2 CAPÍTULO

Capítulo 2 - O Jogo Começou

O toque do celular ecoava pelo quarto silencioso. Meu coração pulsava descompassado, como se cada batida anunciasse o início de algo maior, algo inevitável. O nome de Rafael brilhava na tela como um fantasma do passado. Minhas mãos tremiam, mas não de medo. Dessa vez, a adrenalina corria em minhas veias como fogo, queimando qualquer resquício de ingenuidade.

Atendi.

"Isa?" A voz dele, antes doce e envolvente, agora soava como um eco distante, uma sombra que eu já não temia. Fechei os olhos por um breve segundo, respirando fundo. A cena do galpão ainda estava viva em minha mente. O sangue, a traição, o sorriso cruel de Beatriz. Mas agora, tudo era diferente.

"Rafael," respondi, a voz firme, calculista. "Que surpresa você me ligar tão cedo. Algum problema?"

Houve um breve silêncio do outro lado da linha. Ele não esperava essa reação. Na minha vida anterior, eu teria soado hesitante, ansiosa por qualquer migalha de atenção que ele me desse. Mas agora, era diferente. Agora, eu era diferente.

"Eu... só queria ouvir sua voz," ele disse, forçando um tom afetuoso. "Senti sua falta."

A ironia daquela frase quase me fez rir. Mas me controlei. O jogo precisava ser jogado com precisão. O menor erro poderia custar minha vantagem.

"Que bonito, Rafael. Mas não parece algo que você diria normalmente." Pausei, deixando o silêncio se prolongar o suficiente para torná-lo desconfortável. "O que você quer de verdade?"

Ele riu, mas havia algo forçado naquele som. "Isa, você está estranha. Aconteceu alguma coisa?"

Sim, Rafael. Eu morri. Morri por sua causa.

Mas em vez de responder, deixei um sorriso se formar em meus lábios. "Apenas amadureci. Acho que você vai ter que se acostumar com isso."

Mais silêncio. Eu podia sentir a tensão do outro lado da linha, quase podia vê-lo franzindo a testa, tentando entender a mudança. Rafael não gostava do inesperado. Ele preferia as pessoas sob controle, sob seu comando.

"Podemos nos encontrar hoje?" Ele perguntou por fim.

"Claro," respondi sem hesitar. "No mesmo café de sempre? Oito horas?"

Ele concordou e desligou. Fiquei olhando para a tela por alguns instantes, absorvendo o momento.

O jogo havia começado.

A noite chegou como um sussurro sombrio. No café, sentei-me na mesma mesa de sempre, mas não era mais a mesma mulher que costumava esperar ansiosa por Rafael. Cruzei as pernas, segurei a xícara entre as mãos e observei o reflexo das luzes da cidade dançando no vidro ao meu lado.

Ele chegou alguns minutos depois, impecável como sempre. Terno perfeitamente ajustado, olhar encantador, sorriso ensaiado. O predador mascarado de príncipe.

"Isa." Ele sorriu, mas seus olhos me estudavam, tentando encontrar algo fora do lugar. "Você está diferente."

Inclinei a cabeça, apoiando o queixo na palma da mão. "Diferente como?"

Ele pousou as mãos sobre a mesa, os dedos entrelaçados. "Não sei... mais confiante. Mais... distante."

Dei um pequeno sorriso. "A vida ensina, Rafael. Aprendi que confiar demais nas pessoas pode ser um erro fatal."

Por um instante, vi algo passar por seu olhar. Um brilho de desconfiança? Medo?

"Bom saber," ele disse, recostando-se na cadeira, tentando disfarçar sua surpresa.

Mas eu já tinha vencido essa pequena batalha. Eu não era mais a peça frágil de seu jogo.

Agora, eu era a jogadora.

E ele não fazia ideia do que estava por vir.

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Lisa Estigarribia

Lisa Estigarribia

isso

2025-04-06

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