Enquanto Clara ajeitava a sua nova rotina na cidade, ela começava a perceber como os desafios do passado moldavam as suas decisões. Mesmo com a empolgação de estar num novo ambiente, algumas sombras antigas pareciam segui-la. Era como se a vila tivesse deixado uma marca indissolúvel no seu coração e na sua alma.
No segundo dia no seu novo emprego na organização humanitária, Clara conheceu Marcos, um dos coordenadores do projeto. Ele tinha um carisma magnético e um sorriso contagiante, mas também uma maneira direta e assertiva que intimidava algumas pessoas. "Bem-vinda à equipe, Clara. Espero que esteja pronta para desafios reais," disse ele, apertando a sua mão com firmeza.
“Desafios não me assustam,” respondeu Clara, mantendo o olhar firme. Ela sabia que precisaria provar o seu valor naquele novo cenário, mas estava determinada a fazer diferença.
O primeiro projeto que lhe foi atribuído envolvia revitalizar uma comunidade em situação de vulnerabilidade. Clara imediatamente reconheceu semelhanças com o que havia enfrentado na vila. No entanto, desta vez, ela não tinha os laços pessoais que a conectavam àquelas pessoas. Era um desafio de empatia e liderança numa escala completamente nova.
Marcos, que supervisionava a iniciativa, parecia observá-la com uma mistura de curiosidade e ceticismo. “Vamos ver como você se sai com a equipe de campo. Eles podem ser difíceis de lidar.”
Naquela tarde, Clara conheceu os membros da equipe: Renata, uma engenheira experiente e prática; Paulo, um jovem idealista cheio de energia, mas com pouca experiência; e Ana, uma socióloga com um temperamento mais reservado, mas uma compreensão profunda das dinâmicas sociais. O grupo parecia desunido, com divergências de opinião surgindo logo na primeira reunião.
“Não penso que possamos cumprir o prazo com os recursos que temos,” disse Renata, franzindo a testa. “Precisamos ser realistas.”
“Se ficarmos focados nos problemas, nunca vamos encontrar soluções,” rebateu Paulo, cruzando os braços.
Clara interveio antes que a discussão se intensifica se. “Entendo as preocupações de todos, mas nosso objetivo é ajudar essa comunidade, e não podemos perder isso de vista. Vamos listar os desafios e trabalhar juntos para superá-los. Cada um aqui tem algo único a contribuir.”
A sua calma e firmeza estabeleceram um tom diferente para a conversa, e aos poucos a equipe começou a colaborar. Mas Clara sabia que ganhar a confiança de todos levaria tempo e ações concretas.
Naquela noite, enquanto revisava os relatórios e estudava as necessidades da comunidade, Clara pensou em Gabriel. Ele teria sido um aliado valioso num momento como aquele. Ela perguntou-se como ele estava a lidar com a sua ausência na vila e se as suas vidas voltariam a se cruzar. A sensação de incerteza trouxe um misto de saudade e motivação para seguir em frente.
Ela também refletiu sobre como as diferenças entre os membros da equipe poderiam ser transformadas em força. Era como se cada um fosse uma peça de um quebra-cabeça maior, que só seria completado com paciência e estratégia. Clara sabia que o seu papel era guiar essa união, mesmo quando os obstáculos parecessem intransponíveis.
Quando finalmente foi dormir, Clara percebeu que a sua nova jornada estava apenas começando. As sementes do passado estavam ali, influenciando cada decisão. Mas ela também sabia ser hora de plantar novas sementes — sementes de mudança, de resiliência e de um futuro melhor.
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Atualizado até capítulo 75
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