CAPÍTULO 7#

Negócios eram a única coisa que realmente me fazia levantar da cama. Naquele dia, liguei a moto e rumei para a mansão de Clément Dummont, meu pai. Ele tinha chamado para “conversarmos” sobre os cassinos.

Quando cheguei, o mordomo abriu os portões e me cumprimentou com a mesma reverência de sempre. A mansão do velho era um monumento ao luxo, mas pra mim era só uma lembrança de um lar vazio.

Clément estava no escritório, uma taça de vinho em uma mão e um maço de papéis na outra. Quando entrei, ele levantou os olhos, e o silêncio entre nós durou alguns segundos. Ele nunca me cumprimentava com sorrisos ou abraços. Não era do seu feitio.

— Émile, pontual como sempre. — Ele comentou, puxando um charuto da gaveta.

— Claro. Tempo é dinheiro, non?

Sentei na poltrona de couro de frente para ele. A conversa começou leve, superficial, sobre os lucros do cassino.

— Estamos com 20% a mais de lucro este mês. — Informei, enquanto ele acendia o charuto. — Seus números estão brilhando, Clément.

Ele assentiu, satisfeito, mas então sua expressão endureceu.

— Émile, preciso te alertar. Esse seu envolvimento com o tráfico de armas... está ficando perigoso.

Eu sorri de canto, um sorriso cheio de desdém.

— Isso é engraçado, vindo de você. Sempre soube onde estava me metendo.

— Eu quero que você cuide dos cassinos. Só dos cassinos. Isso é mais do que suficiente.

Minha paciência já estava curta. Cruzei as pernas e mantive o tom frio.

— Já deixei claro: minha prioridade é a família Castelli. Se você quer que eu administre os cassinos, vai ter que aceitar que eles são parte do jogo. Armas passam por eles, pai. É assim que funciona.

Ele me encarou com aquela expressão de “você é teimoso como a sua mãe”. Mas não respondeu. Sabia que eu não mudaria de ideia.

Antes que a tensão aumentasse, meu irmão mais novo, Enzo, entrou no escritório sem bater, segurando uma garrafa de champagne e sorrindo como um idiota.

— Ah, irmãozão! Tá salvando o império da família? — Ele riu, caindo numa poltrona com o peso de quem nunca fez nada útil na vida.

— Tenta não gastar o lucro do mês antes dele chegar ao banco, Enzo. — Respondi, sem esconder o sarcasmo.

Clément suspirou, exausto. Era sempre assim quando Enzo aparecia. Não perdi mais tempo ali. Me despedi com um aceno seco e saí antes que meu irmão conseguisse dizer algo mais estúpido.

O dia tinha sido longo, mas finalmente eu estava de volta ao meu carro, dirigindo para o apartamento. A ideia de dormir na minha própria cama outra vez era tentadora, mas ainda sentia um desconforto estranho.

Estacionei e entrei no edifício. O elevador estava vazio, e eu agradeci pelo momento de paz. Apertei o botão para o meu andar e esperei, mas, antes que as portas se fechassem completamente, uma mão surgiu, impedindo que o elevador subisse.

Levantei o olhar, e lá estava ele. O vizinho. Aquele. O irritante, sorridente e insuportável. Ele entrou sem pedir licença, como sempre, e se encostou na parede oposta.

— Bonsoir, Princesse.

Não respondi. Não era uma conversa que eu queria ter.

Entrei no maldito elevador como quem não quer nada. Podia ter pego outro, claro. Mas quando a vi ali, sozinha, parada no canto com aquele ar de quem carrega o mundo nas costas, eu soube que não ia resistir. Algo em mim precisava provocá-la, sentir o gosto do desafio que ela sempre carregava nos olhos.

A porta se fechou, e o silêncio no pequeno espaço parecia denso. Encostei na parede oposta, as mãos nos bolsos, meu olhar cravado nela. Ela fingia que eu não existia, os olhos fixos no painel como se aquilo fosse a coisa mais interessante do mundo.

Sorri de canto.

— Bonsoir, Princesse. — Minha voz saiu baixa, carregada de malícia.

Nenhuma resposta. Nem sequer um desvio de olhar.

— Não tá com vontade de conversar hoje? — Inclinei a cabeça, observando cada detalhe do rosto dela.

Ela continuou imóvel, os lábios comprimidos, como se ignorar fosse sua melhor arma.

