CAPÍTULO 17#

Dois dias depois

"Eu não sei quem Émile realmente é."

Essa frase ecoava na minha mente enquanto eu caminhava de um lado para o outro no meu apartamento. Os últimos dias com ele foram como um turbilhão. Ele era magnético, irresistível, mas, ao mesmo tempo, um mistério completo. Eu sabia que estava entrando em algo perigoso, mas não conseguia me afastar.

Depois de anos aprendendo que criar expectativas pode ser uma armadilha fatal, aqui estava eu, mergulhando de cabeça em algo incerto. Émile nunca falava sobre sua família, seu trabalho era sempre descrito de forma vaga, e ele parecia evitar qualquer coisa que pudesse revelar quem ele realmente era. Isso me deixava louca.

Foi por isso que, movida pela dúvida e pelo instinto, contratei Jean, um detetive particular que era um velho amigo. Dei a ele apenas uma missão: descobrir tudo sobre Émile. Não era algo que eu fazia com frequência, mas eu precisava de respostas antes que fosse tarde demais.

— Se ele estiver escondendo algo, Jean, eu quero saber. Cada detalhe.

Jean assentiu, sua expressão séria.

— Confie em mim, Anastásia. Se há algo para descobrir, eu descobrirei.

...----------------...

No dia seguinte, voltei ao tribunal. A sala estava lotada, o ar carregado de tensão. Eu sabia que todos os olhos estavam sobre mim, esperando minha decisão. O caso do dia era um dos mais brutais que já enfrentei: um pai que violentou e assassinou a própria filha.

Sentei-me no centro do tribunal, meu olhar fixo no réu, que permanecia com a cabeça baixa. O silêncio era quase ensurdecedor quando comecei.

— Este é um dos casos mais abomináveis que já passaram por este tribunal. Estamos falando de um homem que não só quebrou a confiança mais sagrada, mas também destruiu uma vida inocente da maneira mais vil possível.

Minhas palavras saíam afiadas como lâminas, cortando o silêncio da sala.

— O senhor, — continuei, fixando meus olhos nele — tinha o dever de ser um protetor, um pai. Em vez disso, escolheu ser o algoz. E aqui, neste tribunal, nós não toleramos monstros.

O advogado de defesa tentou intervir:

— Meritíssima, peço que se atenha aos fatos e...

— Estou me atendo aos fatos! — interrompi, a voz ecoando pela sala. — E os fatos são claros: há provas irrefutáveis, depoimentos, e um padrão de comportamento que só pode ser descrito como doentio.

Virei-me novamente para o réu.

— O senhor tem algo a dizer em sua defesa?

Ele murmurou algo inaudível.

— Fale alto, ou ficará em silêncio para sempre, assim como sua filha.

Ele ergueu os olhos, mas não disse nada. Eu me levantei, meu martelo firme na mão.

— Este tribunal o condena à pena máxima permitida por lei. Prisão perpétua sem qualquer chance de liberdade condicional. Que a memória de sua vítima ecoe em cada dia miserável que o senhor passar na cela. Caso encerrado!

O som do martelo cortou o ar, encerrando o julgamento.

Horas depois, já no meu escritório, Pierre entrou carregando uma pilha de documentos. Ele estava mais sério do que o habitual, e eu sabia que não era uma visita casual.

— Anastásia, precisamos conversar. — Ele fechou a porta atrás de si, sentando-se diante de mim.

— O que houve? — perguntei, ajeitando-me na cadeira.

Ele respirou fundo antes de responder.

— É sobre a família Castelli.

A menção do nome me fez franzir a testa.

— Castelli? Os boatos sobre eles estão por aí há anos. Por que agora?

— Porque agora temos algo mais concreto. — Ele colocou os papéis sobre a mesa. — Estamos investigando essa família há meses. Eles estão envolvidos em tudo: tráfico de armas, execuções, lavagem de dinheiro. Mas ainda não conseguimos identificar o líder.

Fiquei em silêncio por um momento, folheando os documentos.

— E o que sabemos até agora?

— Sabemos que eles têm alguém no topo. Um estrategista. Um homem ou mulher que mantém tudo funcionando. Se conseguirmos pegar essa pessoa, o império deles cai.

