CAPÍTULO 13#

O quarto estava mergulhado em um silêncio inquietante. As luzes amareladas lançavam um brilho suave, refletindo nos aparelhos médicos ao meu redor. O monitor cardíaco ao meu lado marcava um ritmo constante, quase hipnótico, mas nada dentro de mim parecia tão calmo. A cirurgia havia sido um sucesso, e embora a dor física fosse mais suportável agora, minha mente era um campo de batalha.

Claire estava sentada ao lado da cama, seus olhos fixos em mim. Ela insistira em ficar comigo o dia todo, mesmo quando eu tentei convencê-la de que estava bem.

— Você tem certeza de que não quer que eu passe a noite aqui? — ela perguntou, preocupação nítida em sua voz.

Eu forcei um sorriso, tentando parecer mais forte do que me sentia.

— Não é necessário, Claire. Você já passou o dia inteiro aqui. Vá para casa, descanse.

— Tem certeza? — Ela insistiu, mordendo o lábio. — Eu não me importo de ficar.

— Eu ficarei bem. Além disso, há agentes na porta. — Apontei com a cabeça na direção da entrada. — Eles estão aqui para me proteger.

Ela hesitou por mais alguns segundos antes de suspirar, relutante.

— Certo, mas se precisar de qualquer coisa...

— Eu te ligo. Prometo.

Ela se levantou, deu um beijo rápido na minha testa e saiu, deixando-me sozinha com meus pensamentos.

.......................

Horas depois

Acordei com um sobressalto. Não sabia o que me despertou de imediato, mas então vi uma silhueta no canto do quarto. Meu coração disparou, e minha mão instintivamente foi para o botão de emergência, mas a voz veio antes.

— Bonsoir, princesse (Boa noite, princesa).

Meu coração deu um salto, e reconheci a figura que se aproximava lentamente.

— Émile? — perguntei, surpresa.

Ele estava lá, no quarto, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Nas mãos, segurava algo que chamou minha atenção: uma rosa negra, única, perfeita em sua escuridão.

— O que está fazendo aqui? Como entrou? — Perguntei, ainda incrédula.

Ele sorriu, aquele sorriso irritantemente charmoso que parecia tão natural em seu rosto.

— Aproveitei uma distração dos guardas. Não podia deixar minha vizinha favorita sozinha. — Sua voz carregava aquele tom sarcástico e provocador.

Ele estendeu a rosa para mim. Era misteriosa, quase hipnotizante.

— Achei que combinava com você. Fort, unique(Forte, única...) e, bem, um pouco perigosa.

Segurei a rosa, os dedos roçando nos dele por um breve momento. Apesar de tudo, um pequeno sorriso surgiu em meus lábios.

— Você tem um jeito peculiar de demonstrar preocupação, sabia?

— Ça fait partie de mon charme (Faz parte do meu charme). — Ele deu de ombros, como se fosse óbvio.

— Como você conseguiu convencer os guardas?

— Não precisei convencê-los, só distraí-los. Você ficaria surpresa com o que algumas palavras e um pouco de... improviso podem fazer.

Suspirei, balançando a cabeça.

— Insuportável como sempre.

Ele puxou uma cadeira e se sentou ao lado da cama, cruzando as pernas como se estivesse em casa.

— Então, como você está, Chérie? — perguntou, a voz carregada de algo mais suave, quase genuíno.

— Melhor do que ontem. — Respondi, dando de ombros. — Mas isso não é exatamente difícil, considerando o estado em que cheguei.

Ele ficou em silêncio por um momento, os olhos analisando meu rosto.

— Quem fez isso com você?

Hesitei. Não sabia até onde poderia confiar nele, eu mal o conhecia.

— Consequências do trabalho.

— E que trabalho é esse que coloca você em uma cama de hospital?

— Sou juíza.

Seus lábios se curvaram em um sorriso de surpresa.

— Une juge? Fascinante.

— Fascinante? — arqueei uma sobrancelha.

— Digamos que eu não imaginava uma juíza como você.

— E como você imaginava?