— Ou tu fais juste comme si tu ne m'avais pas entendu ( Ou tá só fingindo que não me ouviu )? — Completei, o tom agora um pouco mais debochado.

Ela respirou fundo, claramente irritada, mas permaneceu calada. Ah, então ela queria brincar de silêncio? Muito bem.

O elevador subiu mais dois andares antes de um solavanco repentino. A cabine tremeu e parou bruscamente, jogando-a levemente para frente. Ela tentou se segurar, mas acabou se desequilibrando.

Antes que caísse, meus reflexos assumiram o controle. Segurei-a pelo braço, puxando-a de encontro ao meu corpo. Porra, a sensação foi instantânea, como um choque elétrico. A pele dela era quente, macia, e o perfume, ah aquele maldito perfume, parecia brincar com a minha sanidade.

Ela ergueu os olhos para mim, surpresa, e por um instante, ficamos assim. Olhos nos olhos, nossas respirações tão próximas que eu podia sentir o calor do ar que ela exalava.

— Droga... — Ela murmurou, tentando se afastar.

Eu a soltei devagar, mas não sem relutância.

— Parece que estamos presos, ma chère( minha querida ). — Disse, o tom carregado de ironia.

Ela se ajeitou, cruzando os braços como se quisesse criar uma barreira entre nós.

— Não tem graça nenhuma nisso.

— Ah, mas eu acho bem divertido. — Retruquei, me encostando na parede novamente.

Ela bufou, visivelmente irritada.

— Você é sempre assim?

— Assim como? — Perguntei, arqueando uma sobrancelha.

— Irritante.

Soltei uma risada baixa.

— Só com pessoas que chamam minha atenção.

Ela revirou os olhos, mas não respondeu. O silêncio voltou a reinar, mas eu não estava disposto a deixá-lo durar.

— Qual é o seu nome? — Perguntei, inclinando-me ligeiramente em sua direção.

Ela me olhou de canto, desconfiada.

— Por que quer saber?

— Porque é estranho chamar você de vizinha o tempo todo.

— Anastásia. — Disse, seca.

— Anastásia. — Repeti, como se ouvisse pela primeira vez, eu era um bom ator. — Bonito. Diferente.

Ela deu de ombros, mas não disse mais nada.

— Quer saber o meu? — Perguntei, inclinando a cabeça.

Ela hesitou por um segundo, antes de responder com desdém.

— Não.

Soltei uma risada, aproximando-me mais um passo.

— Émile. Agora você sabe, mesmo que não queira.

Ela me encarou, o olhar agora mais afiado.

— Que ótimo. Agora posso mandar prender você por importunação.

Inclinei-me ainda mais, até que nossos rostos estavam a poucos centímetros de distância.

— Prender, hm? Você deve ser poderosa pra isso.

Ela ergueu o queixo, desafiadora.

— Mais do que você imagina.

— Je n'appelle pas ( eu não ligo ). — Sussurrei, a voz carregada de provocação.

Minhas mãos pousaram na parede ao lado do rosto dela, prendendo-a no lugar. Ela não recuou. Não se intimidou. Isso só tornava as coisas ainda mais... excitantes.

— Você gosta de brincar com fogo, Anastásia? — Perguntei, minha respiração pesada misturando-se à dela.

Ela abriu a boca para responder, mas o elevador deu outro solavanco, e as luzes se acenderam novamente. O painel indicou que estávamos em movimento.

Eu me afastei devagar, um sorriso de canto brincando em meus lábios.

— Parece que a diversão acabou... por enquanto.

Ela me olhou, a respiração acelerada, mas não disse nada. Quando as portas se abriram, ela saiu, continuei parado, olhando para ela.

— Nos vemos, Anastásia. — Disse, minha voz cheia de malícia.

Subi para meu apartamento, satisfeito com o caos que tinha deixado para trás.

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Comments

Vanda Farias de Oliveira

Vanda Farias de Oliveira

É Emillie você sabe muito bem que encrenca esta se metendo /Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm/

2025-01-29

13

Elizabeth Da conceição

Elizabeth Da conceição

Émile não brinca,gosta de arrumar confusão,cuidado com Ana.
ela é furacão 😂😂😂😂

2025-03-07

0

Isa Abreu

Isa Abreu

Ele devia corre dela! mais ao invés disso ele a tá provocando, juízo nos pés.

2025-02-19

0

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Atualizado até capítulo 71

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