17 CAPÍTULO

– Sombras do Destino

A tempestade continuava a castigar o terreno abandonado, como se o próprio céu quisesse impedir o ritual de chegar ao fim. A cada rajada de vento, as velas tremeluziam perigosamente, lançando sombras dançantes sobre os rostos tensos de Isabela, Gabriel, Camila, Letícia, Rafael e Beatriz. O cheiro de ozônio era quase sufocante, misturado ao aroma amargo das ervas queimadas no círculo mágico.

O Círculo Vacilante

Letícia se mantinha no centro do círculo, segurando firme o amuleto que brilhava de forma intermitente, quase pulsando a cada trovão. Seu rosto estava banhado de suor, misturado às gotas de chuva que lhe escorriam pela fronte. Os lábios dela murmuravam palavras antigas, como se tentasse costurar o véu entre o mundo visível e as forças sombrias que ameaçavam romper aquela frágil barreira.

Camila, ajoelhada a poucos passos, ajeitava as velas que se apagavam em meio às poças de água. Suas mãos tremiam, mas a determinação em seu olhar era inegável. Cada vez que uma chama se apagava, ela a reacendia, recitando baixinho os versos que Letícia lhe ensinara. O medo era evidente em seu semblante, mas a vontade de proteger a amiga superava qualquer terror.

Um Passo em Falso

Rafael, de braços cruzados, observava tudo com uma mistura de fúria e incredulidade. Sua respiração saía em arfadas curtas, denunciando a ansiedade que tentava esconder. Beatriz, ao seu lado, apertava-lhe o braço como se temesse que ele se lançasse para fora do círculo a qualquer instante. Os olhos dela vasculhavam a escuridão ao redor, temendo o retorno da criatura que quase os engolira minutos antes.

— Isso tudo é loucura, — Beatriz murmurou, com a voz embargada. — Velas, símbolos, palavras estranhas… Como chegamos a esse ponto?

Rafael não respondeu de imediato. Seus lábios se comprimiram, e ele cerrou os punhos ao lembrar de cada decisão que o levara até ali. Aquele pacto que fizera — ou ajudara a fazer — agora se voltava contra ele. E o que mais o assustava era perceber que, por mais poder e influência que tivesse, nada disso servia diante do desconhecido.

O Sussurro das Sombras

Em um lampejo de relâmpago, Isabela sentiu um calafrio atravessar sua espinha. Ela se virou para Gabriel, que a olhava com a mesma expressão de alerta. Algo, ou alguém, espreitava nas ruínas do antigo colégio, movendo-se como um vulto ágil entre as paredes sem teto. O coração de Isabela pulsava com força, lembrando-a de como a morte fora cruel na vida anterior — e de como agora, mesmo renascida, a ameaça voltava a assombrá-la.

— Você viu aquilo? — ela sussurrou, aproximando-se de Gabriel para ser ouvida em meio à ventania.

— Sim, — ele respondeu, a voz grave. — Parece que não estamos sozinhos.

Nesse instante, um gemido estranho percorreu o ar, como o lamento de um vento que não pertencia a este mundo. As paredes derrubadas e os escombros pareciam vibrar, refletindo a energia densa que pairava no ambiente. Letícia parou de recitar as palavras por um segundo, sentindo a vibração crescer sob seus pés.

O Retorno do Medo

De repente, uma forma disforme se projetou atrás de uma das estruturas demolidas, lançando uma sombra longa e retorcida contra o círculo iluminado. Era impossível distinguir um rosto ou corpo definidos; parecia mais um aglomerado de escuridão pulsante, envolto em uma espécie de neblina negra. O ar esfriou ainda mais, e um odor acre tomou conta do lugar, como enxofre queimado.

Camila deu um grito abafado, recuando instintivamente. Beatriz agarrou o braço de Rafael, os olhos arregalados de pavor. Letícia tentou manter a concentração, mas sua voz falhou por um momento. A criatura emitiu um som gutural, quase um rosnado, e avançou alguns metros, parando na borda do círculo, como se analisasse a barreira invisível que os protegia.

Isabela e Gabriel trocaram um olhar de desespero contido. Ele, instintivamente, deu um passo à frente, como se quisesse defender Isabela de qualquer ataque. Ela sentiu uma onda de calor percorrer seu corpo ao perceber o cuidado dele, um contraste gritante com o frio intenso que emanava da entidade.

— Fique atrás de mim, — Gabriel murmurou, sem desviar o olhar da criatura.

— Não, — Isabela retrucou, com a voz trêmula, porém firme. — Estou cansada de fugir. Se essa coisa me quer, vai ter que me encarar.

Um Fio de Luz

A figura disforme se agitou, soltando um ruído que lembrava o ranger de metal retorcido. Letícia, recuperando a voz, ergueu o amuleto acima da cabeça e retomou as palavras do ritual. O vento pareceu se intensificar, chicoteando os cabelos de todos ali presentes, enquanto faíscas de energia crepitavam no ar.

De súbito, um clarão de relâmpago iluminou o terreno. Por um instante, foi possível ver o semblante de cada um — medo, coragem, arrependimento, esperança — estampados em seus rostos como uma pintura trágica. A criatura se contorceu, atacando a barreira invisível com uma fúria indescritível. As velas quase se apagaram, mas resistiram bravamente.

Foi então que Gabriel, movido por um impulso desesperado, segurou a mão de Isabela e a apertou contra o peito dele, como se quisesse compartilhar cada batida do coração. Ela o fitou, surpresa, sentindo uma mistura de adrenalina e algo mais profundo — um lampejo de afeto que ia além do caos ao redor.

— Confie em mim, — ele pediu, a voz abafada pela chuva.

— Eu confio, — ela respondeu, e nesse instante, um calor tomou conta de suas mãos entrelaçadas, como se um fio de luz se acendesse em meio às trevas.

A entidade avançou outra vez, mas um clarão mais intenso percorreu o círculo, projetando-a para trás. Letícia bradou as últimas palavras do ritual, e um estampido sobrenatural pareceu explodir no ar, dispersando a criatura em fragmentos de sombra que se dissolveram na chuva.

Um Respiro de Tensão e Romance

Quando tudo se acalmou, os relâmpagos ainda rasgavam o céu, mas a presença maligna havia sumido — ao menos por ora. O grupo permanecia unido, ofegante, enquanto a chuva continuava a cair sem piedade. Rafael, atônito, encarava o lugar onde a criatura desaparecera. Beatriz tremia, sem saber se sentia alívio ou pânico pelo que ainda poderia acontecer.

Isabela, ainda de mãos dadas com Gabriel, deixou escapar um suspiro trêmulo. Os olhos dela encontraram os dele, e por um breve segundo, o tempo pareceu parar. As batidas de seus corações se sobrepunham ao rugir do vento, e havia algo na troca de olhares que lembrava a promessa de um novo começo — mesmo que o mundo ao redor estivesse desmoronando.

Ele esboçou um sorriso cansado, mas sincero, e Isabela sentiu as próprias lágrimas se misturarem à chuva que escorria por seu rosto. Em meio ao terror e à tensão quase insuportável, um sopro de ternura brotava entre eles, como uma flor que insiste em florescer no asfalto destruído.

E assim, naquela noite sombria em que as forças do desconhecido pareciam invencíveis, a esperança encontrou seu lugar no simples toque de duas mãos. Um toque que, por um instante, fez a escuridão recuar e lembrou a todos de que, mesmo diante do pior pesadelo, o amor e a coragem ainda podem brilhar — como um relâmpago rasgando a escuridão.

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