Almoço Entre Amigas.

Maya

Depois de ouvir o que aquele babaca do Cayden disse tive que ir para o banheiro e socar alguma coisa para não xingar ele naquele momento. Poderia fazer isso em português só para me sentir melhor, mas eu iria me descontrolar.

Quando voltei ele tentou se desculpar de um jeito todo aflorado com palavras educadas, mas na hora que me chamou de doida ou maluca, sei lá a raiva tá me deixando sem memória, acho que preciso catalogar minha raiva dele. Enfim, ignorei, estou aqui para trabalhar e é isso que vou fazer.

Após servir o almoço dele do jeito que a tia Maria que trabalhava lá em casa me ensinou, fui almoçar com as minhas amigas.

Na minha casa lá no Rio eu seguia a tia Maria pela casa toda quando eu era criança, então ela me ensinou muita coisa para que eu não fosse tão dependente de outros para as coisas… sem minha mãe saber, é claro.

Eu aprendi a cozinhar, a limpar a casa, entre outras coisas, sou muito grata por ela ter feito parte da minha vida. Eu pergunto se já posso almoçar e ele me libera.

Encontrei as meninas no térreo e de lá partimos para o restaurante elas sempre vão quando estão aqui e vejo Emma olhar para outro restaurante com seus olhinhos pedindo para ir lá...

— Vocês querem ir lá hoje? — pergunto curiosa.

— Amiga, a comida lá é muito gostosa, só que um pouco mais cara… — Hilary explica olhando para Emma e depois para mim.

— Verdade, na última vez que comemos ali deu umas seiscentas pratas. Nosso salário não é ruim, mas estamos juntando para comprar um apartamento por aqui, né. — Emma confessa.

— Então, o almoço hoje é por minha conta, vamos comer lá. E não aceito um não, se estou empregada e com um bom salário é graças a vocês. Então vamos.

Chegando lá experimentei dois pratos diferenciados e deliciosos e para sobremesa pedimos uma torta de chocolate suíço e como sobrou pedi para colocar em alguma embalagem para levar. Ficamos lá conversando e eu contei para elas tudo que aconteceu.

— Me sinto culpada por não te avisar sobre o temperamento do nosso chefe. O chamam pelas costas de o ceo iceberg. — Hilary fala baixo.

— Correm boatos na empresa que ele não era assim, mas ficou depois que descobriu que alguns amigos e algumas mulheres só estavam ao redor dele por causa do dinheiro que ele tinha... triste, né. — Emma brinca com a sobremesa pensativa.

— Sério isso? Por que achei ele super sexy, e aquela voz dele… — passo a mão na nuca por causa do calor que está subindo — Tirando o temperamento ele é um mal caminho inteiro. Eu também conheci o Stan. — quando falo o nome dele Emma engasga — Nossa, o que foi mulher?

— Essa vou deixar para ela contar… — Hilary balança as mãos em rendição.

— Teve uma festa para todos os funcionários uma vez em uma casa que eles alugam para isso mesmo. Quando o lucro vai bem ou um produto em lançamento esgota e também final de ano sempre tem uma festa que a empresa oferece para os funcionários com tudo que temos direito. E em uma dessas festas eu acabei bebendo demais e ao tentar achar um banheiro acabei entrando no quarto dele e ele também estava bêbado e sem blusa. Não resisti e ele também não, quando acordei no dia seguinte e vi nós dois enroscados na cama e sem nada corri de lá o mais rápido que eu pude e desde então fujo dele. Sabe como é né ele é o chefe e estou muito abaixo, tipo no 6° andar, isso nunca daria certo.

— Acho que está errada, Em. Se vocês dois querem, por que não tentar? Mas tudo bem, as coisas tendem a acontecer no momento certo.

Terminamos e voltamos para a empresa e depois do que elas me contaram eu fico na dúvida sobre meu chefe. Quando chego no 15° andar fico olhando para o pedaço de torta de chocolate suíço em minhas mãos, então porque não uma trégua.

Enquanto estou caminhando em direção a sala dele uma mulher alta esbarra em mim quase me derrubando no chão, mas um homem de cabelos loiros e alto estava atrás de mim e me segura. Vejo o nome no crachá deles: Amy e Enzo.

— Olha por onde anda garota? — Amy pergunta olhando para mim como se eu fosse uma barata.

— Nada educado da sua parte, Amy. Foi você que quase derrubou ela, deveria se desculpar. — Enzo fala como se fosse um príncipe, consigo ver ele todo iluminado com os passarinhos cantando em volta dele… será que bati a cabeça?

A mulher revira os olhos e sai. Enzo me solta e depois me dá uma olhada que arrepia minha espinha, o príncipe se foi e ficou um predador que parece me ver como vim ao mundo.

—Maya, né? — ele fala passando o dedo no meu crachá — Nome lindo, igual a dona do nome. Topa uma bebida mais tarde?

— Ela é a nova assistente do Cayden, Enzo, e você conhece as regras da empresa. Nada de flertar com os funcionários, principalmente no horário de trabalho. — Stan fica entre nós dois como se estivesse me protegendo do mau.

— Claro, primo, isso inclui dormir com eles também? — Enzo debocha como se soubesse de algo.

Lembro do que Emma me contou. Esse babaca vai ficar de leva e trás como se fosse uma vaca fofoqueira com ameaças ridículas? Esse príncipe virou sapo mais rápido que pavio de fogo de artifício.

— Enzo, né? Eu não estou aqui para sair para beber com ninguém, preciso desse trabalho e creio que aqui não seja um ambiente para flertes. Com licença, senhor Cox e senhor O'Conner.

Me despeço deles e caminho para a sala de Cayden. Ele já voltou para a mesa de trabalho e antes de tirar as coisas da mesa de refeição decido dar uma trégua, afinal é meu primeiro dia.

— Senhor O'Conner? — ele me olha e eu tento manter o contato visual com ele — Eu trouxe esse pedaço de torta para o senhor, é de chocolate suíço, não sei se gosta, mas tá aí... É de coração.

Eu sinceramente pensei que ele seria grosso e recusaria, na verdade já tinha um roteiro na minha mente pronto para o caso dele ser grosso comigo… mas me surpreendi.

— Eu aceito, gosto muito dessa torta, obrigado.

Eu voltei a olhá-lo nos olhos e isso parece deixá-lo feliz já que sorriu. Não fique pensando bobagens, Maya... Somos profissionais e apenas isso.

Entretanto, enquanto ele me agradece ao mesmo tempo parece em conflito com seus pensamentos.

Deixa para lá, não é da minha conta. Afinal somos profissionais.

O dia termina e volto para casa com as meninas. A reunião do senhor O'Conner não demorou muito, o que me deixou irritada porque passei o dia grampeando papel. Mas gostei do trabalho, só de imaginar que eu poderia ocupar uma posição igual a de Cayden no Brasil e agora estou aqui… me deixa frustrada.

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