Ganhar a confiança de Émile Castelli foi um trabalho dos diabos, foram meses até finalmente conseguir chegar onde eu queria. Não que eu esperasse moleza, o filho da puta é esperto, mas não tão esperto quanto eu.
Comecei devagar, observando à distância. Vi como ele lidava com aliados, inimigos, como mantinha o controle absoluto de Marselha. Eu sabia que o caminho para chegar até ele era Jules, o braço direito, sempre tão leal quanto previsível. Aos poucos, me aproximei. Resolvi pequenos problemas, cumpri missões com precisão cirúrgica, e quando Jules finalmente recomendou meus serviços a Émile, o jogo estava em andamento.
Ele me investigou, claro. Revirou cada canto da minha história, cada linha do meu passado. E o que ele encontrou? Exatamente o que eu queria que ele encontrasse: um órfão, ex-militar das forças especiais, treinado para matar com ou sem uma arma. Um homem sem raízes, sem ninguém, pronto para vender seus serviços ao maior lance.
A parte boa dessa história? Tudo isso é verdade. Só que não é toda a verdade.
O que Émile não sabe é que eu sou a porra da arma apontada para a cabeça dele.
Eu sou Victor Martin, filho ilegítimo de Paul Durand. Sim, o mesmo bastardo que usou e descartou minha mãe como se ela fosse lixo. Nem minha meia irmã Giovanna sabia da minha existência. Ninguém sabia, exceto ele. E agora, eu.
Minha vida sempre foi nas sombras, fazendo os trabalhos sujos que o velho Durand não podia sujar as mãos para fazer. Até o dia em que Giovanna morreu pelas mãos do Castelli. Naquele dia, ele veio até mim com uma proposta: destruir Émile e tudo o que ele ama. Para ele, isso incluía a mimadinha da Charlotte. Fazer ela sofrer, destruir o mundo perfeito dela, e depois apagar ela da história, assim como ele fez com minha irmã. E Émile, claro, viria logo em seguida.
Eu não hesitei. Aceitei o acordo. Porque essa vingança não era só dele. Era minha também.
Mas, caralho, eu não esperava que Charlotte Castelli fosse tão... irritante. Desde o momento em que entrei naquela casa, ela me olhou como se pudesse me fuzilar com os olhos. E quer saber? Adoro isso. Gosto de um bom desafio, e essa garota é exatamente isso. Um desafio ambulante.
Quando Émile saiu da casa dela, deixando a "senhorita Castelli" sob meus cuidados, ela cruzou os braços e me encarou como se estivesse prestes a me mandar para o inferno.
— Vamos deixar uma coisa bem clara, Victor. — Ela praticamente cuspiu meu nome. — Eu não quero você aqui. Eu não preciso de você aqui. E, se depender de mim, você não dura nem uma semana.
Eu dei um sorriso de canto. Ela é esperta, vou dar isso a ela. Mas não mais esperta do que eu.
— Escuta aqui, princesinha. — Minha voz saiu baixa, mas cheia de sarcasmo. — Eu não estou aqui porque quero. Estou aqui porque seu irmão paga muito bem pra eu garantir que você não se meta em mais merda do que já se mete sozinha. Então, faça um favor a nós dois e fique na sua.
Ela estreitou os olhos, como se tentasse decidir se me mandava embora ou me enfiava um soco na cara.
— "Princesinha"? — Ela bufou, cruzando os braços. — Você tem noção do quão ridículo isso soa?
— Claro que tenho, princesinha. — Dei de ombros, ignorando o olhar mortal dela. — Mas, veja bem, ridículo ou não, vou te chamar assim.
— Você é insuportável.
Eu ri. Não pude evitar. Era bom ver que ela tinha sangue quente. Isso ia tornar tudo muito mais divertido.
— Talvez. Mas adivinha só? Eu sou a porra do insuportável que vai estar no seu pé a partir de agora.
Horas depois...
Estava sentada na minha cama, os pés descalços balançando no ar, enquanto segurava o celular com uma das mãos e uma taça de vinho com a outra. No visor, a imagem da minha melhor amiga, Amélie, iluminava a tela. Amélie é minha cúmplice em praticamente todas as merdas que decido fazer. Ela é um furacão de ideias loucas, e hoje não estava sendo diferente.
— Un autre garde du corps(Outro guarda - costas)? — Amélie riu, o som vindo do outro lado da linha. — Sério, Charlotte, seu irmão precisa relaxar.
