A noite estava tranquila. Finalmente de volta ao meu apartamento, eu aproveitava o silêncio para me perder em um livro. As palavras dançavam na página, mas minha mente teimava em vagar. Era como se a tensão dos últimos dias ainda estivesse me rondando, como um vulto no escuro.
Meu telefone vibrou na mesinha ao lado. Suspirei antes de alcançá-lo, já esperando alguma mensagem trivial.
Era Claire.
"Você viu o que o Pierre publicou?"
Franzi o cenho, confusa, e rapidamente abri as redes sociais. Minutos depois, lá estava. A foto que parecia ter congelado meu coração por um instante.
Pierre com outra mulher. Os dois juntos, sorrindo como se o mundo fosse perfeito. A legenda era curta, mas clara. Ele estava assumindo um relacionamento.
Fechei os olhos por um momento, tentando controlar a onda de emoções que veio à tona. Não era como se eu não soubesse que isso podia acontecer. Pierre e eu nunca fomos mais do que amigos. Mas vê-lo com outra pessoa doía de uma forma que eu não esperava.
Empurrei o livro de lado e me levantei. Fui até a cozinha e peguei uma garrafa de vinho. Não me dei ao trabalho de pegar uma taça. Apenas tirei a rolha e tomei um longo gole direto da garrafa, sentindo o calor do líquido deslizar pela garganta.
O apartamento parecia sufocante. Eu precisava sair.
Sem pensar muito, vesti um robe leve sobre a camisola e desci para o térreo. O prédio estava silencioso, e a luz suave da piscina iluminava o ambiente com um brilho sereno. Caminhei até a beira da água, sentando-me em uma espreguiçadeira enquanto olhava para o céu.
A noite estava clara, as estrelas salpicando o céu escuro como pequenos pontos de luz. Tomei mais um gole de vinho, tentando afogar o aperto no peito que parecia crescer a cada minuto.
— Esqueça, Anastásia... — Murmurei para mim mesma, minha voz carregada de uma mistura de frustração e melancolia.
Mais um gole. Mais uma tentativa de esquecer.
A noite estava estranhamente calma. Eu tinha acabado de chegar no prédio, precisando de silêncio pra colocar minha cabeça no lugar depois de mais um dia lidando com idiotas nos cassinos. Mas quando passei pelo térreo, algo chamou minha atenção.
Lá estava ela.
Anastásia. Sentada perto da piscina, com um robe que não escondia quase nada e uma garrafa de vinho na mão. Os cabelos caíam sobre os ombros, e ela olhava pro céu como se o mundo inteiro estivesse girando ao redor dela.
Porra. Ela tinha um jeito de encher o lugar, mesmo sem fazer nada.
Parei, encostando na parede e cruzando os braços, observando por alguns segundos. Parecia que ela estava lutando com alguma coisa na cabeça. Não era da minha conta, mas... droga. Algo em mim não conseguia simplesmente ignorar.
— Então é assim que você afoga seus problemas, Princesse? — Perguntei, com o tom provocador que ela tanto odiava, enquanto me aproximava devagar.
Ela virou o rosto na minha direção, os olhos semicerrados.
— Você sempre aparece nos piores momentos. — A voz dela era firme, mas dava pra perceber que o vinho já estava fazendo efeito.
— Talvez os piores momentos sejam os melhores pra mim, non? — Dei um sorriso de lado, me abaixando pra ficar na altura dela. — Tá bebendo sozinha ou tá esperando alguém?
Ela suspirou, irritada, e deu mais um gole na garrafa antes de me encarar.
— Sozinha. E, se você não percebeu, eu gosto de silêncio.
— Ah, silêncio é superestimado. Além disso, você não parece o tipo que gosta de solidão.
Ela revirou os olhos, mas não respondeu. Peguei uma cadeira próxima e me sentei, ignorando completamente a ideia de que talvez ela não quisesse companhia.
— Tá bom, Chérie. O que foi? Alguém irritou você? Ou é só o vinho que tá ruim?
— Meu vinho é perfeito. Diferente da sua companhia.
Ri baixo, acendendo um cigarro e soltando a fumaça devagar.
— Tô começando a achar que você não gosta de mim.
— E eu tô começando a achar que você é mais insistente do que parece.
