( Emily )
Hoje é dia de feira na minha cidade, um evento semanal que transforma o parque local em um labirinto de barracas coloridas, cheias de frutas frescas, produtos artesanais e, claro, vendedores gritando como se estivessem numa final de futebol. Vou direto ao objetivo: encontrar algo barato e que alimente mais do que só minha autoestima.
Carrego minha velha mochila e dou uma olhada na lista mental: batata-doce, ovos, alguma verdura. Simples e eficiente. Isso até meus olhos caírem numa barraca de doces. Bolo de pote, brigadeiros, cocadas. Ah, a perdição! Meu estômago ronca tão alto que chego a assustar a senhora ao meu lado.
Senhora: Você precisa disso mais do que eu, querida.
Dou um sorriso amarelo e espero a vez. É então que o vendedor se vira, e meu Deus, ele poderia ser facilmente um modelo de novela mexicana. Alto, cabelo bagunçado como quem acabou de sair de uma ventania calculada, e um sorriso tão branco que pode até refletir o sol.
Carlos: Bom dia! Vai querer algum doce?”
Levei um segundo pra responder. Quem diria que um ser humano podia ser tão... fotogênico ao vivo?
Emily: Eu... é... vou querer um desses brigadeiros.
Aponto de qualquer jeito, tentando não babar ou gaguejar, mas acho que falhei miseravelmente porque ele solta uma risada.
Carlos: Brigadeiros sempre são a escolha certa. Acompanha algum café?
Emily: Ah, é que... café tá fora do orçamento hoje.
Falei sem pensar, só depois percebi o que tinha dito. Fiquei vermelha até o pescoço, mas ele não pareceu achar estranho. Pelo contrário, sorriu ainda mais.
Carlos: Sem problemas. Hoje o café é por minha conta.
E foi assim que ele ganhou minha atenção. A única regra que aprendi desde pequena é que nunca recuso café.
Sentada numa mesinha improvisada ao lado da barraca, percebo que Carlos é muito mais do que um rosto bonito. Ele fala pelos cotovelos sobre que saiu da cidade grande pra abrir a barraca dos sonhos dele aqui. Mas ele disse que preferia trabalhar em São Paulo, então estava economizando parar ir para lá.
Carlos: Sabe o que é? Trabalhar de gravata nunca foi pra mim. Um dia, joguei tudo pro alto e decidi que seria o rei dos doces caseiros. E olha onde estou!
Apontou pra barraca como se fosse a Torre Eiffel. Apesar do exagero, achei cativante.
Emily: Pelo menos você segue seus sonhos. A maioria das pessoas nem tenta.
Carlos: E você? Qual o seu sonho?
Essa pergunta me pegou de surpresa. Não sabia o que responder. Passar na faculdade de direito foi o mais próximo que cheguei de um objetivo, e agora parecia que estava apenas... sobrevivendo.
Emily: Ah, sabe como é... pagar as contas. Isso conta como sonho, né?
Ele riu, mas não zombou.
Passei quase uma hora na barraca. Entre um cupcake e outro, descobri que Carlos tem uma risada contagiante e uma habilidade impressionante de deixar qualquer conversa confortável. Quando me dei conta, já tinha passado do horário que reservei pra feira, e ainda saí com um saco de doces que ele "não deixou" eu pagar.
Carlos: Se precisar de mais brigadeiros ou papo, sabe onde me encontrar.
Voltei pra casa carregada, tanto de doces quanto de uma sensação estranha, como se um raio de sol tivesse conseguido se infiltrar pelas rachaduras da minha rotina.
Talvez voltar à feira no próximo sábado não fosse apenas uma obrigação...
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Atualizado até capítulo 98
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Fatima Gonçalves
COITADA QUEVIIDA
2025-04-18
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