Encontro no telhado

...A noite anterior ainda ecoava na mente de Lua. O medo, a angústia, a sensação de estar encurralada. Por um momento, ela achou que aqueles garotos conseguiriam fazer covardia com ela. O coração acelerado, o desespero tomando conta do corpo, a impotência diante da crueldade alheia....

...Mas Arthur apareceu. Como se fosse um anjo inesperado no meio da escuridão....

...Arthur…...

...Ele, que sempre se manteve distante, que nunca demonstrou interesse em se aproximar de ninguém, principalmente de garotas. Tantas já tentaram, tantas foram rejeitadas… E, no entanto, foi ele quem a salvou....

...Lua abraçava os próprios joelhos enquanto se balançava levemente no telhado de casa. O frio cortante da madrugada não parecia incomodá-la tanto quanto a ausência dos pais. Onde eles estavam? Nunca demoraram tanto para voltar. Mesmo com todos os erros e irresponsabilidades, eram seus pais… E a ausência deles sempre pesava no peito....

...O céu estava coberto de estrelas, e a lua cheia iluminava a cidade silenciosa. Enquanto Lua mergulhava em seus pensamentos, Arthur, lá embaixo, a observava em silêncio. A brisa noturna fazia os cabelos dela dançarem suavemente, como se fossem parte da própria escuridão. O brilho prateado da lua refletia em seus olhos, e por um momento, ele ficou paralisado, admirando aquela cena....

...Arthur não era do tipo que se encantava facilmente. Pelo contrário, sempre manteve uma barreira ao redor de si. Mas havia algo nela… algo que prendia sua atenção....

...Naquele momento, ele percebeu que ainda segurava uma sacola com lanches. Era sua última entrega da noite, mas o cliente não estava em casa. Se voltasse para a lanchonete, os lanches seriam descartados. Sem pensar muito, tomou uma decisão....

...Subiu a longa escadaria com sua moto, que ecoava um barulho irritante pelo silêncio da noite. Lua, ao ouvir o som repentino, se assustou e rapidamente olhou para baixo....

...— O que ele está fazendo aqui? — murmurou para si mesma....

...Aquela rua terminava na casa dela, não havia mais ninguém ali. Ele estava vindo em sua direção? Seria alguma entrega? Mas a essa hora?...

...Arthur desligou a moto, tirou o capacete e, sem rodeios, ergueu a sacola em direção a Lua....

...— Quer um lanche?...

...Lua piscou, surpresa com a pergunta inesperada....

...— Eu… eu não tenho dinheiro agora… desculpa....

...Arthur soltou um sorriso de canto, um daqueles raros de se ver....

...— Não estou vendendo. É de graça....

...Ela hesitou por um segundo, mas o estômago roncou alto, denunciando sua fome. Não tinha jantado, preocupada demais com os pais....

...— Obrigada… — disse baixinho, pegando o lanche....

...Arthur olhou para o telhado e perguntou:...

...— Posso subir?...

...Lua assentiu, movendo-se um pouco para o lado para dar espaço....

...Ele escalou com facilidade e se sentou ao lado dela. O silêncio foi quebrado apenas pelo som dos lanches sendo desembrulhados. Nenhum dos dois parecia saber exatamente o que dizer, mas não era um silêncio desconfortável. Pelo contrário, parecia certo....

...Entre uma mordida e outra, começaram a conversar. Falaram sobre coisas aleatórias, da cidade, das noites silenciosas, dos sonhos que nunca contaram para ninguém....

...Arthur contou que seu sonho era sair daquela cidade pequena e conhecer o mundo. Lua revelou que, apesar de amar as estrelas, nunca conseguiu se sentir completamente livre para sonhar....

...A conexão entre os dois crescia a cada palavra trocada, a cada olhar discreto. Não era amor ainda. Mas era algo....

...Algo que, inevitavelmente, mudaria a vida dos dois....

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