— Velha, rabugenta, rígida. Você é... bem, o oposto.

Revirei os olhos, mas não consegui conter o sorriso.

— Quem fez isso comigo estão presos agora. Pagando pelo que fizeram.

Ele inclinou a cabeça, o sorriso se tornando algo mais enigmático.

— Tenho certeza de que estão pagando... muito bem.

O tom dele me desconcertou por um momento, mas logo voltei ao normal. Conversamos por mais alguns minutos, e o clima entre nós, para minha surpresa, ficou leve. Agradável.

Mas a tranquilidade foi interrompida quando a porta do quarto se abriu.

Pierre entrou, e sua expressão mudou ao ver Émile.

— Posso entrar? — ele perguntou, a voz séria.

O olhar de Émile endureceu, avaliando Pierre com algo que eu não conseguia identificar.

— Quem é esse? — Pierre perguntou, desconfiado.

— Meu vizinho, Émile.

Pierre entrou, visivelmente incomodado.

— Podemos conversar a sós, Anastásia?

Olhei para Émile, que permaneceu imóvel, me observando, sério.

— Claro. — Virei para ele. — Émile, pode nos dar um momento?

Ele se levantou com calma, ajustando o casaco antes de me lançar um último olhar.

— Como quiser, Anastásia.

Ele saiu, mas não sem antes lançar um último olhar gélido para Pierre. O ar parecia mais pesado agora, e eu sabia que o que viria a seguir não seria nada agradável.

— Não sabia que você já tinha feito amigos no novo apartamento, Anastásia. — Sua voz carregava um tom casual, mas o olhar denunciava algo mais profundo, algo que ele não dizia.

Eu ri, tentando aliviar o peso no ar.

— Amizade é uma palavra forte para descrever Émile... — Me ajeitei no travesseiro, ignorando o incômodo da sutura em meu ombro. — Mas você não veio aqui para fofocar sobre meu vizinho, certo? O que aconteceu?

Pierre parou ao lado da cama, cruzando os braços, mas não respondeu imediatamente. Sua mandíbula estava travada, e seus olhos evitaram os meus.

— Pierre, fala logo. — Minha voz saiu mais firme do que eu pretendia.

Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos antes de finalmente me encarar.

— Os prisioneiros. — Ele fez uma pausa, como se escolhesse cuidadosamente as palavras. — O comboio que estava transferindo eles, foi interceptado.

Meu coração parou por um instante.

— Interceptado? Como assim?

— Um grupo armado, encapuzado, altamente treinado. Eles não deixaram rastros, Anastásia. Nem um rastro.

— Então você está me dizendo que aqueles homens... fugiram?

— Talvez. — Ele apertou os punhos. — Ou foram executados. Não sabemos. Pode ter sido uma fuga planejada ou uma retaliação.

— Vocês não têm ideia de quem está por trás disso? Nenhuma pista?

— Não. — Pierre balançou a cabeça. — Apenas que o ataque foi rápido, cirúrgico. Quem quer que tenha feito isso sabia exatamente o que estava fazendo.

Eu engoli em seco, lutando contra a sensação de impotência.

— E agora?

— Agora, reforçamos sua segurança. Eles podem estar mortos, mas se não estiverem, há uma chance de quererem terminar o que começaram.

Quando saí do quarto de Anastásia, uma onda de frustração me atingiu. Minhas mãos ainda estavam nos bolsos, mas os punhos cerrados denunciavam o que eu sentia.

Por que eu estava tão incomodado? Desde quando me importava se uma mulher preferia a companhia de outro homem? Era patético, para dizer o mínimo. Não sou do tipo que se prende a sentimentalismos, muito menos a uma mulher que mal me suportava.

Mas, por alguma razão, o modo como ela olhou para aquele cara me irritou. Era por causa dele que ela se afogou na bebida naquela noite? foi para esquecer ele que ela transou comigo? Minha mente estava a mil por hora.

Caminhei para fora do hospital, as luzes da rua piscando ao longe. Liguei minha Kawasaki, o som do motor preenchendo o vazio ao meu redor. Acelerei com força, cortando o vento, tentando sufocar os pensamentos que insistiam em me atormentar.

