Na manhã seguinte, Clara chegou cedo ao escritório da organização humanitária. O sol ainda estava baixo, e a cidade despertava lentamente. Com uma xícara de café na mão, ela revisava os planos para a visita à comunidade em vulnerabilidade. Esse seria o primeiro contacto direto com as pessoas que estavam destinadas a impactar, e Clara sabia que a primeira impressão seria crucial.
Renata e Paulo chegaram logo depois, trazendo consigo uma energia contrastante. Enquanto Renata mantinha um ar pragmático, analisando mapas e planilhas, Paulo não escondia o seu entusiasmo juvenil. “Mal posso esperar para conhecer essas pessoas. Tenho certeza de que podemos fazer uma diferença rápida,” disse ele, com os olhos brilhando.
“Rápida não é bem a palavra,” respondeu Renata, sem desviar os olhos do mapa. “Nós precisamos entender a dinâmica local antes de propor soluções. Qualquer abordagem apressada pode criar mais problemas do que resolver.”
Clara interveio com um tom conciliador. “Ambos têm pontos válidos. Precisamos ser cautelosos, mas também demonstrar à comunidade que estamos comprometidos. Vamos focar em ouvir antes de agir.”
O grupo partiu em uma van para a comunidade, que ficava nos arredores da cidade. A paisagem mudava drasticamente conforme se distanciavam do centro urbano. As ruas bem pavimentadas deram lugar a caminhos de terra, e os arranha-céus foram substituídos por casas simples e algumas em condições precárias. Clara sentiu um aperto no peito — não apenas pela situação evidente de vulnerabilidade, mas também pela semelhança com as condições que havia encontrado na sua antiga vila.
Ao chegarem, foram recebidos por Dona Lúcia, uma mulher de meia-idade com uma postura confiante e um sorriso acolhedor. “Vocês só podem ser da organização,” disse ela, apertando a mão de cada um. “Bem-vindos. Estávamos ansiosos por essa visita.”
Dona Lúcia os guiou pela comunidade, apresentando os desafios mais urgentes: a falta de água encanada, a ausência de uma escola próxima e o acesso limitado a serviços de saúde. Apesar disso, Clara percebeu um forte senso de comunidade entre os moradores. As crianças brincavam em grupo, os vizinhos se ajudavam e pequenas hortas comunitárias eram cultivadas em terrenos baldios.
Durante a visita, Clara observou cada detalhe, fazendo perguntas e ouvindo atentamente. Paulo, por outro lado, fazia questão de interagir com as crianças, arrancando risadas e distribuindo promessas de que as coisas melhorariam. Renata, sempre prática, tirava fotos e anotava pontos críticos que exigiriam soluções técnicas.
Ao final do dia, o grupo reuniu-se com alguns líderes locais para discutir as prioridades da comunidade. Clara tomou a frente, equilibrando empatia e pragmatismo no seu discurso. “Estamos aqui para colaborar, não para impor soluções. O nosso objetivo é entender as necessidades de vocês e trabalhar juntos para construir algo duradouro.”
Dona Lúcia assentiu, concordando. “O que queremos é isso: parceria. Já vimos outras iniciativas que vieram e se foram deixando promessas vazias. Esperamos que, desta vez, seja diferente.”
Enquanto voltavam para a cidade, o silêncio tomou conta do grupo. Cada um parecia absorto nos seus próprios pensamentos. Clara olhou pela janela da van, refletindo sobre a complexidade do desafio. Sabia que o sucesso dependeria não apenas de soluções técnicas, mas também de construir confiança e promover um verdadeiro senso de colaboração.
Mais tarde, ao revisar as anotações do dia, Clara sentiu uma mistura de exaustão e esperança. O trabalho seria árduo, mas ela acreditava na capacidade de transformação — não apenas da comunidade, mas também de si mesma e da sua equipe. Era apenas o começo, e Clara estava pronta para dar os primeiros passos rumo à mudança.
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Atualizado até capítulo 75
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