A fumaça do café quente subia da xícara de porcelana, dançando no ar como uma lembrança da porra de uma noite mal dormida. Estava sentado à mesa da sala de jantar da mansão Castelli, e a atmosfera era estranhamente... comum. Não combinava comigo, principalmente depois da merda que fiz com Anastásia. Ela não saía da minha cabeça. Não depois daquelas lágrimas nos olhos dela, porra.
Geneviève Castelli
— Émile, você está calado demais hoje. — A voz de maman quebrou meus pensamentos como um golpe certeiro.
Olhei para ela e dei de ombros, tentando parecer indiferente.
— Juste fatigué. Entreprise( Apenas cansado. Negócios). — Minha voz saiu mais áspera do que eu esperava.
Charlotte, minha irmã, estava do outro lado da mesa, mexendo no croissant com um sorriso zombeteiro. Ela era esperta demais, o tipo de garota que lia pessoas como um livro aberto.
Charlotte Castelli
— Cansado ou de saco cheio, mon frère(meu irmão)? — Ela arqueou a sobrancelha, a provocação evidente no tom de voz. — Você tem estado assim há dias. Que tipo de "negócio" anda te tirando o sono, Émile? Alguma remessa complicada ou... algo mais les gars (pessoal)?
Minha mandíbula travou. Essa garota era boa demais para o próprio bem.
— Cuida da sua vida, petite (pequena). — Respondi, afundando na cadeira e pegando a xícara.
Geneviève estreitou os olhos, mas manteve o tom calmo e calculado que sempre usava.
— Émile, tu es trop agité (você está muito agitado). Alguma coisa te incomoda, e não adianta tentar me enganar. Eu conheço todos vocês como a palma da minha mão.
— Ce n'est rien maman(Não é nada, mãe). — Minha resposta foi rápida e seca. Não podia falar sobre Anastásia. Não com elas. Não com ninguém. Era meu fardo, minha bagunça.
Charlotte bufou, cruzando os braços.
— Você é péssimo em mentir. Aposto que é uma mulher. Sempre é.
A risada fria que escapou dos meus lábios foi mais um reflexo do meu desconforto do que qualquer outra coisa.
— Mulheres não me tiram o sono, Charlotte. Negócios, sim. E, nesse caso, tenho coisas mais importantes para resolver.
Levantei-me abruptamente, a cadeira arrastando no piso de mármore. Geneviève suspirou, mas não insistiu. Sabia quando recuar. Charlotte, no entanto, me lançou um olhar desafiador.
— Um dia, você vai perceber que não pode fugir de tudo, Mon frère.
Ignorei o comentário, peguei as chaves da Lamborghini e saí. O motor rugiu como um animal selvagem quando liguei o carro. Acelerei pelas ruas de Marselha, tentando deixar tudo, as palavras de Charlotte, os olhos de Anastásia, minha própria culpa, para trás.
Cheguei ao Mirage Noir ainda com o sangue fervendo. Lá dentro, as luzes douradas e o som das máquinas de caça-níqueis me receberam como velhos amigos. Era o único lugar onde eu sentia que ainda tinha controle.
— Hugo, remplis mon verre(Hugo, encha meu copo). — Falei assim que entrei na sala VIP, jogando-me no sofá de couro.
Ele não disse nada, apenas me serviu um whisky duplo. E enquanto o líquido queimava na minha garganta, me perguntei por quanto tempo mais eu conseguiria ignorar o vazio que Anastásia deixou.
O dia estava nublado, como se até o céu refletisse o caos dentro de mim. O escritório estava cheio de pilhas de documentos, mas minha mente estava em outro lugar. Cada palavra de Émile ainda ecoava na minha cabeça. Por que eu deixei ele entrar na minha vida? Idiota, Anastásia. Idiota.
Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos, e Pierre entrou, com seu sorriso sempre impecável.
— Anastasia, ça va (Anastásia, você está bem)? — Ele perguntou, fechando a porta atrás de si. Seu tom era casual, mas havia preocupação em seus olhos.
Endireitei-me na cadeira, forçando um sorriso.
— Claro, Pierre. Só... muito trabalho. Você sabe como é.
Ele arqueou uma sobrancelha, claramente não acreditando.
— Você tem andado estranha ultimamente. Não sou só eu que notei. Está mesmo tudo bem?
Meu coração apertou, mas eu mantive a fachada.
— Só o estresse do trabalho, Pierre. Prometo. Nada com que se preocupar.
Ele hesitou por um momento, antes de se aproximar, apoiando as mãos na minha mesa.
— Talvez você precise de uma pausa. O que acha de jantarmos juntos esta noite?
Fiquei surpresa, a pergunta me pegou desprevenida.
— Jantar? — Repeti, tentando processar a ideia.
— Oui(sim), Chérie. Apenas um jantar. Sem segundas intenções, prometo. — Ele sorriu.
— E a sua namorada? — Perguntei, arqueando a sobrancelha.
Ele deu de ombros, o sorriso diminuindo.
— Terminamos. Faz alguns dias.
Por um momento, considerei recusar. Mas a raiva que eu estava sentindo me fez aceitar. Eu queria esquecer.
— Está bem. — Concordei finalmente.
— Te busco às 20 horas. — Ele piscou, saindo do escritório.
...----------------...
Horas depois, no estacionamento
Estava exausta, mas pelo menos o trabalho me mantinha ocupada. Caminhei até o carro, as chaves na mão, quando ouvi uma voz familiar.
— Zdravstvuy, Olga (Olá, Olga, em Russo).
Meu corpo congelou, o coração disparando. Lentamente, virei-me, e lá estava ele. Dmitry. O fantasma que eu nunca quis enfrentar novamente.
— Dmitry? — Minha voz saiu fraca, quase um sussurro.
Ele sorriu, mas o sorriso dele nunca era caloroso. Era frio, calculado.
— Achou que poderia fugir para sempre, moya lyubov (meu amor, em Russo)?
Engoli em seco, olhando ao redor, já esperando ver capangas saindo das sombras.
— Não se preocupe. — Ele deu um passo à frente, os olhos fixos em mim. — Estou sozinho. Meu pessoal está no hotel. Por enquanto.
— O que você quer, Dmitry? — Perguntei, tentando manter a voz firme.
Ele se aproximou, tão perto que podia sentir o calor dele.
— Vim buscá-la. Mas desta vez, você virá por decisão própria.
— Nikogda ne poydu s toboy( Nunca vou com você). — Retruquei, dando um passo para trás.
Ele afastou uma mecha de cabelo do meu rosto, um gesto que deveria ser carinhoso, mas só me encheu de pavor.
— Oh, mas você irá, querida. — Ele sussurrou, o tom tão calmo que era aterrorizante. — Rano ili pozdno (Mais cedo ou mais tarde).
Sem dizer mais nada, ele deu meia-volta, entrou em um SUV preto e desapareceu, deixando-me ali, sozinha e apavorada.
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Atualizado até capítulo 71
Comments
Renascida das cinzas
ele não assumiu um relacionamento recentemente??? Porque a necessidade de dizer que é sem intenção???? Meus sexto sentido não gosta dele! Não confio.
2025-01-09
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Valcinete Barbosa
ele acabou de dizer que terminaram, eu tbm não gosto do Pierre, pra mim ele é falso e tbm deve ser traidor
2025-02-21
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Leda Lopes
Até se prove o contrário aí todos são umas ameaças para Anastacia,afffff melhor aí é Emily ❤️❤️
2025-01-25
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