disse o desconhecido, a voz rouca, como se estivesse há muito tempo sem falar. — Preciso falar com Isabela Vasconcellos.

O coração de Isabela parou por um segundo. Quem seria ele e como conhecia seu nome? Ao ouvir a voz do homem, Gabriel, Camila e os outros se aproximaram rapidamente, prontos para reagir a qualquer sinal de perigo. Rafael e Beatriz trocaram olhares desconfiados, posicionando-se um pouco mais atrás.

— Quem é você? — Isabela perguntou, tentando manter a firmeza na voz, apesar do choque.

— Meu nome é Ricardo… Ricardo Vasconcellos, — ele respondeu, com um tremor na voz. — Isabela… eu… sou seu pai.

Revelação Inesperada

Um silêncio sepulcral se instalou no ambiente. As lanternas tremiam, iluminando os rostos atônitos de todos ali. Isabela sentiu as pernas falharem, precisando se apoiar em Gabriel para não cair. A mente dela se encheu de lembranças confusas: na vida anterior, sempre acreditara que seu pai falecera antes de seu nascimento, vítima de um acidente misterioso. Agora, diante de seus olhos, estava um homem que alegava ser aquele que ela jamais conhecera.

— Como…? — ela sussurrou, sem conseguir terminar a frase.

— Achei que você nunca soubesse de mim, — Ricardo continuou, dando um passo tímido à frente. — Fui dado como morto, mas… sobrevivi. Estive longe, muito longe, e só descobri recentemente que você… que você também…

Ele parou, lançando um olhar para o grupo, especialmente para Rafael, que o encarava com raiva contida, e para Gabriel, cujo semblante era de pura surpresa. Letícia e Camila trocaram olhares intrigados, enquanto Beatriz franzia o cenho, tentando entender o que aquilo significava para seus planos.

— Eu também o quê? — Isabela insistiu, tentando recuperar o controle da respiração.

— Soube que você… morreu, — Ricardo completou, a voz falhando. — E, de alguma forma, voltou. Achei que fosse um rumor insano, mas… aqui está você. Viva.

Uma Peça-Chave

Isabela levou a mão à boca, tentando digerir aquela enxurrada de informações. A cabeça girava, e uma sensação de vertigem ameaçava dominá-la. Tudo que vivera desde sua reencarnação — a vingança, o pacto sombrio de Rafael, as criaturas aterradoras — agora ganhava um novo contorno. Por que seu pai reaparecia justamente naquele momento? Teria alguma relação com seu renascimento?

Gabriel aproximou-se, pousando uma das mãos no ombro de Isabela. Ela sentiu o calor do toque, um apoio silencioso que a ajudava a manter a sanidade. Rafael, por outro lado, soltou uma risada amarga.

— Então esse é o grande mistério? — ele provocou, cruzando os braços. — O pai desaparecido ressurge das cinzas. Que belo drama.

Ricardo ignorou o comentário, focando apenas em Isabela. — Minha aparição não é coincidência. Há muito que você precisa saber sobre sua reencarnação… e sobre o que realmente a trouxe de volta.

O olhar de Letícia se iluminou de curiosidade, e Camila prendeu a respiração. Seria possível que Ricardo fosse a chave para entender como Isabela retornara da morte? Talvez fosse a peça faltante para concluir o ritual e encerrar o pacto que ameaçava a todos.

Sombras em Movimento

Um estrondo ecoou pelos corredores, fazendo todos se virarem. As paredes tremiam, e o vento uivou como um animal ferido. A sensação de estar sendo observados voltou com força total, trazendo de novo o temor de que as criaturas das trevas não estivessem assim tão longe. Letícia agarrou o amuleto em seu pescoço, lançando um olhar de alerta para Camila, que assentiu, pronta para qualquer eventualidade.

— Não temos muito tempo, — Ricardo continuou, os olhos voltados para o teto, como se pressentisse algo. — Eles sabem que estou aqui. E vão tentar nos impedir de completar o que começamos há muito tempo.

Isabela engoliu em seco, sentindo uma onda de adrenalina percorrer seu corpo. — O que você sabe sobre esse pacto? E por que diz que faz parte do que me trouxe de volta?

Ricardo se aproximou mais, a expressão dominada por uma urgência desesperada. — Porque… eu também fiz um pacto, filha. Muitos anos atrás, quando pensei ter perdido tudo.

A revelação caiu como um raio entre eles. Isabela cambaleou, enquanto Gabriel a amparava com cuidado. Camila cobriu a boca com a mão, assustada, e Rafael esboçou um sorriso de puro escárnio, embora seus olhos revelassem surpresa. Beatriz se manteve em silêncio, analisando cada movimento, cada palavra, tentando entender como isso poderia afetar seus próprios interesses.

O Peso de um Novo Começo

Um silêncio tenso se instalou. Lá fora, a chuva voltava a ganhar intensidade, tamborilando contra as vidraças quebradas e as paredes descascadas. O ar no escritório abandonado parecia pesado, carregado de medo, ansiedade e um fio de esperança que teimava em não se apagar.

Ricardo fechou os olhos por um instante, como se revivesse memórias dolorosas. — Pensei que fosse a única forma de salvar minha família. Mas o preço… o preço foi alto demais. E agora, essa dívida caiu sobre você.

Isabela respirou fundo, as mãos trêmulas se cerrando em punhos. Ela sentia o olhar de Gabriel, caloroso e firme, a encorajando. Sentia a tensão de Camila e Letícia, que sabiam o quanto aquele momento poderia mudar tudo. E, ao fundo, captava a hostilidade de Rafael e Beatriz, cujo silêncio era tão perigoso quanto qualquer ameaça verbal.

— Então… foi por isso que eu tive uma segunda chance? — ela perguntou, a voz embargada. — Por causa de um pacto seu?

Ricardo assentiu, com um pesar estampado no semblante. — O destino que você e eu compartilhamos está ligado a essas forças. Se não encerrarmos isso agora, não haverá paz para ninguém.

A confissão parecia abalar o chão sob os pés de Isabela. O ódio que sentia por Rafael e a sede de justiça se mesclavam agora a uma compaixão estranha, quase incompreensível. Seria ela apenas um peão em um jogo iniciado muito antes de seu nascimento? E ainda assim, no meio de tanto caos, um sentimento suave e inesperado brotava sempre que seus olhos encontravam os de Gabriel — um amor nascente que a fazia lembrar de sua humanidade.

E assim, diante da chuva incansável e das sombras que espreitavam nos corredores, Isabela descobria que o mistério de sua reencarnação era ainda mais profundo do que imaginara. Entre pactos antigos, laços de sangue e um amor que surgia em meio às trevas, o destino de todos parecia convergir para um desfecho tão incerto quanto inevitável.

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