Um ano antes da explosão no aeroporto.
O tribunal cheira a madeira envelhecida e tensão. O murmúrio dos espectadores ecoa pelo salão, abafado apenas pelo martelar firme do juiz, ordenando silêncio. Estou sentada na cadeira da ré, mas desta vez, não sou a criminosa. Sou a mãe que luta pela filha.
Meus dedos apertam o tampo da mesa de mármore, frios, mas firmes. Não há espaço para fraqueza. Não hoje. Não aqui. Do outro lado da sala, Esther Machado ergue o queixo, o rosto envelhecido marcado por uma frieza que aprendi a detestar. A mulher que criou minha filha como se fosse dela. A mulher que me roubou anos da vida da minha filha.
Ela não está sozinha. Seus advogados formam uma muralha entre nós. Um teatro bem ensaiado para mostrar ao juiz que Laila pertence a ela.
Mas Laila é minha.
— Tribunal de Justiça do Estado de Vale Verde, caso número 072-21. Suraya Lemos Monteiro de Abreu versus Esther Machado. Disputa de guarda da menor Laila Monteiro de Abreu.
A voz do escrivão ecoa no silêncio absoluto. Minha advogada, Dra. Morgan, ajeita os óculos e se levanta.
— Excelência, hoje estamos aqui para reparar uma injustiça. Minha cliente, Suraya Abreu, passou sete anos encarcerada por um crime que não cometeu. Durante esse período, sua filha foi tirada de seus braços e criada por Esther Machado, avó por afinidade e criação. No entanto, agora que minha cliente foi absolvida e todas as acusações contra ela foram retiradas, pedimos a restituição de seus direitos como mãe.
O juiz, um homem de feições duras e expressão impenetrável, cruza os dedos sobre a mesa. Seus olhos percorrem os papéis à sua frente antes de se voltarem para mim.
— Senhora Abreu, entende que essa decisão afetará profundamente a vida da menor?
Minha respiração é controlada. Me levanto com firmeza.
— Excelência, o que afetou a vida da minha filha foi crescer sem a mãe. Eu não escolhi abandoná-la. Fui tirada dela.
Os advogados de Esther se remexem desconfortáveis. Eu vejo o jogo. Eles querem me pintar como instável, como uma ameaça.
Esther se levanta em um movimento ensaiado.
— Com todo o respeito, meritíssimo, essa mulher pode ter sido solta, mas isso não apaga seu passado. Laila está segura comigo. Estável. Não precisa ser arrastada para o mundo instável de Suraya.
Mundo instável. Ela não sabe o que diz.
Minha advogada intervém antes que eu possa responder.
— Estável? — Morgan ergue uma sobrancelha. — A estabilidade que a senhora menciona inclui afastar a menina de sua própria mãe? Alimentá-la com mentiras durante anos?
Os olhos de Esther brilham com indignação, mas ela não responde. O juiz tamborila os dedos na mesa antes de falar:
— Quero ouvir a menina.
O impacto das palavras faz o sangue congelar em minhas veias.
A porta lateral se abre, e Laila entra.
Minha respiração falha.
Havia meses que não via a Laila, desde a mudança de Lagoas para Santa Eulália. Mesmo assim, eu reconheceria minha filha em qualquer lugar.
Ela não parece frágil como a vi pela última vez, está mas crescida. Está mais alta, os cabelos longos e lisos caindo sobre os ombros. Mas os olhos… os olhos continuam os mesmos. Os olhos de Fonseca. Os olhos do pai que nunca conheceu.
Ela caminha hesitante até o centro da sala, carregando o seu cachorro. Meu coração dispara quando seus olhos encontram os meus. Por um segundo, vejo algo ali. Algo que me dá esperança.
O juiz fala com um tom mais brando:
— Laila, você sabe por que está aqui hoje?
Ela assente, mordendo o lábio.
— É sobre minha guarda. Sobre com quem eu quero ficar.
— E você entende que sua opinião é importante?
Ela olha para Esther. Depois para mim.
— Sim.
Meu peito aperta. Este é o momento.
— Laila, minha querida — Esther começa, com sua voz melosa —, diga ao juiz como é sua vida comigo. Como você se sente em casa.
Laila hesita. Suas pequenas mãos se apertam nos lados do vestido azul.
— Eu… eu gosto da minha casa, não dessa aonde estou a viver com a vovó. Mas aquela antiga aonde eu cresci.
Meu estômago afunda.
— E você se sente segura com sua avó nesta nova casa?
— Sim… — Sua voz é baixa, incerta.
O juiz vira-se para mim.
— Senhora Abreu, deseja perguntar algo?
Engulo em seco.
— Sim.
Me levanto e olho para Laila. Minha filha.
— Meu amor, você se lembra de mim?
Ela hesita por um momento.
— Sim, senhora Suraya.
— E se lembra de quando ficávamos juntas?
Seus olhos brilham com algo indefinível. Medo? Dúvida?
— Eu… lembro.
Respiro fundo.
— Eu nunca quis ficar longe de você, Laila. Nunca. E eu prometo que, se você me der uma chance, eu nunca mais vou embora.
O silêncio na sala é absoluto. Laila abaixa a cabeça, os olhos cheios de incerteza.
Então, ela sussurra:
— Eu… não sei.
Meu coração se parte em pedaços.
O juiz respira fundo.
— A Corte analisará todas as evidências e tomará uma decisão nos próximos dias. A audiência está encerrada.
O martelo desce. E o mundo se desfaz ao meu redor.
Laila é levada para fora antes que eu possa dizer mais alguma coisa. Meu corpo quer correr até ela, agarrá-la, dizer que tudo vai ficar bem. Mas não posso.
Morgan coloca a mão no meu ombro.
— Ainda temos chances.
Mas eu vejo o olhar de vitória nos olhos de Esther quando ela passa por mim.
Ela acha que venceu.
Mas o jogo ainda não acabou.
E eu estou disposta a ir até o inferno por minha filha.
Suraya Abreu
Dra. Morgan
Esther Machado
Laila Abreu
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Atualizado até capítulo 136
Comments
MarceloSousa
A mulher tá com sangue nos olhos 😈
2025-02-15
2
Joana Sena
Essa mulher é doida como que quer ficar com a filha da outra 😲😲
2025-05-29
1