Ficamos em silêncio por um momento, mas eu percebia o olhar dela me analisando de vez em quando. Ela era difícil de decifrar, mas havia algo quebrado ali. Algo que a fazia beber sozinha no meio da noite, olhando pro céu como se esperasse respostas que nunca viriam.
— Voulez-vous partager cela ou allez-vous être égoïste (Quer dividir isso aí ou vai ser egoísta)? — Apontei pra garrafa de vinho na mão dela.
— Você não tem sua própria bebida?
— Tenho. Mas a sua parece melhor.
Ela hesitou, mas, surpreendentemente, estendeu a garrafa pra mim. Tomei um gole e fiz uma careta exagerada.
— Mon dieu, como você consegue beber isso? Parece vinagre.
Ela riu, pela primeira vez naquela noite. Um som baixo, mas que me pegou de surpresa.
— É porque você não entende de vinho.
— Mas entendo de companhia. E, porra, você não parece gostar muito da sua própria.
— Talvez porque a companhia seja uma constante decepção.
Fui até o bar perto da piscina e peguei uma garrafa de whisky. Voltei e me sentei ao lado dela, sem pedir permissão.
— Tá bom, já que você tá afundando seus problemas no vinho, eu vou afundar os meus no whisky.
Ela soltou uma risada, mas estava com o olhar perdido, segurando o vinho como se fosse a única coisa que a mantinha firme.
— Deixa eu adivinhar... — comecei, soltando a fumaça do cigarro enquanto encostava no encosto da cadeira. — Tá aqui, bebendo e encarando o vazio, porque algum babaca partiu seu coração?
Ela franziu o cenho, visivelmente irritada, mas havia algo nos olhos dela. Algo que confirmou minha suspeita.
— E o que te faz pensar isso? — Ela perguntou, tomando um gole longo do vinho, tentando parecer indiferente.
Dei de ombros, com um sorriso de canto.
— Porque já vi esse filme antes, Chérie. Já vi muitos homens se destruindo por isso. É por essas e outras que eu não acredito nessa porra de sentimentos. Tudo sempre acaba dando merda.
Ela me olhou, como se considerasse a resposta.
— Não é como se eu fosse uma romântica. — Ela respondeu, com um tom de sarcasmo. — Mas acho que você tem razão. Sentimentos só complicam tudo.
Levantei uma sobrancelha, genuinamente surpreso.
— Nous sommes donc d'accord (Então estamos de acordo)?
— Acho que sim. — Ela soltou um suspiro leve, como se aquilo fosse um alívio. — Às vezes, as coisas só precisam ser... simples. Sem expectativas, sem cobranças.
— Exactement (Exatamente). — Concordei, inclinando-me pra frente, olhando diretamente pra ela. — Só curtir. Transar sem compromisso. Tudo que vai além disso se torna um problema .
Ela ficou em silêncio por alguns segundos, como se processasse o que eu disse, e depois riu baixo, balançando a cabeça.
— Você é direto...
— Eu sou honesto. — Respondi, sem desviar o olhar. — E você devia experimentar isso mais vezes, Chérie.
Ela soltou uma risada baixa, mas não disse nada. Passamos os minutos seguintes bebendo, sem muitas palavras. A tensão inicial parecia ter sumido, e, por um momento, a noite ficou mais... Interessante.
Depois de algum tempo, levantei-me, estendendo a mão pra ela.
— Vamos.
— Pra onde?
— Qualquer lugar. Aqui tá chato.
Ela hesitou, mas acabou aceitando minha mão. O toque dela era quente, suave, e algo dentro de mim sabia que aquilo ia dar merda.
No elevador
Ela se encostou na parede, soltando um suspiro enquanto eu apertava o botão. Era pra ser simples, mas nada com essa mulher era simples.
— Você acha que sou atraente, Émile? — A pergunta saiu do nada de seus lábios como um veneno doce.
Merde...
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Atualizado até capítulo 71
Comments
Claudia
O que um pouco de álcool não faz🤭🤭deixa a pessoa mais solta🤭🤭♾🧿
2024-12-30
34
Marta Klemp
vdd o álcool é companheiro das decisões e das vontades ocultas ou vingança de alguém e no final quem se lasca e o próprio vingafor
2025-02-17
1
Maria Elisa Simões
Mas se ela tava na fossa o que Emile tinha a ver com isso.nada né mas como dis o ditado né.leva pra curtir a noite acaba na cama.ai se apaixona e da merda
2025-02-14
1