...Lua não gostava de ficar na escola e muito menos de voltar para casa. Em um lugar, sofria com o bullying e o preconceito. No outro, encarava a miséria e a solidão. Sua casa era um barraco de madeira tão fino que, pelas frestas, era possível ver o lado de fora. Nos dias de chuva, era ainda pior. A água escorria pelo telhado furado e inundava o chão, molhando o pouco que restava de seus móveis, que estavam apodrecendo com o tempo. A geladeira, velha e enferrujada, fazia barulho, mas estava praticamente vazia—não havia nada além de uma garrafa de água quase seca....
...Seus pais deveriam garantir uma vida minimamente digna para ela, mas, ao invés disso, a deixavam à própria sorte. O pouco que ganhavam com a reciclagem mal cobria os vícios e as irresponsabilidades. Se não fosse pela bondade de alguns vizinhos, Lua nem teria o que comer....
...Ela se sentou na escada de casa e ficou olhando para o chão de terra batida. O coração pesava. Será que sua vida sempre seria assim?...
...— Como seria se eu tivesse pais normais? Se eles me amassem de verdade? — murmurou para si mesma, sentindo um nó na garganta....
...O vento frio da manhã passava por sua pele, mas o que mais doía não era o frio externo, e sim o vazio dentro de si. A ausência de carinho. A falta de um lar de verdade....
...— Por que eu? — questionou, fechando os olhos com força....
...Ela queria tanto mudar aquela realidade, queria ser feliz, queria se olhar no espelho e se sentir bonita. Mas na escola, os apelidos cruéis a perseguiam. "Neguinha da África", "cabelo de bombril", "feia". Palavras que machucavam mais do que qualquer pancada....
...Lua abraçou as próprias pernas, tentando se encolher do mundo. Sua mente estava longe, e sua própria voz interna parecia travar uma discussão com ela....
...— Você nunca vai sair daqui....
...— Mas eu quero mudar....
...— E como? Você não tem dinheiro, não tem ninguém que te apoie....
...— Eu posso tentar, posso estudar, posso......
...— Você sabe que não é tão simples....
...As lágrimas escorriam silenciosas por seu rosto. Ela sabia que muitas famílias na comunidade passavam pela mesma situação, crianças que cresciam sem esperança, sem perspectivas. Mas isso não tornava a dor mais fácil de suportar....
...— Deus, se o Senhor existe, me diz... por que eu nasci? Qual o meu propósito? — perguntou baixinho, olhando para o céu nublado....
...O silêncio foi sua única resposta....
...Sentindo-se exausta, Lua suspirou. Secou o rosto com as mãos e decidiu entrar. Não queria que ninguém a visse chorando. Caminhou até o pequeno banheiro, que mais parecia um cubículo. O chuveiro mal funcionava, mas ela precisava sentir a água em sua pele, como se pudesse lavar tudo que estava sentindo....
...— Eu vou mudar isso — sussurrou para o espelho trincado à sua frente....
...Era uma promessa para si mesma....
...Por mais que o mundo dissesse o contrário, ela ainda queria acreditar que havia algo além da dor esperando por ela....
...Lua então se arrumou e foi dar uma volta na praça, para poder esquecer um pouco de sua realidade....
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Silvania Maria do Nascimento
mais capítulos dessa linda história maravilhosa.
2025-02-18
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