11 CAPÍTULO

– Segredos na Penumbra

A noite se adensava lá fora, e o bar, antes um refúgio provisório, já não parecia tão seguro. O vento soprava com mais força, arrastando consigo folhas secas e um ar pesado, como se o próprio mundo pressentisse o caos que estava por vir. Isabela e Gabriel se entreolharam, conscientes de que não poderiam permanecer ali por muito tempo. A tensão em seus olhares confirmava que algo, ou alguém, os aguardava do lado de fora.

Ao deixarem o bar, foram recebidos por uma rua quase deserta. A luz mortiça dos postes projetava sombras alongadas no asfalto, que pareciam se mover em uníssono com os passos cautelosos de ambos. A cada esquina, Isabela sentia o coração acelerar, temendo que a figura misteriosa de chapéu escuro pudesse reaparecer a qualquer instante.

— Temos de voltar para o carro, — murmurou Gabriel, mantendo a voz baixa. — Não é seguro ficar andando por aí.

Isabela concordou com um aceno sutil, mas seu olhar percorria os telhados dos prédios ao redor. Após o que presenciara, não podia descartar a possibilidade de alguém — ou algo — observá-los de cima, espreitando como um predador na escuridão. Os relâmpagos distantes iluminavam o horizonte de forma esporádica, revelando contornos de edifícios que mais pareciam silhuetas de criaturas colossais.

A cada relâmpago, Isabela recordava o instante em que viu a figura no telhado, imóvel, porém assustadoramente consciente de sua presença. A lembrança ainda fazia sua espinha gelar.

— Precisamos de respostas, — ela disse, quebrando o silêncio. — Não podemos simplesmente continuar correndo sem saber contra o que estamos lutando.

Gabriel lançou um olhar de preocupação a ela.

— Talvez haja alguém que possa nos ajudar a entender o que está acontecendo. Você conhece alguma pessoa que entenda… dessas coisas? — ele hesitou ao pronunciar as últimas palavras, como se não quisesse admitir que havia algo de sobrenatural envolvido.

Isabela mordeu o lábio, pensativa.

— Minha irmã, Júlia, sempre foi muito sensível a coisas que eu não conseguia explicar. Mas ela é só uma garota… não quero envolvê-la nisso.

— E Camila? — Gabriel sugeriu. — Ela também está nessa história desde o começo. Pode ser que conheça alguém…

— Pode ser, — Isabela concordou, mesmo que relutante. — Mas não tenho certeza se isso não vai colocar a vida dela em risco.

Eles continuaram andando, agora em direção ao estacionamento onde haviam deixado o carro. A chuva começava a cair em gotas espaçadas, aumentando a atmosfera lúgubre que os cercava. O som das gotas contra o asfalto ecoava pelas ruas vazias, como pequenos tambores anunciando uma tempestade vindoura.

Em meio à escuridão, avistaram finalmente o veículo. Gabriel destravou as portas, mas hesitou antes de entrar. Seu olhar se voltou para trás, como se pressentisse algo. Isabela sentiu o mesmo arrepio que experimentara minutos antes, a impressão de que não estavam sozinhos. De repente, um estrondo ecoou pelos prédios, seguido por um relâmpago que rasgou o céu. Na claridade breve, vislumbraram um vulto esguio, parado na esquina, encarando-os com uma postura rígida.

— Entre no carro, rápido! — Gabriel exclamou, empurrando Isabela para dentro. Ele contornou o capô e assumiu o volante com a respiração ofegante.

Enquanto ligava o motor, o vulto se moveu, quase flutuando pela calçada. Era difícil enxergar seus traços, mas a sensação de ameaça era inconfundível. Os faróis iluminaram a figura por um instante, revelando um rosto pálido, olhos fundos e um sorriso que arrepiava a pele. Parecia que a própria escuridão envolvia aquele ser.

— Quem é você?! — Isabela gritou, apesar de saber que não obteria resposta. O carro arrancou, e, por um breve momento, ela pensou ter ouvido uma gargalhada baixa, como um eco do além.