Lembrei dos dois desgraçados que ousaram machucá-la. Não tive pressa com eles. Cada grito foi como música, cada pedido de clemência uma sinfonia que me dava prazer em recusar. No final, seus corpos flutuaram pelo rio, sem chance de retorno. Esse foi o fim daqueles desgraçados.

Cheguei ao cassino, meu refúgio e minha prisão. O ambiente estava lotado, risadas falsas e música preenchendo o ar. Caminhei até o bar, pegando uma garrafa de uísque sem me preocupar com um copo.

— Monsieur Émile, tudo bem? — um dos funcionários perguntou, mas eu apenas balancei a cabeça, dispensando-o.

Sentei em um dos sofás de couro, observando o movimento ao meu redor. Mulheres dançavam, homens apostavam, e o dinheiro fluía como um rio incessante.

— Você parece tenso. — A voz feminina puxou minha atenção.

Era Lila, uma das mulheres que eu costumava chamar para aliviar a tensão. Ela sentou ao meu lado, sorrindo enquanto derramava mais uísque no meu copo.

— Não estou de bom humor, Lila. — Minha voz saiu seca, mas ela não se abalou.

— Talvez eu possa ajudar. — Ela se aproximou, os dedos deslizando pelo meu braço.

Antes que ela pudesse ir mais longe, segurei seu pulso e o apertei, puxando-a para mais perto. Minhas mãos foram para seu pescoço, firme, mas sem machucá-la.

— Você acha que pode me fazer esquecer, Lila? — murmurei, meu rosto a centímetros do dela.

Ela riu, mas havia nervosismo em seus olhos.

— Eu posso tentar.

Eu fiquei ali, encarando-a, sentindo seu perfume e o calor de sua pele. Era isso que eu fazia, não era? Eu usava as pessoas, as descartava, sem me importar. Era o que eu era.

Mas, naquele momento, algo dentro de mim hesitou. Meus olhos se fixaram nos dela, mas não era Lila que eu via. Era a droga daquela mulher, Anastásia.

Soltei-a bruscamente, empurrando-a para longe.

— Sortez d'ici (Sai daqui). — Minha voz era baixa, mas o tom gelado a fez recuar.

— Émile, eu só...

— Eu disse, SAI!

Ela se levantou apressadamente, me lançando um último olhar antes de desaparecer na multidão.

Fiquei ali, sozinho, encarando a garrafa de uísque.

— O que diabos você está fazendo? — murmurei para mim mesmo, jogando a garrafa contra a parede. O vidro estilhaçou, mas não me senti melhor.

Maldição. Algo estava mudando, e eu odiava isso. Anastásia estava mexendo com partes de mim que eu preferia manter enterradas. E isso... isso era inaceitável.

Mais populares

Comments

Eliene Calixto

Eliene Calixto

... E se chama amooorrrr, tomou conta do meu seeeer, dia a dia, pouco a pouco, já estou ficando louco, com vontade de vocêeeeee kkkkkk Essa música é pra vc Émile kkkkk

2024-12-27

46

Dora Henrique

Dora Henrique

Vou dizer uma coisa o amor para mim foi uma coisa que mi colocou no céu e depois mi conduziu para o inferno, e quando eu vim percebe eu já estava destruída, foi preciso muito acompanhamento psicológico para depois de um tempo eu poder dizer cara a cara a meu amor, seja feliz de a ela todos os filhos que nós nunca vamos ter e a faça feliz e não destrua ela como vc fez comigo, hoje eu procuro um companheiro, mas amor só se ama uma vez paixões temos muitas más amor não pelo menos ele descobrindo e no final espero que os dois terminem juntos

2025-02-08

3

Joselma Trajano

Joselma Trajano

de uma coisa e fato os Castelli são fiéis , o Damian , o Louis e agora o Emile , quando começam a amar mulher nenhuma encanta mais

2025-02-12

0

Ver todos
Capítulos
Capítulos

Atualizado até capítulo 71

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!