O dia já caía devagar, tingindo as janelas do pequeno condomínio com um dourado tímido e morno, como se até o sol estivesse cansado. A babá esperava à porta do kitnet 204, ajeitando a mochila gasta nos ombros, com os dedos nervosos enrolando uma das alças. Ela era uma menina de voz suave e olhos que brilhavam de gentileza, mesmo quando estavam cansados. O nome dela era Baek So-hee.
So-hee tinha 17 anos e trabalhava desde os 14. A mãe, costureira em tempo integral, vivia entre as linhas tortas do tecido e a esperança de que a filha não precisasse seguir o mesmo destino. Mas a vida não dava trégua — e So-hee, com sua doçura trabalhadora e seus sorrisos educados, fazia questão de ajudar.
— Aqui — disse Joon-sik, estendendo o envelope fino, cuidadosamente contado. As mãos dele — grandes, marcadas pelas pequenas cicatrizes do trabalho e da vida — envolviam o envelope com a firmeza de quem sabia o peso de cada won entregue. — Você cuidou bem deles. Como sempre.
So-hee sorriu, abaixando a cabeça num agradecimento tímido, respeitoso, como sempre fazia.
— Obrigada, oppa. Eles estavam bem... Hyun-woo só ficou bravo porque o ursinho dele caiu da cama na hora do cochilo.
Joon-sik soltou um suspiro que era quase um riso.
— Claro. A revolução do Hyun-woo por causa do ursinho. Já tô acostumado. Anda, vai logo. Já tá tarde.
Ela hesitou, como se quisesse dizer algo. Mas não disse. Apenas fez uma reverência curta e desapareceu pela escada. O som dos passos descendo se apagou aos poucos, e a porta se fechou com um clique macio atrás dele.
Silêncio. Por um segundo.
Depois — o caos doce do seu mundo.
Hyun-woo gritou da sala. Ji-hun deu um empurrão no cercadinho. Ji-yoon soltou um som abafado de desagrado no berço.
Joon-sik respirou fundo, tirando a camisa social já amassada e jogando-a sobre a cadeira. Ficou com a camiseta de algodão por baixo. O pai-alfa estava de volta à caverna — e seus lobinhos exigiam presença.
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A casa já estava pré-arrumada por So-hee, mas ele ainda passou os olhos sobre cada canto. Os brinquedos estavam nos cestos, mas alguns já haviam escapado. As roupas sujas, escondidas atrás da porta. O prato de plástico de Ji-hun ainda na pia, o bico do mamilo do bebê na borda da pia — coisa simples, mas cada detalhe importava.
— Ok... missão começar — murmurou.
A rotina começava com o jantar. Água no fogo, legumes cortados no vapor. Ele sabia fazer as papinhas com um cuidado de chef premiado — cenoura amassada com batata-doce, um fiozinho de azeite. Ji-yoon mamaria leite morno, na temperatura exata. Nem um grau a mais.
Enquanto os vegetais ferviam, foi até o tatame da sala. Hyun-woo estava deitado com o chaveirinho de couro colado ao peito como um troféu. Quando viu o pai, levantou-se com aquela urgência possessiva e correu direto para o colo.
— Appaaaaa...
— Eu tô aqui, Hyun-woo. Calma, calma.
Ji-hun observava, sério, do canto do cercado. Quando viu o irmão no colo, fez uma expressão levemente ofendida e abriu os bracinhos, exigindo tratamento igual. Joon-sik riu — um som curto, quase melancólico.
— Vocês são o meu exército. Não sei se de generais ou tiranos.
Pegou Ji-hun também, equilibrando os dois nas pernas. Com um movimento quase treinado, apoiou os meninos nos quadris, os braços formando uma ponte firme. Foi até Ji-yoon, que emitia sons impacientes no berço. Os olhos cinzentos, semicerrados, pareciam julgá-lo com um tédio aristocrático.
— Vossa excelência acordou.
Com cuidado, pegou o bebê, segurando-o contra o peito. A cabeça de Ji-yoon repousou em seu ombro, mas com um leve franzir de nariz — o cheiro estava bom, o calor era aceitável, então ele permitiu o colo.
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O jantar foi um balé.
Sentado no chão da sala com as pernas cruzadas, Joon-sik segurava a colher numa mão, o copinho de suco com a outra, e ainda fazia carinho na cabeça de Ji-yoon com o queixo, enquanto o bebê mamava. Hyun-woo insistia em “ajudar” o irmão do meio a comer, e Ji-hun reagia com expressões entre o desprezo e a resignação.
— Não, Hyun-woo. Ele come sozinho. Você já teve a colher. Agora é a vez dele.
— Mmm... minhaaaaa — o mais velho resmungava, apontando para a colher.
— Não é tua. É do Ji-hun. Tu já comeu, grandão.
Hyun-woo cruzou os braços e fez o bico. Mas aceitou, desde que o pai passasse a mão em sua cabeça e dissesse:
— Você é o mais velho. O hyung. Forte, né?
O menino sorriu. Vitória restaurada.
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Mais tarde, com a casa limpa, a louça lavada e os brinquedos de volta aos cestos, todos foram para o sofá.
A televisão passava algo qualquer, mas o volume estava baixo. Era mais a luz tremeluzente do que o som que fazia companhia. Hyun-woo deitou com a cabeça no colo do pai. Ji-hun enfiou-se entre os braços e a barriga dele. Ji-yoon dormia sobre o peito nu, respirando com aquele som leve de nariz delicado — como se ele estivesse mais tolerando o aconchego do que realmente desfrutando.
Joon-sik olhava o teto, os olhos semiabertos. As mãos continuavam fazendo carinho automático nos filhos, como se não soubessem parar. Estavam ali todos os seus amores. E também todas as suas exaustões.
Depois de um tempo, se levantou devagar, como quem move uma peça rara de porcelana. Levou os meninos para o quarto. Ji-hun foi o primeiro a cair, rendido ao cansaço. Hyun-woo resistiu, mas dormiu segurando o chaveiro e a manga da camisa do pai. Ji-yoon, com olhos entreabertos, aceitou o berço como um trono, mas só depois que o lençol foi ajeitado três vezes e o pai encostou o rosto contra seu cabelo e sussurrou algo em voz baixa. Ninguém entendeu. Mas o bebê pareceu aprovar.
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Quando o silêncio se estabeleceu, Joon-sik enfim entrou no banheiro. A água quente caiu sobre os ombros, levando embora a fadiga do dia. Ele não pensava muito. Só sentia. O vapor subia, a pele relaxava, o coração desacelerava. No espelho embaçado, o reflexo era de um homem jovem, cansado, mas com um olhar sereno. Quase satisfeito.
Saiu com a toalha na cintura. Passou pelo quarto. Três corpos pequenos, três respirações únicas, preenchendo o ar com vida.
Deitou-se no chão ao lado deles, sem travesseiro, apenas uma coberta leve por cima.
O último pensamento antes de dormir:
Eles estão bem.
E isso era tudo o que importava.
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Atualizado até capítulo 20
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