A chuva apertou, e as ruas tornaram-se escorregadias. Gabriel dirigia com cuidado, enquanto Isabela tentava processar os acontecimentos. Não bastasse enfrentar Rafael e seus comparsas, agora tinham de lidar com algo que extrapolava o compreensível. Lembrava-se de como tudo começara — uma morte injusta, uma reencarnação inesperada — e se perguntava se esse “renascimento” a havia conectado a forças desconhecidas.

— Vamos para a casa da Camila, — ela sugeriu, tentando recuperar a firmeza na voz. — Talvez possamos traçar um plano ou descobrir algum contato que entenda desse tipo de… fenômeno.

Gabriel concordou, virando a direção em uma rua menos movimentada. O limpador de para-brisa lutava contra a chuva intensa, e as janelas começavam a embaçar. Cada trovão parecia mais próximo, estremecendo o interior do carro.

Quando finalmente estacionaram em frente ao prédio de Camila, Isabela pôde sentir um pequeno alívio. Ao menos lá dentro, haveria quatro paredes para protegê-los, ainda que temporariamente. Subiram correndo, molhados até os ossos, e bateram na porta do apartamento.

Camila atendeu em poucos segundos, surpresa e preocupada ao vê-los naquele estado.

— Meu Deus, o que aconteceu com vocês? — ela perguntou, puxando-os para dentro. — Vocês estão tremendo!

Gabriel tentava falar, mas a adrenalina e o cansaço pesavam. Isabela, por sua vez, respirou fundo e resumiu o que acontecera naquela noite. Falou do bar, do homem no balcão, do vulto no telhado, da figura assustadora na rua. A cada frase, os olhos de Camila se arregalavam mais.

— Isso é loucura, Isa! — ela exclamou, levando a mão à boca. — Você acha mesmo que… que existe algo sobrenatural por trás de tudo isso?

Isabela lançou um olhar significativo para Gabriel, que assentiu em silêncio.

— Não sei mais o que pensar, mas precisamos estar preparados para qualquer coisa, — ela respondeu, passando a mão pelos cabelos molhados. — Rafael tem aliados que não são apenas humanos. E se for esse o caso, nossa luta é ainda maior do que pensávamos.

Camila mordeu o lábio, tentando processar. Então, ergueu o queixo, decidida.

— Seja lá o que for, não vou abandonar vocês. Somos amigos, e vou ajudar no que puder. Tenho uma conhecida que estuda fenômenos estranhos… é meio excêntrica, mas talvez ela possa nos dar alguma pista.

O silêncio tomou conta do apartamento por alguns instantes, enquanto a tempestade lá fora se intensificava. O vento uivava, e os trovões faziam as janelas vibrarem. Era como se a natureza refletisse o turbilhão de emoções e perigos que envolviam Isabela, Gabriel e agora Camila.

— Muito bem, — Isabela disse, forçando um sorriso para disfarçar o medo. — Então vamos começar a desvendar isso. Se Rafael achou que poderia nos aterrorizar, está muito enganado.

Gabriel pousou uma mão firme sobre o ombro dela, como um gesto silencioso de apoio. Camila, ao lado, tentava manter a compostura, mas seu olhar traía a apreensão que sentia. De uma forma ou de outra, estavam todos mergulhados em um jogo maior que suas próprias vidas — um jogo em que as regras iam além da lógica humana.

No fundo, Isabela sabia que cada passo adiante os aproximava de um abismo desconhecido. Mas ela também sabia que não podia recuar. A sede de justiça e a necessidade de proteger aqueles que amava eram mais fortes do que qualquer medo. E, se fosse preciso enfrentar criaturas sombrias ou forças sobrenaturais, que assim fosse.

Afinal, o passado já a havia ensinado que a vida é um tabuleiro imprevisível — e que, às vezes, para vencer, é preciso encarar a escuridão de frente.

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