CAPÍTULO 10#

O quarto estava em penumbra, com as primeiras luzes da manhã atravessando as cortinas parcialmente fechadas. Meu corpo estava quente, meus músculos ainda lembravam o que aconteceu horas antes. Mas assim que olhei para o lado e vi Émile dormindo, a realidade bateu com força.

"Que merda eu fiz?", pensei, sentindo meu peito apertar.

Levantei devagar, o coração martelando enquanto puxava o robe que ele tinha arrancado sem a menor cerimônia na noite anterior. A camisola estava no chão, amarrotada, como minha dignidade. Vesti-me às pressas e, antes de sair, lancei um último olhar para ele.

Ele não se mexeu, mas algo no jeito como ele respirava fez meu coração acelerar. Eu precisava sair dali antes que ele acordasse .

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Mais tarde

O café estava lotado, mas nossa mesa em um canto oferecia uma certa privacidade. Claire mexia distraidamente no café enquanto eu tentava focar em qualquer coisa que não fosse a noite passada.

— Você transou com seu vizinho? — A voz dela foi baixa, mas carregada de choque. Seus olhos estavam arregalados.

— Fala baixo, Claire! — Respondi rápido, olhando ao redor para garantir que ninguém estivesse ouvindo. Inclinei-me sobre a mesa, tentando manter a compostura. — Foi... um deslize. Só isso.

— Um deslize? Anastásia, você nunca faz essas coisas!

Suspirei, cruzando os braços e apoiando-os na mesa.

— Eu sei, Claire. Não é o tipo de coisa que eu faço, mas...

Ela levantou a sobrancelha, esperando que eu completasse.

— Confesso que foi... — Eu hesitei, olhando para a minha xícara de café, como se ela fosse responder por mim. — Foi bom, ok?

O rosto dela se iluminou com uma mistura de surpresa e diversão.

— Bom? Tipo... bom o suficiente para valer o risco?

Eu ri sem querer.

— Mais do que bom. Ele é... intenso, Claire. Do tipo que faz você perder a cabeça.

Ela inclinou-se mais para perto, um sorriso malicioso surgindo em seus lábios.

— Tá, agora me conta: ele é gostoso? Charmoso? O que ele tem?

Minha mente foi invadida pelas imagens da noite anterior. A forma como ele me tocava, o jeito que ele falava comigo, a força que ele usava ao me puxar, os beijos...

— Ele é... sensacional. Charmoso, sim. E irresistível de um jeito que não deveria ser. — Admiti, soltando um suspiro. — Mas acabou. Foi só uma noite. Nunca mais vai acontecer.

Ela riu, claramente não convencida. Antes que pudesse insistir, Pierre apareceu.

— Senhoritas. — Ele cumprimentou com um sorriso tranquilo, colocando a pasta preta na mesa antes de se sentar. — O que estão conspirando?

Claire respondeu sem perder a pose.

— Coisa de mulher.

Pierre arqueou uma sobrancelha, mas não comentou. Ele abriu a pasta e espalhou documentos e fotos sobre a mesa.

— Temos o que precisamos. — Ele apontou para as imagens dos políticos investigados em situações comprometedoras. — As provas são sólidas. Podemos emitir os mandados hoje mesmo.

Senti uma onda de satisfação misturada com cansaço.

— Finalmente. — Murmurei, pegando uma das fotos e analisando-a.

Pierre sorriu, fechando a pasta com um gesto decidido.

— Acho que isso merece uma comemoração. O que acham de jantar no La Belle Époque esta noite?

Claire abriu um sorriso largo.

— Um restaurante caro? Eu aceito.

Concordei, embora minha mente ainda estivesse longe, e não era em Pierre.

Quando acordei, o lado da cama estava vazio. Ela tinha ido embora. Não deixou um bilhete, nada. Só o maldito cheiro dela ainda preso aos lençóis.

Talvez fosse melhor assim. Ela não precisava saber o tipo de homem que eu realmente era, e eu não podia correr o risco de me apegar.

Passei o dia no Mirage Noir, no salão privado, analisando um novo lote de armas. Jules e Hugo estavam comigo, explicando cada detalhe.

— Estas são as M1911 com silenciador embutido. Compactas e eficientes. — Jules apontou para uma das armas, enquanto Hugo abria outra caixa.

— E aqui temos o lote especial que veio diretamente do Leste Europeu. — Hugo completou, mostrando rifles modificados.

Peguei uma das pistolas, testando o peso e o equilíbrio.

— Bon travail (Bom trabalho). Vendam rápido. Não quero esse estoque parado.

— Nous avons déjà des intéressés. (Já temos interessados). — Jules respondeu com um sorriso.

À noite

O La Belle Époque era tudo que se esperava de um restaurante cinco estrelas: requintado, elegante e cheio de gente que parecia respirar poder. Sentada à mesa com Pierre e Claire, eu tentava parecer relaxada, mas minha mente ainda estava bagunçada.

A conversa fluía normalmente, com Claire brincando sobre como ela precisava de um salário maior para frequentar lugares como aquele.

Mas, de repente, o som de vidro estilhaçando interrompeu o ambiente tranquilo.

— Descendre (Abaixe-se)! — Pierre gritou, puxando sua arma enquanto as pessoas começavam a gritar e correr.

Tentei me mover, mas antes que pudesse reagir, um impacto quente atravessou meu ombro. A dor foi instantânea e excruciante.

— Anastásia! — Claire gritou, mas o som dela parecia distante.

Eu caí no chão, o rosto contra o mármore frio enquanto meu sangue manchava o chão ao redor. Meus olhos começaram a pesar, e a última coisa que vi foi Pierre atirando contra os homens encapuzados que invadiram o restaurante.

Então, tudo ficou escuro.

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