12 CAPÍTULO

– Sussurros na Tempestade

A madrugada avançava sem piedade, e o temporal que castigava a cidade parecia refletir a angústia que dominava o coração de cada um ali. Isabela, Gabriel e Camila estavam reunidos na pequena sala de estar do apartamento, tentando assimilar tudo o que haviam vivido nas últimas horas. Lá fora, trovões ressoavam, fazendo as janelas tremerem, enquanto relâmpagos rasgavam o céu, iluminando brevemente os rostos tensos do trio.

— Então… qual é o próximo passo? — Camila perguntou, abraçando uma xícara de chá que tentava, em vão, aquecer suas mãos trêmulas.

Isabela lançou um olhar para Gabriel, que retribuiu com um leve aceno, confirmando que ambos estavam na mesma página.

— Precisamos da ajuda daquela sua conhecida, — começou Isabela, referindo-se à pessoa que Camila mencionara no capítulo anterior. — Alguém que entenda desses… fenômenos.

— Ela se chama Letícia. É pesquisadora e lida com casos que a maioria das pessoas consideraria lendas ou superstição, — explicou Camila, com a voz um pouco mais firme. — Eu nunca dei muita atenção a isso, mas, depois de tudo que vimos…

Um trovão interrompeu sua fala, fazendo o abajur oscilar e projetar sombras distorcidas nas paredes. A tempestade parecia aumentar, como se quisesse sufocar qualquer tentativa de resistência.

— Você consegue entrar em contato com ela agora? — Gabriel indagou, erguendo uma sobrancelha.

— Posso tentar, — Camila respondeu, pegando o celular sobre a mesa. — Mas não garanto que ela atenda no meio da noite.

Enquanto Camila digitava, Isabela se levantou e foi até a janela. A cortina balançava com a brisa úmida que entrava pela fresta, e, por um instante, ela pensou ter visto uma silhueta escura na rua, observando o apartamento. Seu coração deu um salto, mas, ao piscar, nada mais estava lá. Ainda assim, um arrepio percorreu sua espinha.

— Alguma coisa está nos vigiando, — murmurou, quase para si mesma. — É como se esse jogo fosse muito maior do que imaginávamos.

Gabriel se aproximou, tocando de leve o ombro dela.

— Você não está sozinha, Isabela. Não importa o que apareça no nosso caminho, vamos enfrentar juntos.

Camila interrompeu o momento, erguendo o olhar do celular.

— Consegui falar com a Letícia. Ela está acordada trabalhando em uma pesquisa e disse que podemos ir ao laboratório dela agora, se quisermos.

— Ótimo, — Isabela respondeu, afastando-se da janela. — Quanto antes entendermos o que está acontecendo, melhor.

Eles juntaram suas coisas rapidamente. A chuva não dava trégua, mas a urgência era maior do que qualquer medo de se molhar. Ao saírem do apartamento, cada trovão soava como um presságio de que algo terrível estava para acontecer.

Enquanto isso, do outro lado da cidade…

Rafael Montenegro estava sentado em sua luxuosa sala de estar, encarando a parede de vidro que oferecia uma vista privilegiada dos prédios iluminados. As luzes da cidade se misturavam às faíscas dos relâmpagos que rasgavam o céu. Ele tamborilava os dedos na mesa, o olhar perdido em reflexões sombrias.

Beatriz, de pé ao seu lado, mantinha os braços cruzados, impaciente.

— Você realmente acredita que há algo sobrenatural nessa história? — ela questionou, sem conseguir esconder o desdém na voz.

Rafael não respondeu de imediato. Seu semblante estava carregado de incerteza — algo que raramente acontecia. Desde que Isabela ressurgira de forma tão estranha, nada mais parecia fazer sentido. As pessoas que contratara para silenciá-la tinham falhado de maneira inexplicável. E agora, boatos sussurravam sobre aparições sombrias e aliados invisíveis que rondavam Isabela.

— Não sei no que acreditar, — ele finalmente disse, com um suspiro cansado. — Mas se existe algo além do nosso controle, é melhor estarmos preparados.

Beatriz aproximou-se, apoiando a mão em seu ombro.

— Temos poder e dinheiro. Se essas lendas forem reais, podemos pagar para descobrir como destruí-las.

Rafael ergueu o olhar para ela, como se quisesse enxergar além de sua arrogância. Por um instante, uma expressão de medo genuíno atravessou seu rosto.