Revirei os olhos.
— Relaxar? Émile não sabe o que é isso. Ele contratou um novo capanga, um tal de Victor Martin. Acha que pode me controlar. Mas, ah, Amélie... — sorri, tomando um gole do vinho — mal sabe ele com quem está lidando.
Amélie riu ainda mais alto, já sabendo o que vinha pela frente.
— Precisa de ajuda para infernizar a vida dele?
— Claro que non. Já comecei hoje mesmo. — Dei um sorriso maldoso. — Mas estou precisando sair, me distrair. Que diriez-vous d'une boîte de nuit ( Que tal uma boate )?
— Oui(sim)! — A voz dela subiu uma oitava, empolgada. — Vamos à La Rouge. Hoje é noite de música eletrônica e champanhe.
Ótimo. Música alta, bebida boa e o caos que só Amélie sabia provocar.
Mas, claro, eu não podia simplesmente sair. Não sem testar os limites do tal Victor. A noite prometia.
Quando a hora chegou, vesti meu vestido vermelho favorito, justo, com um decote ousado e uma fenda que fazia qualquer um olhar duas vezes. Passei o batom com um sorriso no rosto, já antecipando a reação dele. Vamos ver se ele aguenta o tranco.
Desci as escadas com o som dos meus saltos ecoando pelo mármore. Ele estava lá, parado no pé da escada, braços cruzados, com a expressão de quem já sabia que eu aprontaria algo. Que droga de premonição era essa?
— Tu vas quelque part( Vai a algum lugar )? — perguntou, sem emoção.
Eu nem me dei ao trabalho de responder. Passei por ele como um furacão, ignorando sua presença.
Ele me seguiu, claro.
No momento em que abri a porta do Maserati, pronta para entrar no meu lugar de direito, ele apareceu do nada e a fechou. Olhei para ele, mas incrédula.
— O que você pensa que está fazendo?
— Eu dirijo. — A voz dele era firme, quase desinteressada.
— Non, você não dirige. Esse é o meu carro.
— Não hoje, princesinha. — Ele deu um sorriso de canto que fez minha vontade de socá-lo crescer exponencialmente.
Estreitei os olhos, mas não queria brigar. Não agora. Então, respirei fundo e entrei no banco de trás.
— Espero que saiba que vou descontar esse abuso de poder na sua gorjeta.
Ele riu, mas não disse nada. O Maserati arrancou com suavidade, e eu fiquei olhando pela janela, bufando em silêncio.
— Para onde? — ele perguntou, os olhos fixos na estrada.
— Um restaurante.
— Qual?
— Surpresa. — Dei um sorriso cínico, mas ele não respondeu. Eu odiava o fato de que ele não se irritava. Era como se estivesse gostando de me desafiar.
...----------------...
Minutos depois
Chegamos ao restaurante, um lugar sofisticado e discreto no centro de Marselha. Ele me seguiu até a entrada, e eu já estava planejando meu próximo movimento.
Sentei-me à mesa, pedi um vinho caro e fingi estar entretida no menu. Ele ficou de pé, não muito longe, como um cão de guarda.
— Você não vai sentar? — perguntei com sarcasmo.
— Je vais bien ici, merci(Estou bem aqui, obrigado.)
Bufei, tomando outro gole do vinho. Depois de alguns minutos, levantei-me.
— Vou ao banheiro. Você quer me seguir até lá também?
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Non... Ainda não.
Revirei os olhos e caminhei até o banheiro. Mas, claro, minha intenção não era voltar. Assim que entrei, abri a porta dos fundos e saí sem olhar para trás. Ponto para mim, Victor.
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Atualizado até capítulo 102
Comments
Renascida das cinzas
sua irmã???? kkkk faz-me rir!!! É tão carente por afeto assim???? Acabou de dizer que até pouco, nem mesmo você sabia quem era seu pai, e que o seu genitor havia usado e descartado sua mãe na sarjeta... palmas para você. 👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽
2025-02-25
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Sandra Marques
pra mim ele , é um idiota tratado como bastardo pelo seu genitor,nunca foi reconhecido, então pq tomar as dores de um homem que nunca o reconheceu como nada!😡
2025-03-21
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Iara Ruara
acho que vc acabou de dar um tiro no pé kkkkk,capaz de vc se apaixonar pela nossa digníssima Charlotte e não conseguir prosseguir com sua vingança /Shy/
2025-02-22
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