Capítulo 05

...Fabrício Alencar...

Sai da faculdade com um sorriso no rosto, só de lembrar o nervosismo da garota. Foi tanto que ela até derrubou meu celular e ainda queria pagar, tenho noção que eles custam bem caro, mesmo comprando eles fora do país, no final dá no mesmo com a conversão de câmbio.

Por sorte uso dois aparelhos e tenho mais um reserva em casa, para casos como esses, mas por hora irei ficar com ele assim mesmo pois estou indo direto para o escritório, já que estou no comando praticamente sozinho, já que meus irmãos estão ocupados com suas famílias e com a chegada dos filhos.

Me divorciei de Mariana um pouco depois que o filho de Alex e Paloma nasceu, mas nós já não estávamos bem há alguns meses, tanto que fui ao casamento do Caio e da Raquel sozinho, ela estava viajando e nem era à trabalho e ela não fez questão de vir para ir comigo ao casamento do meu irmão, mas bem antes disso eu já estava pensando em divorcio e até já havia conversado com meus irmãos sobre isso. Relutei um pouco para conversar com ela e pedir o divorcio, por a amar muito e também porque não querer acabar meu casamento, pois meus pais sempre fizeram questão de nos ensinar que o casamento é sagrado e que deve ser até que a morte os separe, mas infelizmente não consegui fazer o meu durar isso tudo, mas lutei até o fim para que desse certo e se não deu ok, vida que segue.

Tive uma conversa com meus pais sobre isso, minha mãe ficou muito triste e meu pai apesar de tudo e de tudo que acredita me apoiou em minha decisão e eu sabia que ia ser assim, eles sempre nos apoiaram em tudo.

Cheguei ao escritório e cuidei de tudo que deveria cuidar, estou mais cuidando da administração do que dos meus casos, já que quem cuidava dessa parte era Alex e na sua ausência Caio ou eu e no caso terei que ser eu, já que não está aqui também.

Meu pai parou de atuar definitivamente agora, ele se aposentou oficialmente e agora está se dedicando somente às suas viagens com minha mãe, mas agora vai dar uma pausa nas viagens para curtir os netos.

Envio os arquivos para a bonitinha e aproveito para falar um pouco com ela.

Não sei o que diabos essa menina tem, mas me faz querer falar com ela mais e mais, acho que nunca me senti assim, nem quando era mais novo.

Estou parecendo um adolescente que acabou de ter seu primeiro contato com o sexo oposto e não um homem de trinta e um anos, que teve muitas experiências na vida e que foi casado por oito anos.

Saio do escritório e vou direto para o apartamento que comprei, ficar nos meus pais é bom, mas depois que você sai da casa dos seus pais a primeira vez e volta não é mais a mesma coisa, você se acostuma com sua privacidade e com sua forma de fazer as coisas.

— Seu Fabrício? — o porteiro do condomínio me chama quando já vou entrar no elevador.

— Sim.

— Tem uma moça ali na recepção, ela disse que quer falar com o senhor.

— Ok, obrigado.

Vou até a recepção e encaro a ruiva elegantemente vestida olhando para mim.

— Oi. — ela diz se levantando e corre para me abraçar, eu pigarreio e tiro seus braços de mim e ela me olha confusa.

— Não posso mais te abraçar?

— Não.

— Precisa ser seco assim comigo? Nos conhecemos há quase dez anos, fomos casados por oito anos.

— Exatamente! Fomos.

— Eu não gosto que me olhe assim.

— Assim como?

— Como olha pra qualquer pessoa. — dou de ombros.

A verdade é que o término ainda está recente e eu estou me esforçando ao máximo para me manter firme e não cair nos encantos dela, porque não vou ser hipócrita e dizer que não existe sentimentos, dizer que esqueci dela completamente, porque é mentira, terminamos, mas ainda existia sentimentos, talvez carinho, até mesmo amor, mas não havia mais desejo. Mas vê-la parada aqui na minha frente despertou meu desejo, não vou mentir, nós fomos muito bons juntos, sempre nos demos muito bem na cama.

— O que quer? — pergunto.

— Eu queria conversar um pouco.

— Sobre?

— Sobre mim, ninguém me conhece melhor que você, não consigo ter com ninguém a conexão que tenho com você.

— Sobre o que quer falar especificamente?

— Podemos subir?

— Está tudo uma bagunça, me mudei recentemente, ainda não coloquei tudo em ordem. A propósito, que te deu o endereço daqui?

