O Fim e o Recomeço
A dor era insuportável. Cada respiração era um tormento, cada piscada parecia roubar o pouco de vida que ainda restava em mim. O chão frio sob meu corpo contrastava com o líquido quente que escorria pelo meu abdômen. Sangue. Meu sangue.
"Por quê?" A pergunta escapou dos meus lábios num sussurro fraco. Minha voz tremeu, quase se apagando no silêncio do galpão escuro. O cheiro metálico do sangue e o mofo das paredes me sufocavam.
A resposta veio através dos olhos frios de Rafael Montenegro, o homem que um dia jurei amar. Seu olhar não carregava uma gota de remorso, apenas satisfação. Ao seu lado, com um sorriso de pura vitória, estava Beatriz Costa, minha melhor amiga. Ou, ao menos, era o que eu pensava.
"Nada pessoal, Isa. Apenas negócios." A voz de Rafael era calma, calculista, como se minha morte não fosse nada mais do que uma peça descartável em seu grande jogo. Sua frieza fez algo dentro de mim se partir. Eu queria gritar, queria implorar por respostas, mas minha força se esvaía rápido demais.
Beatriz riu, segurando um contrato entre os dedos como se fosse um troféu. "Pobre Isa… sempre tão ingênua. Sempre acreditando que o amor e a amizade poderiam protegê-la."
O ar se tornou pesado. Eu queria amaldiçoá-los, queria dizer algo que os assombrasse para sempre, mas tudo o que consegui foi uma lágrima quente escorrendo pelo canto dos meus olhos. A última coisa que vi foi o brilho cruel nos olhos de Beatriz antes que tudo escurecesse.
A dor cessou. O mundo ficou silencioso.
E então, o impossível aconteceu.
Eu acordei.
Não na frieza do chão de um galpão abandonado, mas em um quarto familiar. O teto branco, os lençóis macios, o perfume leve de lavanda. O quarto era meu. Mas… como? Meus dedos percorreram minha barriga em busca dos ferimentos que deveriam estar ali. Nada. Sem sangue, sem dor. Meus olhos foram atraídos para o celular ao lado da cama. Tremendo, alcancei o aparelho e o liguei.
A data na tela fez meu coração parar. Dez anos antes.
Engoli em seco, sentindo o pânico crescer dentro de mim. "Isso… isso não é possível…" Murmurei, minha voz trêmula. Mas as provas estavam diante de mim. O mesmo papel de parede do meu celular que usava naquela época, as mensagens antigas ainda não respondidas. Meu coração disparou.
Minha mente girava em um turbilhão de memórias. Lembranças daquela traição ainda eram vívidas, como se tivessem ocorrido ontem. Mas agora, eu tinha uma vantagem. Eu sabia quem eram meus inimigos. Eu sabia quem merecia minha confiança e quem deveria ser eliminado da minha vida antes que pudesse me destruir.
Levantei-me da cama num salto, minha respiração pesada. O espelho no canto do quarto refletiu um rosto familiar, mas diferente. Meus olhos estavam cheios de determinação, minha expressão endurecida por algo que eu nunca tivera antes: conhecimento do futuro.
"Dessa vez, não." Murmurei para meu reflexo. "Dessa vez, serei eu quem controla o jogo."
O celular vibrou em minhas mãos. O nome de Rafael piscou na tela. Meu coração acelerou, mas agora, não por medo. Apertei os lábios e, com um sorriso frio, deslizei o dedo pela tela para atender. A guerra havia começado.
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Atualizado até capítulo 46
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