– Ecos na Escuridão
A madrugada avançava lenta, como se o tempo se esticasse ao limite do suportável. Cada segundo pesava como uma eternidade, e o silêncio, entrecortado pelos batimentos acelerados do coração de Isabela, parecia quase palpável. Um vento gélido percorria as ruas vazias, erguendo pequenos redemoinhos de poeira sob a fraca luz dos postes. Tudo ali parecia sussurrar segredos antigos e perigosos.
Isabela e Gabriel caminharam em passos apressados, deixando para trás o prédio abandonado onde haviam enfrentado o misterioso atacante. Suas respirações estavam ofegantes, não apenas pela corrida repentina, mas pela carga de tensão que pairava no ar. A cada esquina, Isabela tinha a sensação de que as sombras se moviam por vontade própria, contorcendo-se em formas humanas que pareciam observá-los com olhos invisíveis.
“Você sentiu aquilo?” ela perguntou, rompendo o silêncio. Sua voz saiu trêmula, carregada de inquietação. “Não era apenas alguém tentando nos assustar… havia algo de errado naquele homem.”
Gabriel lançou-lhe um olhar rápido, confirmando que sentia o mesmo. “Ele se movia rápido demais, quase como se estivesse em dois lugares ao mesmo tempo. E aquele riso… ainda ecoa na minha cabeça.”
Eles dobraram uma esquina e, de repente, a iluminação da rua se apagou por completo. O breu os envolveu, e Isabela sentiu seu estômago revirar. O coração batia tão forte que ela temia que o som pudesse atrair qualquer criatura escondida nas trevas. Um cheiro doce e enjoativo de flores mortas pairava no ar, aumentando a sensação de estranheza.
Subitamente, um relâmpago iluminou o céu, revelando as silhuetas dos prédios altos que os cercavam. Por um breve segundo, Isabela vislumbrou uma figura imóvel no telhado de um edifício à frente. Era alta e esguia, e, mesmo à distância, parecia encará-los diretamente. O clarão seguinte revelou que a figura não estava mais lá.
“O que foi isso?” Gabriel balbuciou, tentando se manter firme, mas a tensão era visível em seu olhar.
Isabela engoliu em seco. “Não sei. Mas seja o que for, não é apenas humano.”
Eles aceleraram o passo, buscando refúgio em uma rua mais iluminada. Enquanto corriam, Isabela recordava dos rumores que ouvira sobre Rafael. Falava-se que ele tinha aliados poderosos, gente disposta a qualquer coisa para cumprir suas ordens. Mas aquilo… aquilo beirava o sobrenatural.
Atravessaram uma praça deserta, com bancos de ferro antigos e árvores retorcidas que pareciam erguer galhos como garras para o céu escuro. As folhas farfalhavam de modo sinistro, e o rangido do metal, combinado ao assobio do vento, criava uma sinfonia arrepiante.
Por fim, avistaram um pequeno bar ainda aberto, com uma luz amarelada e reconfortante escapando pelas frestas das portas. Sem hesitar, eles entraram, sentindo o calor acolhedor do lugar envolvê-los como um cobertor. O som suave de música antiga preenchia o ambiente, afastando por um momento a sensação de que algo os perseguia.
Sentaram-se a uma mesa nos fundos, longe dos poucos clientes dispersos pelo salão. A luz fraca de um abajur criava sombras dançantes nas paredes. Gabriel pediu dois copos de água, e Isabela esfregou as mãos uma na outra, tentando dissipar o calafrio que ainda a dominava.
“Você acha que Rafael mandou aquele homem atrás de nós?” ela questionou, a voz baixa para não chamar atenção.
Gabriel fitou o vazio por um instante, como se buscasse as palavras certas. “Eu não sei se foi Rafael diretamente… mas tenho certeza de que alguém muito próximo a ele está envolvido. A questão é: até onde vão esses laços? E que tipo de… força… eles estão usando?”
A mente de Isabela se encheu de lembranças da vida passada. A morte, a traição, o ódio. Agora, renascida, ela não permitiria que a história se repetisse. Mas esse novo elemento – essa presença sombria – era algo que ela não havia previsto. Um componente sobrenatural que tornava tudo ainda mais perigoso.
Enquanto bebia a água, ela sentiu um calafrio na nuca, como se alguém a observasse de muito perto. Ergueu o olhar e notou um homem de chapéu escuro sentado ao balcão, virado em sua direção. Não conseguia ver seu rosto claramente, mas havia algo de profundamente perturbador na postura dele.
Gabriel percebeu e seguiu seu olhar. Ao notar que estavam sendo observados, o homem no balcão levantou-se e saiu em passos leves, quase imperceptíveis. Em poucos segundos, desapareceu na noite.
“Isso está ficando sério demais,” Gabriel murmurou, passando a mão pelos cabelos em sinal de nervosismo.
“Sei que é perigoso,” Isabela respondeu, “mas não posso recuar. Se eu não for até o fim, Rafael vai continuar com seus jogos sujos, e seja lá o que estiver ao lado dele, vai me caçar de qualquer jeito.”
Eles se entreolharam, conscientes de que estavam mergulhando em águas mais profundas do que jamais haviam imaginado. A cada passo, a cada descoberta, o mundo ao redor parecia se tornar mais estranho, mais hostil. Mas, ao mesmo tempo, Isabela sentia uma força interna crescer, impulsionada pela sede de justiça e pela vontade de proteger aqueles que amava.
E assim, naquele bar esquecido no coração da noite, ela tomou a decisão de enfrentar não apenas Rafael e seus capangas, mas também as forças desconhecidas que pareciam rondar suas sombras. Algo dentro dela dizia que essa era a única forma de pôr fim ao pesadelo.
Afinal, quando se trata de vingança e sobrevivência, até os mortos podem se levantar.
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Atualizado até capítulo 46
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