— Sua irmã.

— Ok, mas é melhor não subir, podemos conversar aqui.

— Aqui? — ela pergunta olhando em volta.

— Sim, como falei, lá em cima está tudo bagunçado.

— Eu não me incomodo com isso.

— Se incomoda sim, você sempre fez questão que tudo estivesse no lugar.

— Fabrício! Por favor, eu só quero conversar.

— Ok, vamos a um café que tem aqui perto, lá nós podemos conversar.

— Isso tudo é medo de ficar sozinho comigo em um ambiente fechado? Tem medo de não resistir a tentação?

— Não costumo voltar atrás nas minhas decisões, se eu disse que queria o divórcio é porque não há possibilidade de eu querer ficar com você de novo, se esse fosse o caso eu não teria pedido divórcio, teria ficado e lutado pelo nosso casamento, como vinha fazendo no último ano.

— Ei! Calma, também não precisa falar assim comigo.

— Só estou deixando as coisas claras, para você não confundir, nós não teremos mais nada.

— Mas você foi meu único, eu não sei se vou conseguir ficar com outro.

— Mari… o divórcio é recente, você deve tentar colocar seus sentimentos em ordem e depois você pensa sobre isso, eu fui o primeiro, mas não serei o único, você é jovem, bonita, logo vai encontrar alguém que desperte seu interesse, não se prenda a esse fato de que eu fui o único em sua vida.

— Mas você foi meu único por oito anos e eu não vou conseguir ficar com outra pessoa, só você sabe…

— Mari, não… — digo, negando com a cabeça. — Nem todas as pessoas têm só um parceiro na vida, algumas pessoas têm vários outros parceiros, você vai se acostumar a isso.

— Mas eu não sei se vou conseguir, desde quando você saiu de casa que as coisas não vão bem, eu preciso e te quero de volta. — respiro fundo, não posso dizer que isso não mexe comigo, porque mexe sim e muito. — Volta pra casa, volta pra mim. Me perdoa por ter mentido sobre querer ter filhos. Eu tenho um filho com você, eu te dou um filho, te dou a família que você quer.

— As coisas não funcionam assim, e não vou colocar uma criança no mundo só por um capricho, quando a “mãe” não o quer de verdade, você está fazendo isso só pra me agradar e eu não vou colocar uma criança no mundo nessas condições. Se um dia eu tiver filhos, será com alguém que quer filhos tanto quanto eu.

— Mas eu vou dar o que você sempre quis.

— Mari, filhos exigem muita dedicação e apesar de serem bênçãos, dão muito trabalho e mesmo que o pai seja presente o trabalho maior acaba sendo da mãe, eu tenho consciência disso e agora olhando com outros olhos eu vejo que você não leva o menor jeito para ser mãe.

— Podemos contratar babás.

— Uma criança não pode ficar o tempo todo com a babá, crianças precisam dos pais.

— Eu estou te dando opções e você tem algo negativo para dizer de todas as minhas opções.

— É porque suas opções não são viáveis.

— Ok, mas podemos ao menos nos ver de vez em quando para conversar e quem sabe… pra outras coisas, vai ver a saudade deixam as coisas mais quentes entre nós outra vez. Sei bem que você não vai encontrar outra que faça as coisas como você gosta, você me ensinou tudo que sei e eu sei fazer tudo que te agrada.

— Mari… não, nós não vamos ficar juntos.

— Acha que outra vai topar o que eu topo?

— E não vou responder sua pergunta, melhor encerrar nossa conversa por aqui.

— E nosso café?

— Desculpa, mas eu estou realmente cansado e nós já nos falamos aqui mesmo.

— Ok, me acompanha até o carro então?

— Claro.

A levo até o portão de entrada do condomínio, o carro dela está parado do lado de fora.

— Se cuida. — eu digo.

— Bem que você poderia cuidar de mim.

— Você sabe se cuidar muito bem.

— Mas é melhor quando você faz isso. — ela diz e eu nego com a cabeça.

— Tchau Mari.

— Tchau. — ela diz me abraçando e deixa um beijo leve nos meus lábios.

— Mariana…

— Só um beijinho inocente.

— Vá de uma vez. — digo e ela entra no carro, dá a partida a seguir e vai embora.

Confesso que se esse pedido tivesse sido feito umas semanas após o divórcio eu teria voltado para ela, mas agora eu não quero mais isso, coloquei meus sentimentos no lugar e agora eu não vou mais me prender a nada e nem a ninguém.

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