— E se esse ‘algo’ estiver ao nosso lado, mas for mais perigoso do que pensamos?

Um raio iluminou o ambiente, revelando a apreensão estampada em seus olhos. Beatriz engoliu em seco. Aquilo era novo. Ver Rafael, tão seguro de si, demonstrando fragilidade, fazia o estômago dela revirar.

— Você está me dizendo que não sabe mais o que fazer? — ela questionou, tentando soar firme.

Rafael se levantou, caminhando até a janela. A chuva se chocava contra o vidro, criando um mosaico de gotas que escorriam sem rumo.

— Se Isabela tem mesmo algum tipo de ajuda sobrenatural, precisaremos de mais do que ameaças e subornos.

— Ou talvez seja hora de eliminarmos todos ao redor dela de uma vez, — Beatriz sugeriu, sua voz cortante como uma lâmina.

Rafael permaneceu em silêncio, analisando a ideia. Algo em seu interior dizia que essa abordagem brutal poderia se voltar contra ele. Ainda assim, a ideia de perder o controle o enchia de fúria.

Mais tarde, no laboratório de Letícia…

Camila guiou Isabela e Gabriel pelos corredores estreitos, iluminados por lâmpadas fluorescentes que piscavam vez ou outra. O local era uma mistura de escritório e depósito de equipamentos científicos, com estantes abarrotadas de livros sobre mitologia, ocultismo e fenômenos paranormais. Em meio a tudo, Letícia — uma mulher de expressão séria e olhar vivo — os aguardava ao lado de uma grande mesa repleta de anotações.

— Vocês vieram rápido, — ela comentou, sem rodeios. — Camila me contou algumas coisas por telefone, mas quero ouvir cada detalhe.

Isabela e Gabriel contaram tudo: a reencarnação de Isabela, a perseguição de Rafael, as aparições sombrias, a figura que os atacara no galpão e o vulto assustador que quase os alcançara na rua. Letícia ouviu em silêncio, fazendo anotações em um caderno grosso de capa de couro.

— Reencarnação, aparições, vultos com força e velocidade sobre-humanas… — ela murmurou, virando páginas de um livro antigo. — Parece que há uma convergência de fenômenos aqui. Alguém, ou algo, pode estar manipulando as forças que ligam a vida e a morte.

Isabela estremeceu ao ouvir aquilo. Mesmo tendo vivido sua própria morte e retorno, aceitar a ideia de forças desconhecidas atuando ao seu redor ainda era difícil.

— O que podemos fazer para nos proteger? — Gabriel questionou, passando a mão pelos cabelos úmidos de chuva.

Letícia folheou mais algumas páginas, franzindo o cenho diante de gravuras e textos em línguas antigas.

— Existem rituais de proteção, amuletos, orações específicas… mas nada garante que sejam eficazes contra o que vocês descrevem.

— Ótimo, — Isabela disse, frustrada. — Então não há como lutar contra isso?

A pesquisadora a fitou com seriedade.

— A única forma de derrotar um inimigo desse tipo é entendê-lo. Precisamos descobrir de onde vêm essas manifestações, quem as controla e qual o propósito delas. Se Rafael estiver envolvido, pode ter feito algum pacto ou aliança perigosa.

Camila trocou um olhar aflito com Isabela. Aquilo tudo soava tão surreal, mas ao mesmo tempo incrivelmente real.

— Vamos descobrir, — Isabela afirmou, a voz firme. — Não importa o que seja preciso.

Letícia assentiu, fechando o livro com cuidado.

— Vou buscar mais informações. Enquanto isso, tentem não andar sozinhos à noite e fiquem atentos a qualquer sinal incomum. Cada detalhe pode ser crucial.

Um trovão estrondou lá fora, sacudindo as paredes do laboratório. A tempestade não dava sinais de trégua, e a sensação de que algo maligno estava à espreita só aumentava. Isabela sentia o coração pesado, mas também uma determinação crescente. Ela não se curvaria ao medo — não depois de tudo que passara.

E assim, com a noite como testemunha, o grupo se preparava para enfrentar inimigos que ultrapassavam a compreensão humana. Enquanto isso, Rafael, em seu império de mentiras, planejava o próximo golpe, sem saber que forças muito além de seu controle também se moviam nas sombras.

A contagem regressiva havia começado, e cada passo dado na escuridão trazia consigo um eco de mistério e perigo — um sussurro que anunciava o inevitável choque entre mundos visíveis e invisíveis, entre a vida e o que jaz além dela.

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