Fechei os papéis, encarando Pierre.

— Se essas provas forem sólidas, é só uma questão de tempo até o cerco se fechar. E quando isso acontecer, Pierre, eu mesma vou garantir que eles sejam colocados atrás das grades.

Pierre sorriu, um sorriso carregado de cansaço.

— Sabia que podia contar com você.

Meu escritório no cassino era discreto, mas eficiente. A sala era iluminada por uma luz baixa, as paredes cobertas por painéis de madeira escura. Na mesa, documentos sobre uma nova remessa de armas estavam espalhados. À minha frente, um fornecedor russo de meia-idade, rosto marcado por cicatrizes e olhos calculistas, discutia os preços.

— Émile, você sabe que esse carregamento não é qualquer coisa. São fuzis automáticos de última geração. O preço é justo.

Inclinei-me na cadeira, acendendo um cigarro e soltando a fumaça lentamente.

— O preço pode ser justo para você, mas eu sou quem decide o que vale ou não. N'oubliez pas que ma parole fait loi ici, camarade (Não esqueça que minha palavra é lei aqui, camarada).

Ele riu, mas havia tensão no ar.

— E se eu não concordar?

Dei um sorriso frio.

— Então você volta para casa de mãos vazias. E eu garanto que ninguém mais vai fazer negócios com você nesta cidade.

Silêncio. Ele sabia que eu estava falando sério.

— Está certo. Negócio fechado.

—Excellent( Ótimo ). — Apaguei o cigarro no cinzeiro. — Meu pessoal entrará em contato com o seu para acertar os detalhes.

Quando ele saiu, levantei-me e fui até a janela. Foi aí que percebi. Um carro parado na esquina. O mesmo que vi em dois outros locais hoje.

Sem demonstrar nada, peguei minha Glock, ajustei-a na cintura e saí calmamente do cassino. Caminhei em direção ao carro como se não notasse nada, mas no último segundo, acelerei o passo e saquei a arma, pressionando-a contra o vidro.

— Sors de la voiture, bon sang (Sai do carro, porra). — Minha voz era baixa, mas carregada de ameaça.

O homem dentro hesitou, tremendo enquanto abria a porta.

— Quem mandou você? — pressionei, segurando-o pelo colarinho e o empurrando contra a parede mais próxima.

— personne! je le jure (Ninguém! Eu juro)...

— Não minta pra mim, filho da puta. — A arma pressionava sua cabeça. — Fala logo, ou eu juro que vou te mandar pro inferno agora.

— Foi... foi uma mulher! — Ele finalmente cedeu.

— Que mulher? — minha voz era cortante.

— Anastásia... ela pediu pra te investigar.

Meu coração parou por um segundo, mas eu não demonstrei.

— Anastásia... — murmurei, mais pra mim mesmo.

Peguei o celular e a câmera dele, jogando ambos no chão e esmagando com o pé.

— Escuta aqui, se você falar pra ela ou pra mais alguém sobre isso, eu te cavo uma cova tão funda que nem os vermes vão te achar. E vou atrás da sua família também, as-tu compris( entendeu )?

O homem apenas balançou a cabeça, aterrorizado.

Voltei para minha Lamborghini, entrei no carro e acelerei, mas minha mente estava a mil. Anastásia. Droga. Soltei um soco no volante, soltando um palavrão.

— Que merda você está fazendo, Émile?

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Comments

Claudia

Claudia

Querido agora o negócio vai ficar mais interessante, tem o ex noivo aparecendo tem o Pierre que até que se prove o contrário é suspeito 🤔🤔♾🧿

2024-12-30

37

Elisabete Correia

Elisabete Correia

Émile agora a coisa vai esquentar, tem o Pierre com documentos comprometedores sobre os Castelli, o ex noivo da Olga mafiosa ( vulgo Anastácia) que vai aparecer e entornar o caldo..... põe sua barba de molho pq o bicho vai pegar

2025-02-16

1

Ana Lúcia De Oliveira

Ana Lúcia De Oliveira

Acredito que quando o Pierre descobrir tudo sobre os Castelli, ela vai abandonar o caso e sair da cidade, ainda acho que vai descobrir que está grávida

2025-02-09

0

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Atualizado até capítulo 71

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